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"Jobs for the girls" (e outras histórias de quotas de género)

Ora, pensem lá, como é que as quotas de género se vão aplicar às famílias, a todos os títulos empresas privadas, com a agravante de que os sócios até dormem na mesma cama?

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Quando a temperatura sobe acima dos 40.º C, e não há ar condicionado, até a mais escorreita das criaturas começa a delirar. E foi assim, sem chapéu que me protegesse os miolos, que comecei a discorrer sobre a lei das quotas de género nas empresas. O assunto é quente. Ninguém duvida de que quando 59% das licenciaturas pertencem a mulheres e menos de 10% das empresas nacionais são lideradas por mulheres, e as mulheres ganham em média menos 18% do que os homens, alguma coisa não está bem. Mas, o que aqui está em causa é qual a melhor forma de corrigir o problema. Vamos por partes.

 

Parte I -  Entende-se perfeitamente que os deputados e o Governo (este, os que o antecederam, e os que sonham vir a seguir) queiram dar o exemplo de uma distribuição de poder mais equitativa. Afinal, sabem melhor do que ninguém que o mérito das mulheres raramente garante os "jobs" de topo no aparelho do Estado, nem tão-pouco os intermédios, pela simples razão de que estão sempre reservados para os "boys". Posto isto, numa leitura otimista, agem por remorsos, necessitando da  força da lei para emendar a mão e calar as clientelas partidárias; numa leitura pessimista, sentem-se pressionados pelas cada vez mais numerosas "girls", que também querem repartir o bolo. 

 

Fico muito mais descansada se, de facto, o mérito for claramente afastado desta equação, porque o que mais me incomodava nesta história das quotas era imaginar que na Europa do século XXI se criavam leis destinadas a fechar os olhos ao mérito, discriminando alguém simplesmente em função do género a que pertencia. Isso sim, seria chocante.

 

Do mal o menos, portanto, mas daquilo de que ninguém livra os contribuintes é de uma nova bolsa de excedentários, que inevitavelmente será criada para os rapazes que vão ficar sem o tacho, e a que, suspeito, dificilmente se dará préstimo.

 

Parte II -  Coisa diferente parece-me ser, quando se salta  da esfera pública para a esfera privada. Como escreveu há dias Alexandra Ferreira, numa inteligente crónica intitulada "Em minha casa mando eu", os ímpetos populistas "ficam lindamente no papel, mas quase sempre têm a consequência de ferirem direitos adquiridos fundamentais. E um deles é que quem manda nas empresas são os acionistas".

 

Cá para mim a profecia vai cumprir-se. O que me bateu, neste dia de calor em brasa em que escrevo, foi exatamente a súbita consciência dos sarilhos em que esta gente se meteu, atentando (imagino que sem querer) contra uma das suas mais duras conquistas. Ora, pensem lá, como é que estas quotas se vão aplicar às famílias, a todos os títulos de empresas privadas, com a agravante de que os sócios até dormem na mesma cama? Afinal têm capital social para o início da atividade, sede, pessoal a cargo, geram proveitos e pagam impostos, porque não há de um tribunal vir a condená-las por não serem conformes à lei das quotas, se os seus conselhos de administração forem constituídos a 100% pelo mesmo género? Ou, quem sabe, se os cargos intermédios sofrerem do mesmo mal, e a empresa chegar a ponto de ser integralmente constituída por elementos de um só género? O que dirão quando forem condenadas a corrigir a situação no prazo máximo de um ano? Obrigados a ir buscar algum chefe/atrasado mental à bolsa de excedentários.

 

Ah, pois é, depois não digam que não avisei. 

 

Jornalista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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