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A falta do Ederzito

Não, os Mundiais já não são o que eram. Já não há grandes equipas, nem futebol de ataque, nem os resultados desnivelados dos tempos pré-globais. Só vemos fogachos individuais, tácticas de contenção e penáltis televisivos.

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O calculismo, já muito presente nas últimas edições do Mundial, veio para ficar. E não é só o de Fernando Santos, é de todos.

 

Vão longe os tempos em que as melhores equipas do mundo eram simplesmente prodigiosas. Jogavam à bola como se estivessem a pintar um quadro, com a paixão e a mestria que encantam os espectadores. Foram assim as grandes selecções brasileiras, sobretudo a do México 1970, talvez a melhor equipa de futebol de sempre, recheada de craques como Pelé, Jairzinho, Tostão ou Rivelino, num tempo em que os astros não se comportavam como vedetas.

 

Depois vimos uma grande equipa italiana no Mundial de 1982, quando Rossi e os seus pares, após um apuramento pífio, destroçaram todos os adversários, incluindo o superfavorito Brasil, com um futebol pleno de harmonia, arte e eficácia. O futebol que, confessou-mo ele um dia, mais encantava o nosso Eusébio. E vimos excelentes selecções da Argentina (em 1978 e 1986), da França (em 1998), da Espanha (em 2010), para os apreciadores do estilo impressionista tiki-taka, e da sempre temível Alemanha, com o seu futebol possante e geométrico. Sem nunca terem logrado o título de campeões mundiais, outras se distinguiram - como a Holanda, a União Soviética ou Portugal (sim, esse Portugal que, já no actual milénio, chegou a praticar o futebol mais vistoso do planeta).

 

A última edição do Mundial mostrou-nos uma Alemanha a anos-luz de todos os rivais. A sua flagrante superioridade fazia antever um período de domínio na cena futebolística internacional, mas não foi o que se verificou. Batida no último Europeu, vê-se agora em sérios apuros para garantir o apuramento na fase de grupos. Mas se passar, perante a pobreza geral, será finalista.

 

Muitos acreditam que, a partir dos oitavos, o nível dos jogos melhorará. Nada indica que tal venha a acontecer. Em circunstâncias normais, nenhuma das selecções presentes na Rússia venceria uma equipa do top ten europeu de clubes. Habituemo-nos a esta realidade, que progride à medida que os organismos internacionais do futebol vão dando largas à sua avidez pelo dinheiro e pelo protagonismo. Nos próximos mundiais, no Qatar e na América do Norte, veremos aumentar o desinteresse dos adeptos. Que importa, desde que a FIFA aumente as receitas?

 

No meio deste desconsolo, os nossos rapazes lá fizeram os mínimos - qualificarem-se para os jogos a eliminar. Não se esperaria menos da que dantes se chamava "Selecção de Todos Nós" e que agora só é acarinhada por alguns. Mas não se espere muito mais. Não porque o seu estilo sonolento e calculista se distinga pela negativa dos demais, mas porque a equipa é curta e as opções limitadas. Ao contrário do que tenho lido, esta formação não é melhor do que a que se sagrou campeã europeia, pela simples razão de os jogadores que fazem a diferença serem os mesmos, só que dois anos mais velhos. E falta o Ederzito.

 

A figura do mês: Fernando Guedes

 

Fernando Guedes é um exemplo para muitas gerações de empresários. Com dedicação, competência e ambição, assumiu (em finais da década de 80) o comando da Sogrape, criada por seu pai, e fez dela a maior empresa nacional do sector vitivinícola, uma das maiores no espaço ibérico e uma referência incontornável no mundo do vinho.

 

Recordo como o conheci. Um dia, há quase 25 anos, quis fazer um artigo sobre o Mateus Rosé e liguei-lhe solicitando uma entrevista. Recebeu-me na Sogrape para uma agradável conversa, em que começou por abordar o portfolio de produtos da empresa - do Barca Velha aos vinhos do Dão e ao popular Gazela. Quando chegámos ao prato forte, o Mateus Rosé, e lhe perguntei como sentia o desamor dos portugueses, Fernando Guedes disparou: "Nenhum conhecedor de vinhos afirma que o Mateus é um mau produto. Só os snobs o dizem sem nunca o terem provado." E acrescentou: "Por isso é que é líder mundial e alvo de contrafacção." Nem mais.

 

Em sua honra e memória, uma flûte de Mateus Rosé!

 

Número do mês: 51%

 

É a taxa de aprovação da política económica de Donald Trump, segundo a última sondagem da CNBC. O número representa uma subida de seis pontos percentuais em relação aos números de Março. Pela primeira vez desde que foi parar à Casa Branca, Trump regista uma maioria de americanos favorável à sua estratégia económica e à política proteccionista que vem seguindo.

 

Nada de surpreendente. A economia norte-americana tem vindo a melhorar nos últimos meses, tendo alcançado um crescimento de 2,2% no primeiro trimestre e uma taxa de desemprego em queda. E estes são os indicadores ácidos, os que mais influenciam o sentido de voto dos eleitores de qualquer país, especialmente os Estados Unidos (EUA). E, em boa verdade, vai demorar algum tempo até se poderem medir os danos económicos causados pelas tarifas aduaneiras, tempo bastante para Donald navegar à vista até às próximas eleições.

 

Os temas do comércio livre e da imigração são vistos pelo comum dos americanos do modo simplista que os caracteriza - they really don't care.  

 

Economista; Professor do ISEG/ULisboa

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