Opinião
Egipto: a marcha do faraó Sisi
Com os nervos à flor da pele, o resultado foi o esperado: Anan foi detido pelos militares "por incitamento" e por ter "falsificado" documentos militares.
Ninguém tem dúvidas sobre os resultados das presidenciais de Março no Egipto: o general al-Sisi será o vencedor. Mais um militar no longo desfile de generais que têm governado o país há muito tempo. Era isso mesmo que dizia, há poucos dias no Le Monde, o escritor egípcio Alaa El Aswany: "O mesmo regime militar está no poder desde 1952." Aswany acrescentava: "Não sei se podemos falar de uma eleição quando o candidato do Estado monopoliza tudo, dos media à polícia e ao exército. Os outros candidatos não têm qualquer hipótese." Chegado ao poder para afastar a Irmandade Muçulmana do governo do Egipto, al-Sisi é hoje um fiel aliado da Arábia Saudita (como se viu no bloqueio ao Qatar) no contexto dos desafios que se colocam ao Médio Oriente. O certo é que nestes anos ele reforçou o seu poder, afastando também as facções militares rivais, que hoje esperam o seu tempo. Depois da malograda candidatura civil de Ahmed Shafiq (que teria o apoio desses militares), os olhos voltaram-se para o antigo chefe das Forças Armadas, o general Sami Anan, que conta com um vasto leque de apoiantes, incluindo o clã militar e económico que circulava à volta de Hosni Mubarak.
A campanha de Anan começou por afirmar, da retórica da corrupção instalada, que os dois grandes falhanços do Egipto eram a água e a terra. A primeira tem que ver com a construção da grande barragem de Assosa (na Etiópia) que ameaça baixar as águas do Nilo. A segunda tem que ver com a controversa decisão de al-Sisi de dar à Arábia Saudita duas ilhas no mar Vermelho, Tiran e Sanafir. Ao mesmo tempo Anan pediu "abertura política", um sinal para que seja possível libertar dezenas de milhares de opositores políticos que estão presos. Os apoiantes de al-Sisi acusam agora Anan de ter o apoio da ilegalidade Irmandade Muçulmana. Com os nervos à flor da pele, o resultado foi o esperado: Anan foi detido pelos militares "por incitamento" e por ter "falsificado" documentos militares. Em termos práticos, a campanha de Anan durou três dias. O caminho está assim mais fácil para al-Sisi renovar a sua presença à frente dos destinos do Egipto. Mas tudo isto demonstra que o exército, o polvo que há muitas décadas determina tudo o que acontece política e militarmente no Egipto, está dividido. Ou seja, para lá da oposição civil, a militar é a que deve preocupar al-Sisi e o seu núcleo de poder.
Turquia: o grande jogo curdo
A incursão turca contra as posições curdas no Norte da Síria está a ter um forte impacto nas relações deste aliado essencial da NATO com os EUA, mas também no próprio posicionamento de Ancara no Médio Oriente. Ao mesmo tempo, a Turquia está a cimentar uma série de novas alianças que podem ditar muito do que será a política futura de Erdogan. O apoio financeiro da China e do Qatar a Ancara é agora cada vez mais visível. E a aliança política com a Rússia e com o Irão mais notória. Até agora a Turquia terá já morto várias centenas de curdos e seus aliados, reduzindo de forma clara uma força criada e controlada pelos EUA durante a luta contra o Daesh, o YPG. Criticada pelos EUA, a ofensiva turca em Afrin mostra outra coisa. A Turquia está a virar-se para outras fontes de financiamento da sua economia. O Qatar é hoje o maior investidor externo, com acordos no valor de 20 mil milhões de dólares e outros 19 mil milhões previstos para 2018. Ao mesmo tempo a Turquia tornou-se o apoio militar que o Qatar necessita para contrabalançar as tentações hegemónicas da Arábia Saudita. A China tem estado também a apoiar militarmente o Qatar, um país onde está instalada a maior base militar americana na região, Al Udeid, fundamental para as operações americanas no Afeganistão. No fundo advinha-se um novo quadro de poder na Síria, visível depois das conversações de paz de Sochi no final de Janeiro. E também após a decisão dos EUA de criar uma unidade fronteiriça para operar entre a Síria e a Turquia, feita a partir de unidades do YPG curdo, uma colaboração que os americanos haviam prometido cessar após a derrota do Daesh. O resultado está à vista.
Arábia Saudita: Alwaleed libertado
O príncipe saudita Alwaleed bin Talal regressou a casa depois de ter sido libertado no "centro de detenção" do hotel Ritz-Carlton em Riade. O milionário saudita estava detido no hotel desde 4 de Novembro após ter sido acusado no âmbito da campanha "anticorrupção". A libertação terá ocorrido depois de um "acordo" com as autoridades sauditas. A detenção de Alwaleed e de outros príncipes sauditas teve o dedo do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, de 32 anos, e o verdadeiro homem-forte do poder em Riade, que foi o responsável pelo boicote e cerco ao Qatar e pela invasão do Iémen. Tal como pela retenção do primeiro-ministro libanês Hariri em Riade durante várias semanas.
Macau: apoio a Angola
O governo da Região Administrativa Especial de Macau manifestou a sua total disposição em reforçar a parceria existente entre Macau e Angola, para ajudar no processo de diversificação económica em curso no país, segundo a Embaixada de Angola na China. Esse apoio das autoridades de Macau em ajudar o processo de diversificação da economia angolana foi dado durante um encontro realizado recentemente entre o embaixador angolano na China, João Garcia Bires, e o chefe do Executivo daquela região especial chinesa, Chui Sai On. O chefe do Executivo de Macau falou da importância de melhorar o relacionamento entre as partes e convidou, por outro lado, Angola a juntar-se à iniciativa "Uma Faixa, uma Rota" proposta pelo Presidente chinês Xi Jinping em 2013 e que busca fortalecer os laços económicos entre Ásia, África e Europa com investimento de milhares de milhões de dólares em infra-estruturas. n
Macau: fora da lista negra da EU
O governo de Macau congratulou-se com a retirada do território da lista de paraísos fiscais da União Europeia e acrescentou que vai continuar a cooperar com a comunidade internacional, no sentido de combater, em conjunto, a fuga e evasão fiscal transfronteiriça, bem como promover, de forma activa, os trabalhos relativos ao melhoramento da transparência fiscal e da justiça tributária. Os 28 ministros das Finanças da União Europeia decidiram retirar oito países e territórios da lista negra dos paraísos fiscais - Panamá, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Tunísia, Mongólia, Macau, as ilhas de Granada e Barbados - e inclui-los na lista cinzenta.