Opinião
Um roteiro para uma transição energética bem-sucedida
E em apenas 28 meses foram construídas três centrais elétricas de ciclo combinado altamente eficientes, além das subestações necessárias para as integrar na rede elétrica nacional.
Estamos a viver tempos empolgantes. As próximas décadas serão provavelmente, em muitos aspetos, as mais dinâmicas de toda a história. A geopolítica é cada vez mais impulsionadora da geoeconomia. Em termos económicos, estamos no meio daquilo que muitos chamam 4.ª Revolução Industrial.
E quando a geopolítica se tornar mais complicada, todas as nações fariam bem em fortalecer e controlar as suas infraestruturas críticas. Neste contexto, a energia devia estar no topo das prioridades. Todas as revoluções industriais foram impulsionadas por revoluções energéticas: Desde o uso do carvão para acionar máquinas a vapor, passando pela descoberta da eletricidade, ao uso generalizado de petróleo e ao advento das energias eólica e solar, e assim por diante. A 4.ª Revolução Industrial não é exceção.
E está a ser moldada por duas realidades.
A primeira são as mudanças climáticas. Hoje, o nível do mar, a temperatura dos oceanos e a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera atingiram todos níveis recordes. E deparamo-nos cada vez mais com situações meteorológicas extremas. O planeta Terra precisa da nossa atenção porque não existe um planeta B.
Mas há muito em jogo: o nosso planeta, milhões de empregos, interesses estratégicos e económicos e o equilíbrio socioeconómico entre o mundo industrializado e os países em desenvolvimento.
Precisamos de uma liderança forte e consciente para enfrentar esse desafio.
A segunda é a crescente procura de energia, reflexo da disparidade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em 2040, a procura mundial por eletricidade terá aumentado em quase 80%. Este número nem sequer inclui outras formas de energia. Mesmo hoje em dia, ainda há mil milhões de pessoas sem eletricidade. O nosso objetivo tem de ser garantir energia estável, acessível e sustentável a todas as famílias. Para mim, isto é um direito humano fundamental.
Assim, a grande questão é: Como podemos satisfazer a crescente procura de energia, sobretudo nas economias em desenvolvimento, e ao mesmo tempo proteger o nosso clima?
A esta questão, a Siemens responde com o "Energy Value Charter". É o nosso roteiro para uma transição energética bem-sucedida, que nos permite analisar sistemas de energia e propor transições energéticas à medida para governos e clientes em todo o mundo.
O "Energy Value Charter" estabelece três prioridades:
1 - Garantir um fornecimento de energia flexível e sustentável.
Trata-se de encontrar a melhor combinação possível para cada país e ecossistema de energias renováveis, tecnologias para tornar centrais elétricas eficientes, armazenamento e gestão da procura.
Há cinco anos, as falhas de energia eram um grande problema no Egito, porque dificultavam o desenvolvimento da indústria, inibiam as aspirações do país e faziam com que o povo sofresse.
Porém, os governantes do Egito, com o apoio da Siemens, desenvolveram um roteiro para a energia. Também ajudámos a encontrar uma solução de financiamento competitiva, incluindo garantias de crédito à exportação.
E em apenas 28 meses foram construídas três centrais elétricas de ciclo combinado altamente eficientes, além das subestações necessárias para as integrar na rede elétrica nacional. Atualmente, estas centrais são as maiores do seu tipo em todo o mundo! Fornecem energia fiável, acessível e limpa a 40 milhões de pessoas. E poupam ao Egito em 1,3 mil milhões de dólares (cerca de 1,16 mil milhões de euros).
Este projeto teve um amplo impacto social. Mais de mil empreiteiros e subempreiteiros participaram neste projeto, muitos deles empresas locais. Foram formados 600 técnicos e engenheiros para a operação e manutenção. A Siemens ajudou ainda a construir um centro de formação que formará outras 5.500 pessoas nos próximos anos.
O megaprojeto do Egito, como o chamamos, é um excelente exemplo de como a sociedade pode beneficiar de uma transição energética bem planeada e rápida graças à liderança e parcerias. Naturalmente, cada país é diferente, mas essa abordagem também pode funcionar noutros locais. Neste momento, estamos a trabalhar com países como o Líbano, Iraque, Líbia, Paquistão, Afeganistão e muitos outros em projetos que podem assegurar um abastecimento energético fiável e beneficiar as populações.
2 - Construir infraestruturas orientadas para o futuro.
Trata-se de modernizar o sistema de transporte e distribuição de energia, para que seja sustentável, incluindo a cobrança fiável das contas de eletricidade. E de integrar o sistema energético noutros setores (o termo técnico para isso é acoplamento setorial).
Neste contexto, a expansão das redes elétricas e a sua gestão inteligente são fatores críticos, uma vez que tudo está conectado.
Pense na Nova Rota da Seda(1), uma iniciativa da China. Chega a 65% da população mundial e tem o potencial de se tornar o maior programa de investimentos em infraestruturas de todos os tempos. É aqui que entra o "Energy Value Charter".
As infraestruturas orientadas para o futuro também devem incluir hidrogénio produzido por fontes de energia renovável. Para nós, esse é o combustível do futuro – além de ser uma tecnologia promissora para o armazenamento de energia e o acoplamento setorial.
É precisamente isso que nós, na Siemens, estamos a propor no nosso roteiro energético para o Chile. A Patagónia é uma das regiões mais ventosas do mundo. Lá, o vento sopra mais de 6 mil horas por ano. O Chile pode tirar proveito disso. A oportunidade aqui é gerar eletricidade livre de CO2 com base em parques eólicos e convertê-la em larga escala em metanol verde para ser utilizado em todo o mundo e numa variedade de setores.
3 - Capacitar os consumidores de energia.
Trata-se de tornar os consumidores de energia em parceiros ativos do sistema energético. Os custos dos painéis solares, das baterias para armazenamento doméstico e da automação dos edifícios têm vindo a diminuir continuamente. Muitas instalações de produção de energia são agora operadas pelos proprietários das respetivas casas. As tecnologias digitais permitem aos consumidores gerir os seus próprios ativos de energia – e gerar oportunidades de negócio. A digitalização das redes de distribuição de energia até ao consumidor ajudará a gerir oferta e procura com muito maior eficiência. Para nós existe aqui um enorme potencial – desde que haja uma reforma muito necessária do sistema tributário que permita acelerar a implantação de tecnologias digitais e criar novos modelos de negócio.
Faz 50 anos que o homem pisou pela primeira vez a lua. Apenas poucos anos antes, tal feito parecia impossível. Mas John F. Kennedy desafiou a América, dizendo: "Nós escolhemos ir à Lua nesta década e fazer outras coisas, não porque são fáceis, mas porque são difíceis, porque esse objetivo servirá para organizar e identificar o melhor das nossas energias e habilidades".
O desafio difícil da nossa geração é satisfazer a crescente procura de energia e proteger, ao mesmo tempo, o nosso clima. O "Energy Value Charter" é a contribuição da Siemens para o mundo responder a este desafio. É o nosso convite para tornar a transição energética uma realidade.
(1)Belt and Road
Presidente e CEO da Siemens AG