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06 de Junho de 2021 às 21:06

Preparem a remodelação

A remodelação é necessária e urgente. A esperança é de que quem entrar não seja de pior qualidade do que quem irá sair. Porque se assim for, como alguém dizia um destes dias com graça, o melhor é entregar já tudo ao vice-almirante Gouveia e Melo.

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O período de confinamento criou um foco na vida das pessoas, das empresas, das instituições e, claro, no Governo. De igual forma, parece que o desconfinamento retirou o foco a todos. Se durante largos meses o Governo comandou as operações com algum grau de sensatez e eficácia e as pessoas, assustadas e receosas, lá foram cumprindo o que lhes era pedido, a verdade é que agora já ninguém liga a coisa nenhuma. Acrescem os exemplos, quase todos maus, das tentativas de abertura de exceções, sem critério que não seja o de ser simpático para quem não nos respeita, em que dificilmente se encontra um fundamento válido que possa ser estendido a toda a população.

O Governo devia criar uma matriz de risco para si próprio em vez de tentar diariamente mostrar à população um quadradinho que ninguém entende. Já nem os epidemiologistas concordam com aquilo. Mas esta matriz de risco serviria apenas para saber quando é que cada ministro está na zona perigosa, isto é, aquela em que a sua atuação ou a sua simples aparição, se arrisca a contaminar o Governo por inteiro. O desgaste da equipa de António Costa é evidente e o desnorte ou o cansaço tomou conta de muitos dos seus membros. A pandemia foi durante muito tempo justificação para que não houvesse uma remodelação profunda do Governo e a presidência portuguesa ainda em curso não aconselhava a grandes mudanças. Mas terá chegado a hora, no início de julho, de finalmente fazer o que já devia ter sido feito. Este que é o maior governo de sempre, em número de membros, é também aquele em que conhecemos pior os seus responsáveis. Normalmente é o primeiro-ministro que toma conta de tudo. Em particular quando as coisas correm bem. O que é normal é que quando há “acidentes de percurso” em qualquer área da governação é o responsável de cada pasta que vem dar a cara. Perguntem aos portugueses quantos governantes, ministros ou secretários de Estado conhecem. Contam-se pelos dedos de uma mão. E não aparecem porquê? Porque corre tudo bem nos seus setores? Não me parece. A falta de protagonismo é imposta pelo chefe de governo porque sabe que se tal acontecesse o risco de dar asneira era muito maior.

Basicamente conhecemos a ministra da Saúde e o ministro da Economia pelas razões que todos sabem. A da Saúde está em progressivo desaparecimento, felizmente por boas razões, e o da Economia aparece de quando em vez a anunciar que a recuperação haverá de chegar. Mas ainda não sabe quando. Depois temos a ministra bombeira, a da Presidência, que semanalmente aparece para encher o espaço mediático embora sem grande substância. O dos Negócios Estrangeiros só trata de temas europeus e volta e meia lá dá um ar da sua graça com ar descontraído. Agora, repentinamente apareceu também o da Defesa, mas só porque não há militar que concorde com as alterações à lei que o bloco central do costume cozinhou às escondidas. E por fim, mas seguramente não menos importante, temos o da Administração Interna. É uma espécie de joker que serve simultaneamente para nos entreter e para centrar sobre si as atenções e as críticas. Pelo menos assim os seus colegas têm alguns dias de descanso. Todos os restantes ministros, até, pasme-se, o das Finanças, não se sabe nem por onde andam nem no que andarão a pensar. Provavelmente a tentar adivinhar o dia em que finalmente serão substituídos e agraciados pelo Presidente da República.

Paradoxalmente, no meio de tudo isto, a popularidade de António Costa não cai nas sondagens. Isto também diz muito da qualidade da oposição. Mas aguentar o próximo ano com a mesma equipa será impossível e comprometerá as aspirações do primeiro-ministro queira ele continuar em Portugal ou fazer o já tradicional percurso europeu de consagração. A remodelação é necessária e urgente. A esperança é de que quem entrar não seja de pior qualidade do que quem irá sair. Porque se assim for, como alguém dizia um destes dias com graça, o melhor é entregar já tudo ao vice-almirante Gouveia e Melo.

 

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