Opinião
A esquina do Rio
Na mesma semana em que o PS apresentou, como puro gesto de retórica, uma moção de censura ao Governo, sem conseguir detalhar uma única medida alternativa plausível para sairmos da crise, soube-se que aumenta o número de ministros que desejam sair do Executivo e o número daqueles que não se sabe bem o que lá andam a fazer.
Pesadelo
Na mesma semana em que o PS apresentou, como puro gesto de retórica, uma moção de censura ao Governo, sem conseguir detalhar uma única medida alternativa plausível para sairmos da crise, soube-se que aumenta o número de ministros que desejam sair do Executivo e o número daqueles que não se sabe bem o que lá andam a fazer. Miguel Relvas já saiu pelo seu pé (o que lhe fica bem) mas Vítor Gaspar continua ao leme, autêntico primeiro-ministro sombra, alimentando-se de previsões falhadas, entre ministros até aqui imobilizados como Nuno Crato, ou um Santos Pereira que não consegue encontrar espaço para fazer o que quer que seja. O comportamento de uma parte cada vez maior do Governo e de uma parte cada vez maior dos partidos que o integram é um sinal de perigo mais evidente que a moção de Seguro. No meio disto continua a obsessão por mudar o nome às coisas sem cuidar da substância. É assim que, depois de se terem enterrado as Novas Oportunidades, se dá uma dose de vitaminas a um Impulso Jovem que se arrisca a ser o maior exemplo de política-espectáculo dos últimos anos. Não estou certo que mais política-espectáculo seja o que nos faz falta, e inclino-me a pensar que o Governo e o PR fariam bem melhor em estudar como se pode mudar de políticas e como é absolutamente necessário alterar a forma de fazer política. E, entretanto, estamos todos à espera de um Tribunal Constitucional que desenha a sua própria táctica politiqueira. Isto tem todos os ingredientes para acabar mal.
Semanada
Entre 2010 e 2012, as dívidas das famílias e das empresas tiveram uma pequena diminuição, mas a do Estado teve um aumento de 25%; os impostos indirectos caíram 6,4% em Fevereiro, mas a previsão do Governo era um aumento de 0,2%; as contribuições para a Segurança Social subiram 1,8%, mas as previsões do Governo eram de uma subida de 8,1%; os gastos com o subsídio de desemprego aumentaram 21,1% em Fevereiro face ao período homólogo de 2012, mas o Governo só previa um aumento de 3,8%; prevê-se agora uma redução do PIB nominal de 1,1 mil milhões de euros face a 2012, quando no Orçamento do Estado estava previsto um aumento de 0,4 mil milhões de euros; um estudo do Goldman Sachs sobre o acesso das empresas ao crédito em diversos países europeus mostra que em Portugal o custo dos financiamentos bancários é de 6,68% e na Alemanha é de menos de 3%; as queixas sobre a conta da electricidade duplicaram este ano em relação a igual período do ano passado; no hospital de West Suffolk, em Inglaterra, 40 dos 55 enfermeiros são portugueses; a série norte-americana "A Bíblia", exibida pela SIC na Páscoa, e que tinha como protagonista o actor português Diogo Morgado no papel de Jesus Cristo, foi vista no total por 2,5 milhões de espectadores, batendo largamente o reality-show do serviço público de televisão protagonizado por José Sócrates.
Ouvir
O fado, por estes dias, desenvolve-se entre a moda e a poluição, que na música andam de mãos dadas. Hélder Moutinho não é moda porque não tem época nem tempo. É diferente dos imitadores e das poluições, porque a voz anda a par com o sentir - o sentir do peso das palavras e o sentir das músicas. Esta combinação não é frequente, é rara. Quando acontece, devemos ouvir. Quem canta assim, quem conjuga a voz com as guitarras e as violas, quem diz o que sente e pronuncia as palavras a fazerem poema, merece ser ouvido - embora, no meio das modas e poluições, não seja fácil conseguir voltar a ouvir. Mas, mal começa a tocar este "1987", percebe-se que Hélder Moutinho é diferente. Precisa mesmo de ser ouvido. Bem ouvido. Sente-se como ele e Frederico Pereira, que assegurou a direcção musical e a produção, fizeram equipa. Dá gozo ouvir este disco, sentir o trabalho, a dedicação, o conceito, a imaginação. De certa forma, este álbum é conceptual - desenvolve-se em cinco momentos - cada um deles escrito de forma diferente - por Hélder Moutinho ele próprio, José Fialho Gouveia, João Monge, Pedro Campos e Fernando Tordo, que fez um fado absolutamente surpreendente, de homenagem a Beatriz da Conceição, o culminar perfeito de um disco que é uma história de Amor e de Lisboa. Não por acaso, o primeiro fado do disco explica tudo: "Venho De Um Tempo". Daqui a um mês, dia 3 de Maio, Hélder Coutinho apresenta estes fados, ao vivo, no Teatro de S. Luiz. (CD "1987", de Hélder Moutinho, HM Música/ Valentim de Carvalho).
Folhear
Foi preciso folhear com atenção a "Monocle" de Abril para descobrir uma marca de armações de óculos portuguesa exemplarmente desenhada - Paulino Spectacles, criada por Ramiro Pereira, e fabricada à mão em Portugal. Outra referência lusitana na mesma edição vai para o restaurante Can The Can, no Terreiro do Paço, onde se criam delícias a partir de conservas portuguesas, um projecto de Rui Pragal da Cunha, que foi buscar o nome de uma canção de Suzi Quatro, a rainha do Glam Rock, para designar a casa. Logo por acaso, o Can the Can está na mesma edição em que a "Monocle" fala do St John em Londres, do Vivant Table, em Paris, ou do célebre Noma, em Copenhaga - isto além de um completo guia de viagem a Tanger. Mas a história mais deliciosa desta edição é sobre o grande negócio que representa para os museus a venda de postais com reproduções de obras das suas exposições. O Nezu, um dos mais célebres museus japoneses, em Tóquio, recebe 180.000 visitantes por ano e vende cerca de um milhão de postais e o departamento de postais da Tate Modern, de Londres, vende 750.000 libras de postais por ano a 65 "pence" cada um, todos cuidadosamente impressos em papel de 330 gramas. O mais vendido é o que reproduz uma obra de Salvador Dalí. E outro, de Roy Lichtenstein, segue a curta distância.
Provar
Mercearia do Peixe é um nome invulgar para um restaurante, mas ele funciona bem - e se o peixe é fresco e bem grelhado, a carne não lhe fica atrás. Aqui exercem com perfeição o exercício dos bons grelhados, feitos a partir de boa matéria-prima, seja tirada do mar, seja crescida em terra como um belo naco de boa carne. O serviço é simpático e eficiente, a sala é ampla com uma boa esplanada (agora coberta) que quando chegar finalmente o bom tempo deve ser bem agradável. Este é um daqueles restaurantes onde os preços são comedidos sem que isso signifique sacrifício na qualidade. Fica em Caxias, por trás do Jardim da Cascata Real, na Avenida António Florêncio dos Santos 7, telefone 214 420 678.
Ver
O início de actividade de A Pequena Galeria (Av 24 de Julho 4c, à Praça D. Luís) é o pretexto para hoje sugerirmos uma incursão pela fotografia. Obra de sete sócios, A Pequena Galeria foi buscar o seu nome a The Little Galleries of the Photo Secession, de Alfred Stieglitz, fundada em 1905 na Quinta Avenida, em Nova Iorque. A Pequena Galeria é uma bela ideia, que promete actividade e variedade. Abriu a 21 de Março com a exposição "Salão #1" e, quinta-feira 4 de Abril, inaugurou a sua segunda mostra, "Flâneur Noir", de um dos sócios, Guilherme Godinho, que tem a particularidade de fotografar a preto e branco com um Blackberry 9700 Bold, o que, em tempos de Instagram e iPhone, não deixa de ter a sua graça. Na K Galeria (Rua das Vinhas 43A, ao Bairro Alto), Pedro Letria comissariou a primeira mostra de imagens do colectivo Kameraphoto tiradas em 2012 no âmbito do projecto DR - Um Diário da República.
A exposição tem edição em livro, sob o título "Please Hold" e, ao mesmo tempo, inaugurou também, no mesmo local, "Volto Já", de Augusto Brázio. A Galeria Quadrado Azul mudou-se do Largo Stephens, ao Cais do Sodré, para Alvalade, na Rua Reinaldo Ferreira 20-A (perto da Padre António Vieira). "Gloom", uma exposição individual de Paulo Nozolino, formada por um conjunto de 10 imagens verticais, a preto e branco, todas da Bretanha. E, finalmente, Rita Barros mostra na Loja da Atalaia (ao lado do restaurante Bica do Sapato), a série "Displacement 2", que foi iniciada no final do verão de 2012 e que mostra o processo de desconstrução do Chelsea Hotel, em Nova Iorque, onde ela viveu durante vários anos e que tem sido uma inspiração recorrente na sua obra.
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