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No mundo dos livros prefere-se criatividade (e o erro) do humano
Há uma linha vermelha que a fundadora e diretora da Tinta-da-China não cruza: “Não utilizamos a inteligência artificial quando substitui a criatividade. Não estou disponível para prescindir do trabalho humano e prefiro sempre contar com o erro humano para tudo o que é criativo”, seja na revisão, na tradução, na fotografia, ilustração ou na feitura de uma capa.
No mundo livreiro trabalha-se há anos com diferentes tipos de “software” que, de uma maneira ou de outra, bebem da inteligência artificial, que são usados para ajudar, por exemplo, na correção ortográfica. E Bárbara Bulhosa reconhece a mais-valia da IA para “tudo o que é trabalho repetitivo e mecânico”: “Se eu tivesse um programa que me cotejasse um livro seria muito melhor”, mas há uma linha vermelha que a fundadora e diretora da Tinta-da-China não cruza: “Não utilizamos a inteligência artificial quando substitui a criatividade. Não estou disponível para prescindir do trabalho humano e prefiro sempre contar com o erro humano para tudo o que é criativo”, seja na revisão, na tradução, na fotografia, ilustração ou na feitura de uma capa.
Bárbara Bulhosa foi, aliás, uma das mais de 60 figuras do mundo livreiro, entre escritores, tradutores, editores, revisores, críticos e livreiros que publicaram, no início do mês de abril, uma carta aberta, no jornal Público, em que denunciam que “a tradução de livros feita essencialmente com recurso a programas de inteligência artificial (ChatGPT, DeepL) tem sido uma prática cada vez mais utilizada em certos setores do meio editorial português, sem que isso seja sequer tornado transparente aos leitores”, alertam para “uma inegável regressão na qualidade das obras” e para “repercussões graves ao nível laboral”.
Bárbara Bulhosa Fundadora e diretora da Tinta-da-China
“Há editoras que têm sempre o mesmo tradutor em 40 livros num ano. Isto é impossível, é falso, não existe. É uma máquina que o faz e fá-lo, de facto, muito mais rapidamente, mas isso não me interessa”, vinca. “Tudo o que é texto literário feito por pessoas deve ter pessoas a traduzir, com a sua cultura e a sua sensibilidade, porque esse é um trabalho também ele criativo, assinado, de coautoria e é, por isso, que, por vezes, temos boas traduções, tão diferentes umas das outras, do mesmo livro”, argumenta.
Em nome da transparência
Bárbara Bulhosa sustenta que o essencial é a “transparência”, caso contrário estar-se-á “a enganar os leitores”, pelo que ren ova o apelo urgente, plasmado na carta aberta para que o novo Governo, em concreto a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, “preste especial atenção à regulação e transparência no uso de inteligência artificial generativa no setor editorial, não só obrigando legalmente as editoras a indicar a fonte de qualquer tradução, explicitando-a logo no frontispício dos livros, como criando mecanismos de incentivo ao financiamento e publicação de traduções não geradas artificialmente”.