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João Carlos Barradas - Jornalista 08 de Dezembro de 2015 às 19:00

Sieg Heil, Marine!

Marine ao assumir a liderança em 2011 limou as arestas abertamente racistas e antijudaicas da movimento dirigido por Jean-Marie desde 1972.

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"A melhor defesa é não se assemelhar a eles."

Pensamentos para mim próprio VI, § 6.

Marco Aurélio   

 

A maior das vitórias já a arrebatou Marine Le Pen ao impor as teses da Frente Nacional quanto às grandes questões políticas, e o que advirá da sua campanha para as presidenciais de 2017 condiciona a União Europeia.

 

Mais de um terço do eleitorado opta pela incondicional soberania de França, o fim do acolhimento a estrangeiros, a assimilação forçada de emigrantes - sobretudo muçulmanos - ao laicismo gaulês na vertente estatista de controlo de confissões religiosas e aprova medidas de reforço securitário, reintroduzindo a pena de morte abolida em 1981.

 

Ainda que dividido quanto ao abandono do euro, o eleitorado da FN - maioritariamente jovem, integrando assalariados e operariado, e abrangendo camadas crescentes da classe média - reconhece-se no proteccionismo económico, no populismo antiplutocrático e na contestação da partidocracia.

   

Do protesto à alternativa

 

Marine ao assumir a liderança em 2011 limou as arestas abertamente racistas e antijudaicas da movimento dirigido por Jean-Marie desde 1972.

 

Rompeu com o pai este ano para destacar ainda mais a FN como partido de protesto em defesa dos interesses de deserdados e vítimas da globalização plutocrática arrimada no federalismo europeísta de Bruxelas.

 

O cultivo de valores tradicionalistas católicos pela jovem sobrinha Marion Maréchal-Le Pen na França meridional cala, por sua vez, fundo entre um eleitorado  agarrado ao respeito pelos pequenos comerciantes e produtores agrícolas e artesanais, marcado pelo movimento de Pierre Poujade nos anos 1950.

 

Os inconformados e tementes à presença muçulmana - entre nascidos e conversos, maioritariamente sunitas, cerca de 8% dos actuais 64,2 milhões habitantes do Hexágono - são votantes de uma FN reforçada por cada acto terrorista de jihadistas ou pretensões de reconhecimento social da parte de salafistas ou meros tradicionalistas do Islão.    

 

A Jungle de Calais, noutra vertente, onde há mais de uma década o Estado francês não consegue impor ordem num ponto estratégico de comunicação com as ilhas britânicas, fazendo perigar a circulação de pessoas e bens, tipifica taras de uma insustentável política de acolhimento e trânsito de emigrantes e candidatos a refúgio político.

 

Fatalmente, metade do eleitorado de Pas-de-Calais vota FN.

 

Dupont e Dupond

 

"A segurança é a primeira das liberdades", assevera o primeiro-ministro, Manuel Valls, justificando o estado de emergência declarado após os atentados de Novembro,  e, actualmente, em matéria de medidas expeditivas na ordem doméstica socialistas, liberais e conservadores remetem-se a um discurso coincidente com a extrema-direita.

    

Marine tem a vantagem de agregar à denúncia da ameaça interna e externa do Islão, criminosa e tardiamente reconhecida pela partidocracia no seu dizer, a reivindicação de alegadamente apresentar uma alternativa à incongruente e ineficaz gestão económica e financeira de conservadores e socialistas.

 

Passados dois anos sobre o "pacto de responsabilidade" aventado por François Hollande, a pretensão de relançamento do eixo franco-alemão e a nomeação de Valls, da ala direita socialista, Paris mantém níveis de desemprego superiores a 10%, défice orçamental acima dos 3%, dívida pública rondando os 100% do PIB e expectativas de crescimento de apenas 1,5%.  

     

A líder do maior partido francês avança mais além de uma fronda de protesto e é alternativa de poder.

 

A FN é vencedora garantida no Norte-Pas de Calais-Picardia e na Provença-Alpes-Côte d'Azur, sendo muito capaz de triunfar domingo na Alsácia-Champagne-Ardenas- Lorena no cômputo da votação nas 13 regiões do país.

 

"Les beaux esprits se rencontrent"

 

Marine hegemoniza a política, rodando a discussão em torno das teses da extrema-direita.

 

A FN reinventa tradições antiliberais gaulesas que vão do nacionalismo dos adeptos do general Georges Boulanger à Action Française, passando pela contestação populista de Poujade ou o soberanismo nacional e proletário dos comunistas.

 

Da banda de Moscovo, Putin financia e acolhe com agrado a FN na sua tentativa de encontrar parceiros nas extremas-direitas e extremas-esquerdas soberanistas, para implodir a UE.

 

Marine - nacionalista, proteccionista e xenófoba - aspira à glória e tem outros pares à altura Europa afora.

 

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