- Partilhar artigo
- ...
Foto em cima: O Provedor da Santa Casa, Firmino Falcão (ao centro) encontra-se apoiado pela diretora coordenadora, Patrícia Mendes (lado esquerdo) e o director técnico, o médico Pena Ramos (lado direito), e por muitos outros profissionais que servem de suporte a todo o trabalho multidisciplinar.
É impossível falar do Entroncamento sem que nos venha à memória histórias dos famosos fenómenos que encheram páginas de jornais durante décadas. Com origem nos anos 50, depois do relato do invulgar aparecimento de um melro branco, muitas outras curiosidades, sobretudos agrícolas, como uma abóbora de 60 quilos ou um ovo de galinha com 800 gramas, foram sendo, regularmente notícia a nível nacional. E a pequena freguesia foi assim crescendo ao sabor das memórias coletivas, em muito alimentadas pela jornalista Eduardo O. P. Brito, que relatava muitos destes invulgares achados.
Mas, apesar de não ser um fenómeno, o trabalho realizado pela Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento é, sem dúvida, um bom exemplo do que melhor se faz ao nível dos cuidados de saúde em Portugal. Esta instituição, que nasceu em 1950, tem hoje valências sociais em diversas áreas, tendo sob a sua alçada o Hospital S. João Batista, o Lar Fernando Eiró Gomes, o Lar Santa Casa da Misericórdia e a Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) Manuel Fanha Vieira. Foi esta última que nos levou a visitar esta cidade do vale do Tejo cujo nome deriva do entroncamento ferroviário que une as linhas ferroviárias do Norte e do Leste desde 1864.
Segundo Firmino Falcão, Provedor da Santa Casa, a inauguração da UCCI Manuel Fanha Vieira, em 2010, surgiu para oferecer um serviço cada vez mais ajustado à necessidade da população. "A oferta de mais esta valência vai beneficiar e melhorar as outras atividades da Santa Casa. A nossa estratégia é prestar um serviço com mais qualidade, para assim podermos servir a população da melhor forma possível", explica o Provedor.
Esta unidade, especializada em reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social, dispõe de uma equipa multidisciplinar que ascende a uma centena de profissionais - nem todos a tempo inteiro, já que alguns são partilhados com as outras unidades da Santa Casa - que se ocupam dos 85 cinco utentes que recebe em simultâneo. Estas camas, integradas na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, estão divididas por três pisos, onde se encontram 15 para utentes em convalescença (período expectável de recuperação até 30 dias), 40 para a média duração (período de internamento até 90 dias) e 30 destinadas a utentes acima dos 90 dias de internamento.
O trabalho multidisciplinar é devidamente orquestrado por todas as áreas de intervenção e envolve técnicos e profissionais especializados em medicina, psicologia, serviços social, enfermagem, medicina física e de reabilitação, e ainda de animação sociocultural e auxiliares de ação médica.
As atividades desenvolvidas com os utentes têm sempre por base os três princípios da rede - a reabilitação, a readaptação e a reinserção familiar e social - através do seu plano de intervenção multidisciplinar. "A inovação está no trabalho conjunto que é feito entre estas três áreas, ou seja, há atividades desenvolvidas em conjunto com as várias terapias, devidamente programadas, nomeadamente no treino das Atividades de Vida Diária (AVD’s) em contexto exterior", afirma Patrícia Mendes, Diretora Coordenadora da UCCI.
Por exemplo, como a UCCI se situa num área urbana mas com alguma ruralidade envolvente existem atividades que sejam referência para os utentes, como é o caso da horta terapêutica. "Aqueles que o pretenderem, no âmbito das suas atividades de reabilitação, podem cuidar daquele espaço. Aí fazem o treino das motricidades, acabam por trabalhar competentes mais técnicas mas também intervém no âmbito da sua saúde mental", explica Patrícia Mendes.
Instalações modernas e acolhedoras, ambiente familiar e cuidado, com diversas atividades lúdicas a acontecer - há um programa semanal afixado nos pisos - ao longo da semana, são alguns dos mimos existentes a pensar no bem estar do utente. No dia da nossa visita, grupos de utentes desenvolviam enfeites para as árvores de natal da instituição, em alegre convívio. Esta atenção dedicada é o fator diferenciador da unidade, o que a leva a estar sempre ocupada na sua lotação máxima. Um bom exemplo da preocupação desta equipa é a proximidade e o envolvimento da família no processo de recuperação. "Um fator que vai influenciar o processo de reabilitação tem a ver com o ajuste das expectativas. Para cada admissão é feita uma reunião com a família, onde são avaliadas as expectativas do utente e do cuidador para perceber se tem consciência daquilo que é a sua situação e aquilo que é previsível ser reabilitado", afirma a diretora.
Essa reunião inicial, feita uma semana após a admissão para que já tenham sido realizadas as avaliações em todas as áreas de intervenção, serve para dar feedback do plano de reabilitação e daquilo que se prevê que, naquele prazo de intervenção, seja possível alcançar. A repetição periódica destas reuniões serve para os reajustes, não só no plano, mas também das expectativas da família. Tudo em prol da melhoria dos serviços, que lhes poderá trazer o carimbo da excelência.
A figura
Manuel Fanha Vieira
Ex-Provedor da Misericórdia
A Unidade de Cuidados Continuados Integrados foi batizada de Manuel Fanha Vieira em homenagem ao Provedor da Santa Casa da Misericórdia que esteve a na origem da criação do projeto, pioneiro na altura. Manuel Fanha Vieira foi presidente da Câmara Municipal do Entroncamento, entre 1982 e 1985, e Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento entre 2000 e 2016. Construiu, durante o seu mandato, o Lar Santa Casa da Misericórdia e a Unidade de Cuidados Continuados Integrados, que acabou por ficar com o seu nome. Este responsável faleceu o ano passado. A dar continuidade ao trabalho da Santa Casa, e em particular da UCCI ficou Firmino Falcão, que fez a sua carreira profissional na Magistratura (Ministério Público), presidiu à Associação Filarmónica e Cultural do Entroncamento, na década de 1990, é membro do Rotary Club do Entroncamento, funções que acumula com a de Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento desde 2017.
Perguntas a Firmino Falcão
Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento
"A ideia é ter sempre a lotação esgotada"
Como surgiu a ideia deste projeto?
Houve um momento pioneiro, quando se iniciou a experiência piloto, inicialmente integrada no hospital da Santa Casa, o Hospital de São João Batista, e foi aí que foram instaladas as camas necessárias para arrancar com o projeto. Estamos numa comunidade a quem tentamos dar o melhor, e fazemo-lo recebendo as pessoas que necessitam do nosso serviço, quer na área da saúde quer nesta área de cuidados específicos.
Esta unidade é especializada em reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social. O que vos distingue?
O que nos distingue é o rigor em que se trabalham esses princípios, que estão na origem da criação da rede cuidados continuados. O foco no utente deve prever a reabilitação, readaptação e reinserção em meio social e familiar. Esta unidade tem uma equipa multidisciplinar muito focada nestes três princípios.
De que forma é que chegam aqui os utentes?
Só há duas formas de entrar na rede: por referenciação do hospital ou através de referenciação do centro de saúde. Não temos qualquer hipótese de escolher os utentes que chegam até nós, o que é importante, pois não há o perigo de individualizar. Havendo uma vaga, a rede é nacional e havendo a preferência do utente nesta unidade, ele entra. Um dos nossos indicadores de qualidade tem sido os reinternamentos por opção dos utentes, e também sermos a sua primeira escolha.
Há investimentos previstos para esta unidade, por exemplo, na sua ampliação?
A unidade foi construída para uma determinada lotação, portanto daqui não se pode passar. Queremos é que quem aqui está tenha o melhor serviço possível, porque a unidade perde se não o fizer. A ideia é ter sempre a lotação esgotada, porque isso quer dizer que as pessoas escolhem esta unidade. Mas também estamos sempre a pensar em melhorias, por exemplo, o ano passado pensámos em alargar a mais 15 a 20 camas, não neste edifício mas no hospital.
É impossível falar do Entroncamento sem que nos venha à memória histórias dos famosos fenómenos que encheram páginas de jornais durante décadas. Com origem nos anos 50, depois do relato do invulgar aparecimento de um melro branco, muitas outras curiosidades, sobretudos agrícolas, como uma abóbora de 60 quilos ou um ovo de galinha com 800 gramas, foram sendo, regularmente notícia a nível nacional. E a pequena freguesia foi assim crescendo ao sabor das memórias coletivas, em muito alimentadas pela jornalista Eduardo O. P. Brito, que relatava muitos destes invulgares achados.
Mas, apesar de não ser um fenómeno, o trabalho realizado pela Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento é, sem dúvida, um bom exemplo do que melhor se faz ao nível dos cuidados de saúde em Portugal. Esta instituição, que nasceu em 1950, tem hoje valências sociais em diversas áreas, tendo sob a sua alçada o Hospital S. João Batista, o Lar Fernando Eiró Gomes, o Lar Santa Casa da Misericórdia e a Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) Manuel Fanha Vieira. Foi esta última que nos levou a visitar esta cidade do vale do Tejo cujo nome deriva do entroncamento ferroviário que une as linhas ferroviárias do Norte e do Leste desde 1864.
Segundo Firmino Falcão, Provedor da Santa Casa, a inauguração da UCCI Manuel Fanha Vieira, em 2010, surgiu para oferecer um serviço cada vez mais ajustado à necessidade da população. "A oferta de mais esta valência vai beneficiar e melhorar as outras atividades da Santa Casa. A nossa estratégia é prestar um serviço com mais qualidade, para assim podermos servir a população da melhor forma possível", explica o Provedor.
100
Profissionais
Estão envolvidos no acompanhamento dos 85 utentes, que ocupam a UCCI em simultâneo, uma centena de pessoas.
Esta unidade, especializada em reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social, dispõe de uma equipa multidisciplinar que ascende a uma centena de profissionais - nem todos a tempo inteiro, já que alguns são partilhados com as outras unidades da Santa Casa - que se ocupam dos 85 cinco utentes que recebe em simultâneo. Estas camas, integradas na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, estão divididas por três pisos, onde se encontram 15 para utentes em convalescença (período expectável de recuperação até 30 dias), 40 para a média duração (período de internamento até 90 dias) e 30 destinadas a utentes acima dos 90 dias de internamento.
O trabalho multidisciplinar é devidamente orquestrado por todas as áreas de intervenção e envolve técnicos e profissionais especializados em medicina, psicologia, serviços social, enfermagem, medicina física e de reabilitação, e ainda de animação sociocultural e auxiliares de ação médica.
As atividades desenvolvidas com os utentes têm sempre por base os três princípios da rede - a reabilitação, a readaptação e a reinserção familiar e social - através do seu plano de intervenção multidisciplinar. "A inovação está no trabalho conjunto que é feito entre estas três áreas, ou seja, há atividades desenvolvidas em conjunto com as várias terapias, devidamente programadas, nomeadamente no treino das Atividades de Vida Diária (AVD’s) em contexto exterior", afirma Patrícia Mendes, Diretora Coordenadora da UCCI.
Por exemplo, como a UCCI se situa num área urbana mas com alguma ruralidade envolvente existem atividades que sejam referência para os utentes, como é o caso da horta terapêutica. "Aqueles que o pretenderem, no âmbito das suas atividades de reabilitação, podem cuidar daquele espaço. Aí fazem o treino das motricidades, acabam por trabalhar competentes mais técnicas mas também intervém no âmbito da sua saúde mental", explica Patrícia Mendes.
Para cada admissão é feita uma reunião com a família, onde são avaliadas as expetativas do utente e do cuidador para perceber se tem consciência daquilo que é previsível ser reabilitado. Patrícia Mendes
Directora Coordenadora da UCCI Manuel Fanha Vieira
Directora Coordenadora da UCCI Manuel Fanha Vieira
Instalações modernas e acolhedoras, ambiente familiar e cuidado, com diversas atividades lúdicas a acontecer - há um programa semanal afixado nos pisos - ao longo da semana, são alguns dos mimos existentes a pensar no bem estar do utente. No dia da nossa visita, grupos de utentes desenvolviam enfeites para as árvores de natal da instituição, em alegre convívio. Esta atenção dedicada é o fator diferenciador da unidade, o que a leva a estar sempre ocupada na sua lotação máxima. Um bom exemplo da preocupação desta equipa é a proximidade e o envolvimento da família no processo de recuperação. "Um fator que vai influenciar o processo de reabilitação tem a ver com o ajuste das expectativas. Para cada admissão é feita uma reunião com a família, onde são avaliadas as expectativas do utente e do cuidador para perceber se tem consciência daquilo que é a sua situação e aquilo que é previsível ser reabilitado", afirma a diretora.
Essa reunião inicial, feita uma semana após a admissão para que já tenham sido realizadas as avaliações em todas as áreas de intervenção, serve para dar feedback do plano de reabilitação e daquilo que se prevê que, naquele prazo de intervenção, seja possível alcançar. A repetição periódica destas reuniões serve para os reajustes, não só no plano, mas também das expectativas da família. Tudo em prol da melhoria dos serviços, que lhes poderá trazer o carimbo da excelência.
A figura
Manuel Fanha Vieira
Ex-Provedor da Misericórdia
A Unidade de Cuidados Continuados Integrados foi batizada de Manuel Fanha Vieira em homenagem ao Provedor da Santa Casa da Misericórdia que esteve a na origem da criação do projeto, pioneiro na altura. Manuel Fanha Vieira foi presidente da Câmara Municipal do Entroncamento, entre 1982 e 1985, e Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento entre 2000 e 2016. Construiu, durante o seu mandato, o Lar Santa Casa da Misericórdia e a Unidade de Cuidados Continuados Integrados, que acabou por ficar com o seu nome. Este responsável faleceu o ano passado. A dar continuidade ao trabalho da Santa Casa, e em particular da UCCI ficou Firmino Falcão, que fez a sua carreira profissional na Magistratura (Ministério Público), presidiu à Associação Filarmónica e Cultural do Entroncamento, na década de 1990, é membro do Rotary Club do Entroncamento, funções que acumula com a de Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento desde 2017.
Perguntas a Firmino Falcão
Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento
"A ideia é ter sempre a lotação esgotada"
Como surgiu a ideia deste projeto?
Houve um momento pioneiro, quando se iniciou a experiência piloto, inicialmente integrada no hospital da Santa Casa, o Hospital de São João Batista, e foi aí que foram instaladas as camas necessárias para arrancar com o projeto. Estamos numa comunidade a quem tentamos dar o melhor, e fazemo-lo recebendo as pessoas que necessitam do nosso serviço, quer na área da saúde quer nesta área de cuidados específicos.
Esta unidade é especializada em reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social. O que vos distingue?
O que nos distingue é o rigor em que se trabalham esses princípios, que estão na origem da criação da rede cuidados continuados. O foco no utente deve prever a reabilitação, readaptação e reinserção em meio social e familiar. Esta unidade tem uma equipa multidisciplinar muito focada nestes três princípios.
Um dos nossos indicadores de qualidade tem sido os reinternamentos por opção dos utentes e também sermos a sua primeira escolha. firmino falcão
De que forma é que chegam aqui os utentes?
Só há duas formas de entrar na rede: por referenciação do hospital ou através de referenciação do centro de saúde. Não temos qualquer hipótese de escolher os utentes que chegam até nós, o que é importante, pois não há o perigo de individualizar. Havendo uma vaga, a rede é nacional e havendo a preferência do utente nesta unidade, ele entra. Um dos nossos indicadores de qualidade tem sido os reinternamentos por opção dos utentes, e também sermos a sua primeira escolha.
Há investimentos previstos para esta unidade, por exemplo, na sua ampliação?
A unidade foi construída para uma determinada lotação, portanto daqui não se pode passar. Queremos é que quem aqui está tenha o melhor serviço possível, porque a unidade perde se não o fizer. A ideia é ter sempre a lotação esgotada, porque isso quer dizer que as pessoas escolhem esta unidade. Mas também estamos sempre a pensar em melhorias, por exemplo, o ano passado pensámos em alargar a mais 15 a 20 camas, não neste edifício mas no hospital.