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11 de Outubro de 2013 às 12:51

A esquina do Rio

Parto deste princípio: no mundo contemporâneo, com o principal canal de distribuição de conteúdos a ser a Internet, quem não tiver uma produção regular audiovisual, perde identidade cultural, apaga o idioma e desaparece do mapa.

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Back to basics
A política é, talvez, a única profissão para a qual não é necessária nenhuma espécie de preparação.
Robert Louis Stevenson

 


Audiovisual
Parto deste princípio: no mundo contemporâneo, com o principal canal de distribuição de conteúdos a ser a Internet, quem não tiver uma produção regular audiovisual, perde identidade cultural, apaga o idioma e desaparece do mapa. A resolução para esta questão, decisiva nos nossos dias, não está na sobrevivência dos modelos antigos de serviço público audiovisual, mas sim numa perspectiva estratégica do desenvolvimento de uma indústria de conteúdos. Se numa série de actividades económicas se aceita que a iniciativa privada é mais criativa e eficaz que a estatal, por que é que, precisamente na mais determinante das indústrias no critério da consolidação da identidade cultural e linguística, se aposta no sector público? Este é o paradoxo de onde partem muitos equívocos - e maus resultados.
Não me cansarei de dizer que o serviço público de televisão não precisa de produzir mais, precisa é de ter uma ideia clara sobre o que deve programar, saber o que quer, e, em conformidade, desenvolver uma carteira de encomendas a produtores privados, independentes, que possam desenvolver industrialmente este sector. E só este desenvolvimento assegurará que teremos presença nos consumos audiovisuais, para além de festivais e jogos florais, para além das guerras de audiências efémeras. Se o Estado quiser que o serviço público de televisão desempenhe o seu papel, ponha-o a pensar, escolher e encomendar. E verá como a economia do sector cresce e os resultados aparecem. Vai demorar tempo, mas muito menos do que aquele que já se leva de não fazer nada.

 


Dixit
Não temos um Governo, temos um conjunto de pessoas agarrado a um manual de instruções.
Félix Ribeiro, economista

 

 

Semanada
l O Banco de Portugal alertou para os efeitos nocivos na economia de cortes salariais l Bispos portugueses manifestaram preocupação com os cortes nas pensões de sobrevivência e viuvez l o FMI reconheceu que a zona Euro pode precisar de mais tempo para reduzir défices, caso o crescimento económico seja pior que o esperado l quatro em cada dez pessoas tiveram corte de salário com a crise l Portugal importa 42 euros por cada 100 euros que exporta l o FMI considera que o aumento das exportações nos países periféricos da zona euro não compensa a quebra da procura interna l uma média de sete imóveis por dia é entregue à banca por incumprimento no pagamento dos empréstimos l referindo-se às afirmações de Rui Machete em Angola, um diplomata português afirmou ao "Público" que pedir desculpa "é uma expressão que não é do léxico da diplomacia" l o PSD ainda não sabe se algum dos três primeiros nomes da lista autárquica do partido no Porto vai assumir o cargo de vereador para o qual foi eleito naquele município l os depósitos dos particulares caíram 969 milhões em Agosto l as autarquias gastaram 29,2 milhões de euros em obras e iniciativas diversas nos últimos dias antes das eleições l Passos Coelho anunciou segundo orçamento rectificativo para este ano.

 

 

Arco da velha
O Supremo Tribunal Administrativo reconheceu que as feiras eróticas são arte e, como tal, devem ser taxadas como produtos culturais, ou seja, com a taxa mínima de 5% de IVA; os festivais e concertos de música são taxados a 13%, incluindo os bilhetes oferecidos e os convites.

 


Folhear
Esta semana, regresso à "Wallpaper" que, na sua edição de Outubro, tem editores convidados: o duo escandinavo Elmgreen & Dragset explora espaços e casas numa viagem entre o sonho e a realidade e a artista e fotógrafa norte-americana Laurie Simmons percorre fantasias com bonecas de prazer. São páginas desafiantes, graficamente bem pensadas, e inesperadas - o que se espera de uma boa revista. A "Wallpaper" tem voltado a melhorar nestes últimos meses e esta edição é, provavelmente, a melhor deste ano. Há bons artigos sobre o ressurgimento de Oslo e da Noruega, sobre Peter Saville, sobre os tapetes desenhados por Alexander McQueen. No que toca a arquitectura, design e interiores, a "Wallpaper" é uma das revistas incontornáveis. E, além disso, é muito engraçado seguir a evolução da qualidade da publicidade de algumas marcas nas suas páginas - por exemplo, a Hyundai está claramente num processo de reposicionamento bem pensado, desde o design dos novos modelos até às novas motorizações. Afinal, qual a revista onde os sapatos da Tod's coexistem com os ténis da Converse de forma perfeita?

 

 

Provar
Venho aconselhar-vos a experimentar os produtos da marca José. Isso mesmo: José. As embalagens têm um design fantástico e inesperado e os produtos no seu interior correspondem às expectativas. As conservas, por exemplo, são produzidas pela justamente famosa fábrica La Gondola, de Perafita, Matosinhos, fundada em 1940. A ideia da José é ir buscar produtos aos melhores fornecedores, embalá-los sob a sua própria marca e fazer uma oferta integrada, como compota de medronho, a célebre aguardente da Lourinhã e vinhos e licores diversos. O site www.josegourmet.com está muito bem organizado e tem bastante informação sobre os produtos disponíveis e os locais de venda. Nas conservas, destaque para as petingas picantes, as ovas de sardinha em azeite (há quem lhe chame o nosso caviar…), a ventresca de atum ou as cavalinhas em azeite - eu sou um fã de conservas e acho sempre que se a conserva for das boas, como estas, uma lata e uma salada resolvem uma refeição de última hora. Além disso, há azeites e vinagres de várias regiões, aguardentes, ginjas e moscatel, mel e compotas - como a tal de medronho. Eu encontrei os produtos na loja Gourmet do El Corte Inglés. Mas, pelo site, descobrem-se mais pontos de venda. E dá gosto pensar que no meio desta crise ainda há quem se atreva a concretizar boas ideias como esta.

 


Gosto

Do projecto "Do sonho à realidade" da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que se destina a proporcionar a idosos, utentes de lares ou de centros de dia, a concretização dos seus sonhos.

 


Não gosto

Da confusão e da demagogia existente em torno da peregrina ideia de uma manifestação em cima da Ponte 25 de Abril.

 

 

Ver

Não são muitas as exposições em que uma peça é avassaladora, conceptual e fisicamente. É uma peça invasiva, que se alonga por salas, ocupa o espaço e dá que pensar. O trabalho que André Banha desenvolveu, em termos de concepção e construção, ao longo de meses, pode finalmente ser visto na VPF Cream Art Gallery, na Rua da Boavista 84. Tradicionalmente utilizando a madeira, André Banha vai além do que lhe conhecíamos nesta obra - "revisito-me" - que é um ponto marcante da actividade desta galeria, este ano. Esta é daquelas exposições que ficará para a memória por causa de uma única peça. E mesmo que no edifício da VPF, o Transboavista, existam, também, neste momento, trabalhos incontornáveis de Jorge Feijão, Fabrizio Matos, Inez Teixeira, Tiago Duarte, ou Luís Alegre, a verdade é que a obra de André Banha se sobrepõe a todas as outras. E mesmo que agora ela passe despercebida, esta vai ser uma das ocasiões em que o tempo vai jogar a favor do risco. Um desafio.

 


Ouvir
Poucos discos, nos últimos meses, me fascinaram tanto como este - Peter Gabriel não deixa de surpreender, mesmo quando recorre a terceiros para nos agitar as memórias. Em 2010, Peter Gabriel desenhou a primeira parte deste projecto de troca de canções e chamou-lhe "You Scratch My Back". Agora aparece com "And I'll Scratch Yours" e vai bem mais longe. Ele interpreta temas de David Bowie, Paul Simon, Bon Iver, Lou Reed ou Arcade Fire, Regina Spektor ou Neil Young, entre outros, e reinterpreta os originais, não abdicando daquilo que são as suas marcas próprias, musicais e vocais. Ao mesmo tempo, neste duplo CD, do outro lado está um disco onde os autores interpretados se atiram ao cancioneiro de Peter Gabriel, várias vezes de forma absolutamente surpreendente. Nas 12 canções de Gabriel reinventadas, não há um falhanço - mas há momentos de génio, como "Blood Of Eden" por Regina Spektor, "Shock The Monkey" por Joseph Arthur, "Games Without Frontiers" pelos Arcade Fire, "Mother oF Violence" por Brian Eno e, sobretudo, as três últimas do disco, três pérolas raras: "Don't Give Up" por Feist e Timber Timbre, um irreconhecível "Solsbury Hill" por Lou Reed e um emotivíssimo e simples "Biko" por Paul Simon. Duplo CD Realworld/Universal. Se querem saber, este disco, sendo de versões, tem mais novidade que muitos originais e é um dos candidatos a disco do ano - espantoso o que se pode fazer a reciclar material alheio sem fazer sucatices.

 

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