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Velhice, demência, dor. Cinco respostas exemplares

Dos Açores à Madeira, de Fátima a Ponte de Lima, são muitos os casos de boas práticas e bons exemplos na área da saúde. Em baixo, cinco entidades que mereceram menções honrosas. Em comum, a saúde e a prioridade dada ao utente.

Negócios 04 de Dezembro de 2019 às 12:00
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Menções Honrosas

Elisabete Lima
Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel - Reabilitação Domiciliária

Resultados em saúde

Este projeto nasceu em 2010 com o objetivo de colmatar as necessidades de cuidados de enfermagem de uma população maioritariamente idosa e com elevado grau de dependência na ilha açoriana. É composto por cinco enfermeiras que se deslocam a casa dos utentes, evitando com isso que os doentes gastem tempo em muitos quilómetros de deslocações e horas de espera para a consulta ou internamento.

"Nós vamos precisamente ter com os que não têm voz, com os esquecidos, com aqueles que só são relembrados quando entram no serviço de urgência", diz Sandra Guiomar, uma das enfermeiras do projeto.

Com 75 utentes abrangidos, este projeto permitiu reduzir o número de internamentos em 2018, num valor equivalente a uma poupança de 43,6 mil euros para o serviço regional de saúde. "Estamos a falar numa redução de cerca de 71% dos custos", frisa Elisabete Lima, a enfermeira coordenadora do projeto, que tem uma taxa de implementação na ilha de São Miguel de 20%, abrangendo Ponta Delgada e Lagoa, dois dos seis concelhos da ilha.

Elisabete Lima salienta que o objetivo no futuro é alargar as áreas de atuação a toda a ilha e depois replicado em toda a região. Mas para isso será preciso reforçar a equipa porque "os recursos humanos são poucos".


Manuel Caldas de Almeida
União das Misericórdias Portuguesas - Centralização de Recursos Farmacêuticos

Responsabilidade ambiental

Este projeto assenta num grupo centralizado de farmacêuticos que, ao abrigo de um regime de exceção concedido pelo Infarmed - Autoridade Nacional do Medicamento, assegura, controla e monitoriza todo o circuito do medicamento desde a aquisição à administração nas unidades de cuidados continuados da União das Misericórdias Portuguesas. A rede nacional de cuidados continuados exige um farmacêutico responsável pelo circuito do medicamento, mas para a maioria das unidades seria difícil ter um a tempo inteiro. Por outro lado, a UMP queria assegurar a qualidade técnica de todo circuito do medicamento.

Foi precisamente por estas razões que Manuel Caldas de Almeida, médico mentor do projeto Centralização de Recursos Farmacêuticos, fez a proposta ao Infarmed. A rede tem 14 anos de funcionamento e o projeto começou ao fim de quatro/cinco anos depois de o Infarmed ter dado a autorização excecional para que isso acontecesse. "Fomos crescendo e neste momento temos 86 unidades a quem damos cobertura no circuito do medicamento e isto implica termos oito a dez farmacêuticos em permanência", revelou Manuel Caldas de Almeida. O responsável do projeto destaca ainda a poupança financeira que resultou da centralização de recursos farmacêuticos, em duas vertentes.


Jean-Claude Fernandes
SESARAM - Reabilitação e Tecnologia

Novas práticas de caráter inovador

Este projeto resulta da parceria entre o Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Serviço Regional de Saúde (SESARAM) e a Universidade da Madeira. A implementação deste projeto de reabilitação cognitiva (atenção, memória e função executiva) em utentes em lesões encefálicas no hospital Dr. Nélio Mendonça (Funchal), sem custos para o ESARAM, é feita com recurso a sistemas interativos de realidade virtual, o qual é ajustado às capacidades de cada utente. São realizadas duas sessões semanais, de 50 minutos cada, durante 12 semanas, e é feito um plano individual de treino diário de estimulação cognitiva.

O projeto, que começou a funcionar em janeiro deste ano, assenta no tratamento inovador de pessoas que sofreram traumatismos cranianos e AVC. É inovador pelas técnicas utilizadas, como uma cidade virtual, onde o doente faz tudo como se estivesse na cidade a fazer várias coisas reais, como ir ao multibanco, ao supermercado, ao banco ou à tabacaria. Jean-Claude Fernandes, o médico especializado em medicina física e de reabilitação responsável por este projeto, salienta que este serviço já "é uma referência nacional" e já "está ao nível" dos grandes centros internacionais. "Temos ambições e vamos ver até onde este projeto pode avançar", diz.


Raul Pereira
ULS Alto Minho/USF Lethes - Consulta de Dor

Saúde, experiência do cidadão

Esta unidade de saúde do concelho de Ponte de Lima criou uma "bússola" para resgatar todas as semanas os utentes com dores persistentes. Os médicos passaram a enviar os doentes com suspeita e/ou dor crónica confirmada para serem avaliados nesta consulta, em que são feitos questionários e escalas validadas para aferir o grau de dor, a incapacidade para as atividades do dia-a-dia, entre outras variáveis relevantes, como a ansiedade e a depressão. A partir daí é delineado um plano específico de tratamento para cada doente. "Já me dedico a esta questão (dor crónica) desde que sou médico, há quase 15 anos. E fui-me deparando na prática clínica do dia-a-dia com estes doentes que andavam perdidos no sistema, estavam em várias especialidades ao mesmo tempo, recorriam ao serviço de urgência e muitas vezes a medicação que estavam a fazer que, tal como a fisioterapia, também não era o mais indicado", conta Raul Pereira, o coordenador deste projeto criado em 2015. A consulta de dor envolve três médicos e uma enfermeira.

Em quatro anos, a USF Lethes fez cerca de duas mil consultas a mais de 500 pessoas, com cerca de 80% dos doentes a reportarem um grau de melhoria significativo. 70% dos doentes deixaram de recorrer às consultas normais e a prescrição anual de inflamatórios baixou quase 11 pontos percentuais.


Caterina Cerqueira
União das Misericórdias Portuguesas/UCCI Bento XVI - UCCI especializada em utentes com demência

Sustentabilidade económica

O apoio especializado e humanizado dos utentes com demência é o principal objetivo deste projeto inovador desenvolvido pela Unidade de Cuidados Continuados Bento XVI, em Fátima, que criou um grupo específico para o efeito.

São vários os fatores diferenciadores destra unidade-modelo. A começar pela estrutura e o ambiente do edifício. Depois os cuidados são prestados por uma equipa multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, técnica de serviço social, terapeutas, fisioterapeutas, neuropsicóloga, entre outros profissionais.

Quando dão entrada, os doentes são avaliados por todas as áreas, criando-se grupos de trabalho por categorias. "É feita uma avaliação de basem tendo em conta o perfil cognitivo, o grau de declíneo que já tem, bem como as capacidades mantidas. Isto vai permitir definir o que cada utente poderá trabalhar, aliado ao gosto de cada um e à capacidade de interação em grupo", destaca a neuropsicóloga, Helena Pedrosa, a neuropsicóloga, salientando o facto de o trabalho efetuado "passa muito por pegar nos conceitos técnicos e aplicá-los através da humanicação". Esta unidade já uma referência e reconhecida fora de portas. A diretora técnica da Bento XVI, Caterina Cerqueira revela que ja receberam muitas visitas de outras instituições que querem replicar o projeto nas suas zonas.

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