Opinião
A esquina do Rio
Não sei bem que vos diga. A OCDE olha para as previsões que a troika obrigou o Governo a assumir, comenta o assunto com desprezo e ouve-se um sibilino "ni hablar".
Devemos perdoar sempre os inimigos: não há nada que os incomode mais.
Oscar Wilde
Desabafo
Não sei bem que vos diga. A OCDE olha para as previsões que a troika obrigou o Governo a assumir, comenta o assunto com desprezo e ouve-se um sibilino "ni hablar". Por todo o lado vejo anúncios de greves e constato que o novo líder da UGT se deixou cair na tentação de deixar de ter agenda e posição própria. Por estes dias decorre uma reunião de esquerdas cujo programa é evitar qualquer mudança - e dou comigo a concordar com um texto de Henrique Monteiro, no "site" do "Expresso", onde ele elabora sobre o conservadorismo de uma esquerda que se preocupa mais com a própria defesa do que em olhar para os desprotegidos da sociedade. Um pouco à frente leio que os professores vão fazer greve no dia dos exames, e pergunto-me se não lhes ocorre que estão a desprezar os alunos. No Governo vou vendo que Passos Coelho vai metendo umas discretas farpas em Vítor Gaspar a propósito da CGD e do prazo de cumprimento da meta do défice, e sinto um ruidoso mar de silêncio da maioria do elenco do Executivo, como se eles próprios tivessem já baixado os braços. Se olhar para a acção do Governo nestes meses, vejo um rasto de destruição, mas muito poucos sinais de alguma coisa nova construída. Falo com pessoas de várias gerações que não encontram rumo, nem perspectiva, nem - e isto é o pior - vontade de ter confiança. Um amigo meu dizia-me há dias que a única luz ao fundo do túnel é a de uma locomotiva alemã que nos vai passar por cima. Começa a ser difícil não concordar com ele.
Provar
Decididamente estou a fazer revisão da matéria dada - num regresso ao "Apuradinho", em Campolide, tirei a barriga de misérias com um dos meus petiscos preferidos: pivetes. Para quem não sabe, pivetes são os bocados de rabo de boi, devidamente cozinhados, estufados. No "Apuradinho" pode pedi-los com osso ou desossados, só com a carne a navegar no molho, saborosíssimo. Para a mesa vem um tachinho com os pivetes, acompanhados por puré de batata caseiro. A combinação é fantástica e é um verdadeiro exemplo da arte culinária ribatejana - já que o petisco se fez gente por lá. O "Apuradinho" fica na Rua de Campolide 209 e tem o telefone 213 880 501. Na minha lista de preferências desta casa estão também as iscas e os pastéis de bacalhau - daqueles de chorar por mais, acabadinhos de fazer, acompanhados por arroz solto de tomate.
Arco da velha
Em Vinhais uma professora foi acusada de morder um aluno de sete anos "para mostrar como dói", depois de a criança ter mordido um colega.
Ver
Na Galeria João Esteves de Oliveira estão por estes dias dois autores, Jorge Nesbitt e Ângela Dias, sob o título "Dois Em Um". Nesbitt abandona aqui o rumo dos seus trabalhos anteriores e apresenta guaches, simples, a lembrar exercícios de formas e cores, com algo de oriental. Ângela Dias faz desenhos em que se desenrolam pequenas histórias e as obras que expõe são baseadas na combinação da escrita com a imagem, palavras desenhadas em torno de figuras, folhas que evocam páginas de cadernos ou de um diário, graficamente muito apuradas, envolventes e algo misteriosas - num contraste com desenhos de maiores dimensões que parecem anunciar personagens recorrentes das histórias desenhadas. Até 28 de Junho, de terça a sábado, na Rua Ivens 38.
Ler
Duas mulheres ao telefone, durante duas horas seguidas, falam de quê? A resposta está em "Quando A Chuva Parar", de Joana Pereira da Silva, uma argumentista que se estreia neste formato de pequeno conto, numa nova colecção, com livros de menos de cem páginas, e que se destina a ser lida nas deslocações diárias. Se alguma vez sentiu desejo de ser mosca para ouvir uma conversa solta entre duas amigas, aqui está a forma de resolver essa vontadinha. Maria e Teresa desbobinam as suas memórias de juventude numa conversa que decorre enquanto Maria vem de carro, numa noite chuvosa, do Porto para Lisboa, depois de uma discussão com o marido. A escrita tem ritmo, imagina-se com facilidade duas actrizes a representar a situação. A ideia desta colecção é muito engraçada - livros que se lêem depressa, e a ideia deste livro em particular ainda é mais sedutora: espreitarmos uma conversa. A colecção chama-se "Poucas Palavras, Grande Ficção" e tem a chancela da Guerra e Paz.
Dixit
"Às vezes acordo e constato que vivo num país onde o primeiro-ministro é Passos Coelho, o candidato à sua substituição é António José Seguro e o Presidente da República é Cavaco Silva. Só pode ser um pesadelo".
Miguel Sousa Tavares, no "Expresso".
Gosto
Da actuação do Secretário de Estado do Turismo, a facilitar o acesso às actividades marítimo-portuárias para combater a sazonalidade da procura turística no litoral.
Não gosto
Da reacção da Presidência da República a uma entrevista de Miguel Sousa Tavares, indo fazer queixinhas à Procuradoria-Geral da República.
Ouvir
Jamie Cullum deixou-se de citar os clássicos do jazz vocal e, ao sexto álbum, fez o seu disco mais atrevido - e interessante: "Momentum". Ouso dizer que isto é um trabalho pop, como era o jazz que se dançava e enchia as noites de ritmo. Aqui estão truques dos melhores cancioneiros da música popular, com recurso às sonoridades dos velhos sintetizadores. Tudo isto é particularmente saliente na sua versão de um clássico de Cole Porter, "Love For Sale", onde introduz um espírito funk com toques de hip hop, que aliás aproveita bem um sample da voz de Roots Manuva, tudo pontuado pelo solo do próprio Collum num Fender Rhodes. Destaco ainda temas como o "The Same Things", a faixa de abertura cheia de sonoridades de Nova Orleãs ou o intenso e, digo eu, esmagador "Edge of Something", onde vale a pena ouvir com atenção os pormenores da percussão. "Anyway" e "Take Me Out (Of Myself) são mais dois temas pop perfeitos - já para não falar de uma balada arrasadora que dá pelo nome de "Save Your Soul". CD Island/Universal.
Folhear
A edição de Junho da "Vanity Fair" traz Brad Pitt na capa, a propósito da aventura de 200 milhões de dólares que foi fazer o seu novo filme "World War Z". que ele andou a preparar e a produzir desde 2006. Se contarmos com os custos de pós-produção e marketing, o filme precisa de facturar 400 milhões de dólares no mundo inteiro para fazer "break-even". Fazendo jus à fama de ter os melhores jornalistas de negócios a contarem histórias de dinheiro nas suas páginas, esta "Vanity Fair" conta a épica aventura da venda do Instagram ao Facebook, mas o prato forte é a história dos feitos de Steve Cohen, o fundador do "hedge fund" de 14 mil milhões de dólares SAC Capital e a forma como está a ser investigado pelo procurador Preet Bharara que se tem dedicado, com sucesso e várias detenções no activo, a casos de "inside trading" ao longo dos últimos sete anos. Um ponto de situação sobre a vida de Carla Bruni fora do Palácio do Eliseu e uma investigação sobre a noite em que Oscar Pistorius disparou sobre a sua namorada completam esta bela edição da "Vanity Fair".
Semanada
• No Porto e em Lisboa, os respectivos Metros perdem dois milhões de passageiros por mês; • em 2012, os transportes públicos perderam 45 milhões de passageiros; l a polícia facturou este ano, até Maio, menos 1,3 milhões de euros em multas, comparado com o mesmo período do ano passado; • em 2012, mais de metade dos contribuintes não pagaram IRS e apenas 26% das empresas pagaram IRC; • um quinto dos contribuintes suporta mais de 70% das receitas do IRS; • no presente ano lectivo, 279 cursos superiores tiveram menos de 20 inscritos; • o Museu do Brinquedo, em Sintra, que conta com 60 mil peças, está em risco de fechar; • a dívida pública portuguesa detida pelos bancos cresceu 250% entre 2009 e início de 2012; • a TVI afirma ter perdido oito milhões de euros devido aos resultados, que contesta desde o início, do painel de audiências criado pela GFK em 2012; • registos de compra de casa caíram 74% desde 2009; • em Lisboa há 2.000 pessoas que dormem na rua; • PS somou 20 mil novos militantes nos últimos dois anos; • as instâncias europeias deram mais um ano a Portugal para atingir a meta do défice, mas deram mais dois anos à França, Espanha, Polónia e Eslovénia; • François Hollande disse que não será a Comissão Europeia a ditar à França o que o país deve fazer; • a OCDE considerou "improváveis" as metas orçamentais portuguesas para 2013 e 2014 acordadas com a troika.