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Há poucos dias morreu uma jovem de doença oncológica, depois de mais de um ano em tratamento. A equipa médica de cuidados paliativos do hospital de Macedo de Cavaleiros ficou muito abalada. Neste departamento, estabelece-se uma forte ligação entre os médicos, o paciente e a família. A jovem mulher estava internada e, quando assim é, a equipa procura manter os doentes o mais felizes possíveis. É permitido fumar, beber e até as cozinheiras estão preparadas para responderem a um desejo especial.
O internamento é a solução para os doentes mais complexos. Duarte Soares, médico do departamento de cuidados paliativos da Unidade Local de Saúde do Nordeste, explica que houve um investimento para eliminar a ideia estabelecida que esta era a ala do pré-cemitério. Actualmente, os doentes têm acesso a peças de teatro, cinema, ginástica, musicoterapia… "Estes doentes têm os mesmos direitos que os outros, como não se podem mexer trazemos a sociedade cá para dentro", diz. Desta forma, acredita, "o foco da atenção passa a ser o dia-a-dia e não as histórias das desgraças".
72
Doentes
A unidade domiciliária de cuidados paliativos Terra Fria acompanha 72 doentes com patologias crónicas e incuráveis.
Maria de Fátima Teixeira está doente, mas em casa. Sofre de várias patologias incuráveis. No entanto, levanta-se todos os dias, consegue preparar as refeições e quando se sente mais forte dá um jeitinho à casa. É uma das 72 doentes com patologias crónicas e incuráveis de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Vinhais que é acompanhada pela unidade domiciliária de cuidados paliativos Terra Fria. Este projecto, criado em Março do ano passado, é uma resposta aos doentes que garantem alguma autonomia e podem por isso ser acompanhados nos locais onde usufruem de maior conforto: a própria casa.
"Enquanto puder estar na minha casinha", diz Maria de Fátima, com os olhos marejados enquanto olha para o médico e para a enfermeira que a consultam. Está feliz. Tem a consulta e principalmente tem em casa a filha, emigrada em França, com a neta recém-nascida. O marido, já idoso, mas ainda homem de labuta diária no campo, também a acompanha no dia-a-dia. Esta mulher, com 63 anos, recebe actualmente visitas semanais da Terra Fria, altura em que é feita uma análise clínica ao seu estado de saúde - normalmente por uma enfermeira -, é-lhe doseada a medicação para a semana e, não menos importante, é-lhe dado mimo e alguma conversa.
"Os meus olhos são os olhos da enfermeira", explica Duarte Soares. O médico não está presente em todas as visitas, por isso, aguarda indicações da enfermeira sobre o estado de saúde da doente. Em caso de necessidade, desloca-se ao domicílio, caso contrário mantém-se a consulta regular. Filomena Costa, enfermeira da unidade, conta que os doentes esperam com alguma ansiedade a visita. "É um momento social, que altera a rotina, estão à nossa espera, somos sempre as mesmas caras". A própria aldeia também os aguarda, "porque passam dias sem ver ninguém".
O projecto Terra Fria está operacional nas 24 horas do dia, nos 365 dias do ano, com uma equipa holística constituída por médicos, enfermeiros, um assistente operacional, um psicólogo, um terapeuta ocupacional, um fisioterapeuta e um assistente social. A equipa acompanhou 140 doentes e suas famílias no primeiro acto de actividade, realizou mais de quatro mil intervenções, entre visitas domiciliárias e contactos telefónicos. "O projecto era mesmo preciso", sublinha Duarte Soares.
Todos os dias o carro da Terra Fria sai do hospital de Macedo de Cavaleiros para visitar os doentes, alguns têm consultas diárias se a situação clínica assim o exigir. O carro desloca-se normalmente a quatro ou cinco domicílios por dia, o que significa percorrer quase 300 quilómetros. Afinal, "60% dos doentes está a mais de 100 quilómetros do hospital de Macedo de Cavaleiros e 90% a mais de 50", realça o médico especializado em medicina interna.
"O desafio é mantê-los no domicílio tanto tempo quanto possível, eles querem morrer em casa, é o seu local preferido", diz Duarte Soares. O projecto Terra Fria responde assim a duas questões essenciais: o bem-estar do doente e a sustentabilidade económica do Serviço Nacional de Saúde. Para Duarte Soares, este serviço permite retirar os doentes das urgências, que não estão direccionadas para este tipo de patologia, diminuir o excesso de horas que passam em macas e libertar o INEM. Com esta forma de trabalhar, regista-se uma redução do número de dias de internamento hospitalar, garantindo poupanças para o sistema. Como exemplifica Duarte Soares, "uma cama nos cuidados intensivos custa cerca de 1500 euros/dia, nos cuidados paliativos cerca de 300 euros e em casa ronda os 100 euros".
Como fez mais com menos
Esforço de equipa
O projecto da unidade domiciliária de cuidados paliativos Terra Fria, que abrange os concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Vinhais, poderia ter por lema a máxima d'Os Três Mosqueteiros: "Um por todos, todos por um". A equipa, que inclui várias valências médicas, é a mesma que trabalha na Unidade Local de Saúde do Nordeste. Todos os dias estão em campo. Os recursos humanos mais utilizados são os de enfermagem. As visitas dos enfermeiros aos doentes são os olhos dos médicos, que estão sempre de prevenção. Desta forma, é possível adequar as visitas de acordo com a análise clínica. Os médicos ficam com mais disponibilidade para responder aos casos mais complexos.
Pontos fortes
A unidade tem uma equipa holística, que permite seguir o doente nas suas diversas manifestações: terapêuticas, emocionais, sociais e espirituais, e também das suas famílias.
Trabalho multidisciplinar
Na Terra Fria há uma equipa multidisciplinar, que integra dois médicos, 12 enfermeiros, um assistente operacional, um psicólogo, um terapeuta ocupacional, um fisioterapeuta e um assistente social.
Projecto educador
O projecto Terra Fria entra na casa do doente e da sua família. Essa proximidade ajuda a informar com dignidade os parentes da situação do paciente, a "educá-los" para as necessidades do doente, a acompanhá-los nos aspectos emocionais. Trabalho com que a equipa procura eliminar a barreira da iliteracia.
O internamento é a solução para os doentes mais complexos. Duarte Soares, médico do departamento de cuidados paliativos da Unidade Local de Saúde do Nordeste, explica que houve um investimento para eliminar a ideia estabelecida que esta era a ala do pré-cemitério. Actualmente, os doentes têm acesso a peças de teatro, cinema, ginástica, musicoterapia… "Estes doentes têm os mesmos direitos que os outros, como não se podem mexer trazemos a sociedade cá para dentro", diz. Desta forma, acredita, "o foco da atenção passa a ser o dia-a-dia e não as histórias das desgraças".
72
Doentes
A unidade domiciliária de cuidados paliativos Terra Fria acompanha 72 doentes com patologias crónicas e incuráveis.
Maria de Fátima Teixeira está doente, mas em casa. Sofre de várias patologias incuráveis. No entanto, levanta-se todos os dias, consegue preparar as refeições e quando se sente mais forte dá um jeitinho à casa. É uma das 72 doentes com patologias crónicas e incuráveis de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Vinhais que é acompanhada pela unidade domiciliária de cuidados paliativos Terra Fria. Este projecto, criado em Março do ano passado, é uma resposta aos doentes que garantem alguma autonomia e podem por isso ser acompanhados nos locais onde usufruem de maior conforto: a própria casa.
"Enquanto puder estar na minha casinha", diz Maria de Fátima, com os olhos marejados enquanto olha para o médico e para a enfermeira que a consultam. Está feliz. Tem a consulta e principalmente tem em casa a filha, emigrada em França, com a neta recém-nascida. O marido, já idoso, mas ainda homem de labuta diária no campo, também a acompanha no dia-a-dia. Esta mulher, com 63 anos, recebe actualmente visitas semanais da Terra Fria, altura em que é feita uma análise clínica ao seu estado de saúde - normalmente por uma enfermeira -, é-lhe doseada a medicação para a semana e, não menos importante, é-lhe dado mimo e alguma conversa.
"Os meus olhos são os olhos da enfermeira", explica Duarte Soares. O médico não está presente em todas as visitas, por isso, aguarda indicações da enfermeira sobre o estado de saúde da doente. Em caso de necessidade, desloca-se ao domicílio, caso contrário mantém-se a consulta regular. Filomena Costa, enfermeira da unidade, conta que os doentes esperam com alguma ansiedade a visita. "É um momento social, que altera a rotina, estão à nossa espera, somos sempre as mesmas caras". A própria aldeia também os aguarda, "porque passam dias sem ver ninguém".
O projecto Terra Fria está operacional nas 24 horas do dia, nos 365 dias do ano, com uma equipa holística constituída por médicos, enfermeiros, um assistente operacional, um psicólogo, um terapeuta ocupacional, um fisioterapeuta e um assistente social. A equipa acompanhou 140 doentes e suas famílias no primeiro acto de actividade, realizou mais de quatro mil intervenções, entre visitas domiciliárias e contactos telefónicos. "O projecto era mesmo preciso", sublinha Duarte Soares.
Todos os dias o carro da Terra Fria sai do hospital de Macedo de Cavaleiros para visitar os doentes, alguns têm consultas diárias se a situação clínica assim o exigir. O carro desloca-se normalmente a quatro ou cinco domicílios por dia, o que significa percorrer quase 300 quilómetros. Afinal, "60% dos doentes está a mais de 100 quilómetros do hospital de Macedo de Cavaleiros e 90% a mais de 50", realça o médico especializado em medicina interna.
"O desafio é mantê-los no domicílio tanto tempo quanto possível, eles querem morrer em casa, é o seu local preferido", diz Duarte Soares. O projecto Terra Fria responde assim a duas questões essenciais: o bem-estar do doente e a sustentabilidade económica do Serviço Nacional de Saúde. Para Duarte Soares, este serviço permite retirar os doentes das urgências, que não estão direccionadas para este tipo de patologia, diminuir o excesso de horas que passam em macas e libertar o INEM. Com esta forma de trabalhar, regista-se uma redução do número de dias de internamento hospitalar, garantindo poupanças para o sistema. Como exemplifica Duarte Soares, "uma cama nos cuidados intensivos custa cerca de 1500 euros/dia, nos cuidados paliativos cerca de 300 euros e em casa ronda os 100 euros".
Como fez mais com menos
Esforço de equipa
O projecto da unidade domiciliária de cuidados paliativos Terra Fria, que abrange os concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Vinhais, poderia ter por lema a máxima d'Os Três Mosqueteiros: "Um por todos, todos por um". A equipa, que inclui várias valências médicas, é a mesma que trabalha na Unidade Local de Saúde do Nordeste. Todos os dias estão em campo. Os recursos humanos mais utilizados são os de enfermagem. As visitas dos enfermeiros aos doentes são os olhos dos médicos, que estão sempre de prevenção. Desta forma, é possível adequar as visitas de acordo com a análise clínica. Os médicos ficam com mais disponibilidade para responder aos casos mais complexos.
Pontos fortes
A unidade tem uma equipa holística, que permite seguir o doente nas suas diversas manifestações: terapêuticas, emocionais, sociais e espirituais, e também das suas famílias.
Trabalho multidisciplinar
Na Terra Fria há uma equipa multidisciplinar, que integra dois médicos, 12 enfermeiros, um assistente operacional, um psicólogo, um terapeuta ocupacional, um fisioterapeuta e um assistente social.
Projecto educador
O projecto Terra Fria entra na casa do doente e da sua família. Essa proximidade ajuda a informar com dignidade os parentes da situação do paciente, a "educá-los" para as necessidades do doente, a acompanhá-los nos aspectos emocionais. Trabalho com que a equipa procura eliminar a barreira da iliteracia.