Opinião
Não há ambiente sustentável sem as cidades e sem os cidadãos
Sem as cidades e sem os cidadãos não se atingirão as metas do Acordo de Paris nem se implementarão os ODS até 2030, como foi o compromisso dos líderes mundiais na cimeira da ONU de Nova Iorque de 2015.
O processo de urbanização em curso no planeta tem uma dimensão tão gigantesca que as projeções não preveem um ponto de abrandamento. Hoje, mais de metade da população mundial vive nas cidades, dentro de três décadas serão 70%. A cada quatro meses, estimava o Outlook de Energia da AIE de 2017, é acrescentada uma área urbana no mundo do tamanho de Xangai.
Nas cidades residem o dinamismo económico (riqueza) e a capacidade de inovar (capital intelectual), mas também a pressão agravada sobre o clima em consequência do seu contributo para as emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE), na sua maioria provenientes do consumo de energia e dos transportes.
Na última década, cresceu o número e a iniciativa das cidades, em redes, que colocaram em marcha planos de ação climática para reduzir as suas emissões e adaptarem-se a condições de vida mais adversas: a ação global para o clima está a ajudar a fechar o "gap" entre a ação e as metas do Acordo de Paris a que os governos dos países se comprometeram. O Secretariado das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, no seu relatório anual (2018), no âmbito da Parceria de Marraquexe, estima que cerca de 9 mil cidades de 128 países (16% da população global), à volta de 240 estados e regiões de mais de 40 países (17% da população global) e mais de 6 mil empresas de 120 países, representando 36 biliões de dólares de volume de negócios, se comprometeram com planos de combate contra as alterações climáticas. Deste conjunto, 27 grandes metrópoles no mundo já passaram o seu pico de emissões e estão a caminho de serem neutras em emissões de carbono até 2050.
A solução para a situação-limite para a sustentabilidade das pessoas e do planeta em que vivemos tem de vir da capacidade de colaboração entre todos os atores públicos e privados que ultrapasse a negociação tradicional e se centre em estratégias e partilha de objetivos e na descoberta de sinergias de longo prazo.
O desafio está do lado das políticas. As instituições governamentais necessitam de criar mecanismos que sentem à mesa todos os atores - empresas responsáveis, universidades, sociedade civil, centros de inovação, entre outros - e estes se envolvam num sólido e frutuoso diálogo que alcance os melhores planos de longo prazo e políticas para abordar os Objetivos e Metas do Desenvolvimento Sustentável. Quando estes integram desde logo a inovação, as tecnologias, os recursos, os quadros legais e os dados necessários para que tenham o maior impacto nos objetivos partilhados, favorecem o alinhamento de estratégias privadas, desencadeiam sinergias, mobilizam o interesse de investidores privados de longo prazo e enraízam a procura de uma cidadania fortalecida pela interconexão da transparência das sociedades atuais. Todos ganham.
Projetos em que se fortalece o papel do cidadão na adoção por modos mais sustentáveis de vida ocorrem, por exemplo, nas cidades de Matosinhos e Cascais com um novo conceito em desenvolvimento pelo CEiiA: a plataforma AYR para quantificar, valorizar e transacionar emissões de carbono evitadas pelos seus utilizadores nas cidades ao optarem por modos mais sustentáveis de mobilidade.
Sem as cidades e sem os cidadãos não se atingirão as metas do Acordo de Paris nem se implementarão os ODS até 2030, como foi o compromisso dos líderes mundiais na cimeira da ONU de Nova Iorque de 2015. Hoje, temos um Plano para os ODS a nível local, para mobilizar todos os atores locais, públicos e privados de todo o mundo e uma estratégia "bottom-up" para ampliar os esforços individuais, conectando-os a uma escala universal, desde Cascais, Matosinhos, Lisboa e Porto com Madrid, México, Maputo e a sede das Nações Unidas em Nova Iorque.
United Nations Global Compact - Cities Programme