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02 de Dezembro de 2014 às 19:58

Um voto diplomático pela Palestina

A campanha da UE para reconhecimento do estado palestiniano como meio de pressão para relançar negociações entre Israel e a Autoridade Palestiniana (AP) é sinal do crescente isolamento diplomático israelita e de ambiguidade ante o extermicionismo anti-judaico.

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Ao reconhecer-se um estado palestiniano com o argumento de que um governo - a Autoridade Palestiniana (AP) de Mahmoud Abbas -  administra a população de um território de fronteiras indefinidas labora-se num equívoco político.

 

Os islamistas do Hamas desde 2006 que contestam Abbas, líder da "Organização para a Libertação da Palestina" (OLP) eleito presidente da AP em 2005 para mandato até Janeiro de 2009.

 

Entre combates, tréguas e efémeros governos de unidade nacional, acentuaram-se as clivagens entre a Cisjordânia, Gaza, os palestinianos de Jerusalém Oriental, os árabes cidadãos de Israel, refugiados e descendentes no exílio.

 

Não existe administração unificada que controle territórios que correspondam à putativa Palestina anterior à guerra de 1967.

 

A internacionalização OLP

 

A recusa do "Hamas" em reconhecer o direito à existência de Israel, a propaganda e recurso declarado a tácticas terroristas, reduzem, contudo, a sua aceitação internacional, cedendo espaço diplomático à AP/OLP que se arroga representante de direito da Palestina.

 

Desde a proclamação de independência pela OLP em 1988, em Argel, passando pela admissão como estado observador não membro na ONU, em 2012, a efectiva existência diplomática de uma entidade política palestiniana permitiu a Abbas seguir uma estratégia de internacionalização, integrar a "Organização Mundial de Saúde" ou a "União Postal Internacional", e aceder a tratados e convenções.

 

A  AP/OLP, reconhecida por 135 estados, mas carente ainda de plena regalia diplomática nos Estados Unidos, Canadá, na maioria dos países da UE, na Austrália, Nova Zelândia e Japão, tem, no entanto, evitado forçar um braço-de-ferro, prescindindo recorrer à jurisdição do "Tribunal Penal Internacional" apesar de essa via ter sido aberta pela ONU em Novembro de 2012.

 

A ilusão da paz   

 

Tácticas terroristas espectaculares, como o desvio de aviões a partir do final dos anos 60, e as revoltas de "Intifada" de 1987-1993 e 2000-2005 obrigaram as autoridades israelitas, no rescaldo das alterações estratégicas trazidas pela guerra de 1973, a aceitar a negociação directa e a abandonar a atitude altaneira de negação de direitos aos palestinianos.

 

Os acordos de Oslo de 1993 não possibilitaram, contudo, reais possibilidades de partilha dos territórios disputados na guerra de 1948 e das anexações israelitas em 1967 por impasses quanto a garantias de segurança para Israel, ampliação dos colonatos judaicos na Cisjordânia, direito de retorno de refugiados, estatuto de Jerusalém e partilha de recursos de água.      

 

Do ilusório processo de paz sobressaem, agora, duas violentas incursões israelitas em Gaza, em 2008 e 2014, em resposta a ataques do Hamas, num contexto regional de confrontos étnico-religiosos, particularmente entre sunitas e xiitas, desagregação de estados saídos da ordem pós-otomana, ascenso do jihadismo sunita e afirmação do islamismo turco.

 

Uma guerra religiosa

 

Ao contrário das administrações norte-americanas, a UE tem vindo a adoptar uma atitude cada vez mais crítica em relação ao expansionismo israelita (discriminando, por exemplo, exportações oriundas dos territórios ocupados), sem que, por outro lado, a ajuda financeira à AP/OLP tenha suscitado moderação política que isole e anule as correntes islamistas.

 

O alarme da UE quanto a um conflito confinado territorialmente, com superioridade militar israelita, em que Washington - mediador por excelência e garantia em último recurso de Israel - aparenta ter esgotado iniciativas negociais, deriva, para além de um activismo humanitarista patrocinado essencialmente à esquerda, da apreciação de se ter chegado a novo ponto de viragem.   

 

Entre árabes (20% dos 8,2 milhões de habitantes de Israel) e os cerca de 120 mil druzos é patente a perplexidade e repúdio pelas iniciativas da direita e extrema-direitas judaicas para estatuir Israel como "estado-nação do povo judeu".

 

A proposta de relegar para um estatuto diferenciado e de direitos diminuídos ao arrepio de princípios democráticos parte da população será um dos temas forte das eleições israelitas da Primavera e, esta iniciativa, xenófoba e racista, vai a par de outra tendência negativa.

 

Entre judeus e árabes de Jerusalém é notório que os conflitos assumem cada vez mais características de ódio religioso a pretexto de controlo e acesso a lugares santos ("O Monte do Templo" judaico e "O Nobre Santuário" muçulmano) e nos mútuos assassinatos e linchamentos.

 

Sondagens que apontam para nova maioria do bloco de direita-extrema-direita nas eleições para o "Knesset", impasse diplomático para a AP/OLP de modo a forçar israelitas a negociações aceitando uma partilha territorial a partir das fronteiras de 1967, ocaso e exaustão da administração Obama na fútil e preocupação maior pelas negociações com o Irão e as guerras síria e iraquiana, abrem caminho a uma tomada de posição da UE.

 

O Parlamento Europeu, Portugal, podem reconhecer a Palestina, mas a margem negocial é, praticamente, nula.

 

Jornalista

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