Opinião
Cadeias de recuperação
No fundo, combatemos o impacto do coronavírus da mesma maneira que ele se propagou. Através de cadeias de recuperação, de contágio positivo de empresa para empresa, de setor para setor, de economia para economia. E, assim, sairemos deste isolamento, mais unidos do que nunca.
Enquanto associação, que representa o setor da ourivesaria portuguesa, há muito que fazemos a apologia do coletivo. A importância das empresas se unirem para ganharem representatividade e expressão.
Como uma espécie de ecossistema em que as forças se unem para gerar equilíbrio. Quanto mais denso e coeso, mais forte e imune.
O antídoto mais eficaz para a salvaguarda da saúde pública é o isolamento. Mas não tenhamos dúvidas de que a cura para a salvação das empresas e da economia nacional passa invariavelmente pelo seu inverso: a união.
Não queremos com isto evocar La Palisse. Mas antecipar, ainda em tempos de isolamento, aquilo que deverão ser as bases de uma retoma que será difícil e ainda imprevisível. Conduzir as empresas para a criação de plataformas coletivas, primeiro de partilha, porque a solução deverá ser (re)construída em conjunto. Ligados no problema, ligados na solução. Depois, de promoção, enfrentando uma realidade mais competitiva, mais aguerrida e mais confusa que nunca. Nomeadamente no campo do digital, que se tornou uma oportunidade ao mesmo tempo que uma ameaça, tal é a desorientação e a profusão do lado das empresas e do consumidor, que se veem agora num pequeno bote de borracha a navegar num oceano imenso de informação. É preciso definir rumos e começar a remar no mesmo sentido.
Podemos desde já apontar algumas coordenadas óbvias, como a necessária partilha de serviços e recursos (técnicos, tecnológicos, humanos) entre as empresas, sobretudo entre as micro e pequenas empresas; a criação de fóruns de discussão, nos quais os empresários possam partilhar as suas dificuldades e encontrar soluções comuns, ganhando representatividade na sua reivindicação; a dinamização de sinergias entre empresas de serviços complementares (matchmaking empresarial); a capacitação dos empresários e seus recursos humanos para as novas competências exigidas (e-commerce, comunicação digital, etc.); o desenvolvimento de plataformas coletivas de promoção internacional, que orientem as empresas na necessária retoma aos mercados externos.
E o potencial deste ecossistema empresarial já se começa a sentir, na forma como as empresas se aliaram à estratégia nacional de combate ao coronavírus, unindo-se para produzir o que se tornaram agora bens de primeira necessidade, como máscaras e equipamento de proteção individual para apoiar as equipas médicas na frente de batalha. A história sempre nos mostrou como, em alturas de grandes dificuldades, os interesses individuais se subjugam aos interesses coletivos.
E é neste contexto, que as associações setoriais assumem um papel essencial de servirem de timoneiros da recuperação, criando elos de ligação não só dentro do setor, como entre setores. No fundo, combatemos o impacto do coronavírus da mesma maneira que ele se propagou. Através de cadeias de recuperação, de contágio positivo de empresa para empresa, de setor para setor, de economia para economia. E, assim, sairemos deste isolamento, mais unidos do que nunca.
Presidente da AORP