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O boxe político

António Costa e Passos Coelho são lutadores supermosca: só costumam usar golpes da cintura para cima. Raras vezes usam golpes baixos. Poucas vezes conseguem "knockout".

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O combate do século entre Floyd Mayweather e Conor McGregor foi a grande encenação da idade do espectáculo. Nada que admirasse: nos últimos anos o boxe tornou-se numa caricatura de si próprio frente às novas disciplinas de artes marciais mistas que socaram sem piedade as velhas hierarquias. As novas modalidades, as MMA, de que McGregor é um expoente, utilizam a lógica de "reality show" para conquistar os adeptos mais jovens. O boxe, velho aristocrata, tinha apenas o dinheiro do seu lado. E o passado. O combate serviu, como numa comédia, para conciliar o dinheiro com a emoção juvenil. Para que todos fiquem a ganhar no futuro. Vai ser uma mudança difícil: no boxe, com as suas regras inamovíveis, só o soco na cara ou no tronco adversário é o argumento da vitória. Nas MMA, há uma lógica de gladiador, em que, como num teatro romano, tem de se utilizar todos os truques para vencer. A nobre arte do boxe acabou por se render, apesar da vitória de Mayweather.

 

A política portuguesa não se assemelha a um combate entre Mayweather e McGregor. António Costa e Passos Coelho são lutadores supermosca: só costumam usar golpes da cintura para cima. Raras vezes usam golpes baixos. Poucas vezes conseguem "knockout". Quase tudo os divide, mas têm de conviver no ringue. Quando António Costa, há umas semanas, propôs consensos com o PSD de Passos nas obras públicas, sabia que este as recusaria. Não admira que, em Faro, Costa tenha usado um gancho para sovar, sem piedade, Passos por causa dos incêndios. Os pedidos de consensos são um puro aquecimento para combates futuros que pretenderão minar a resistência eleitoral do adversário. Por isso não se percebe que alguns se espantem porque Costa pede consensos e, depois, desanca Passos. Como dizia Muhammad Ali: "Voe como uma borboleta, mas ferre como uma abelha." Na política é assim. Mesmo que, por vezes, em Portugal, as semelhanças da luta partidária com o vaudeville de Mayweather e McGregor sejam enormes.

 

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