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Responder aos problemas sociais com o apoio da comunidade local

A Unidade de Saúde Familiar da Baixa, em Lisboa, lançou o primeiro projeto de Prescrição Social em Portugal. Uma metodologia que procura encontrar respostas para os problemas da esfera social dos utentes com o apoio decisivo das entidades locais.

Negócios 04 de Dezembro de 2019 às 12:30
O mentor do projeto, Cristiano Figueiredo, com a assistente social Andreia Coelho. Sérgio Lemos
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Prémio Cuidados Primários

É o primeiro projeto de Prescrição Social em Portugal. Uma metodologia que procura não só dar resposta às questões clínicas dos utentes mas, sobretudo, dos seus problemas, através da articulação entre as equipas dos centros de saúde (médicos, enfermeiros e assistentes sociais) e as organizações da comunidade local. Neste caso, e de acordo com o primeiro balanço deste projeto que arrancou em setembro de 2018, envolve mais de 30 organismos (junta de freguesia, associações recreativas e culturais, instituições de solidariedade social, e outras entidades públicas e não governamentais) da zona da baixa lisboeta e referenciou 130 utentes nos primeiros seis meses da sua implementação. A maioria são mulheres e os grupos etários mais representados são entre os 25 e os 29 anos (16) e os 65-69 (15). O principal motivo referenciado pelos 49 utentes foi o "isolamento social". E uma das razões tem a ver com a febre do alojamento local na junta de freguesia de Santa Maria Maior , que levou ao despejo de muitas pessoas, sobretudo idosas.

"Quando cheguei à Unidade de Saúde Familiar (USF) da Baixa já vinha com a ideia da Prescrição Social e quando me cruzei no corredor com a (assistente social) Andreia Coelho, uma ou duas semanas depois, começamos a discutir e a perceber que fazia todo o sentido importar o conceito do Reino Unido", conta Cristiano Figueiredo, o mentor deste projeto que já suscitou a curiosidade de outras unidades do pais e outras entidades.

Este médico de família de 32 anos não tem dúvidas de que a atuação médica é essencial, mas destaca a importância de "ir à raiz do problema" e tentar perceber qual é o contexto social" do utente, o que o está a perturbar e o que podem fazer em termos de resposta em articulação com a comunidade.

"Se queremos resultados diferentes, temos de fazer as coisas de forma diferente", defende.

As pessoas não têm noção, frisa, de que todo o contexto social em que os utentes vivem "tem um impacto de 70% na sua saúde" e acham que vai ser o médico ou o enfermeiro que vai dar resposta aos seus problemas receitando medicamentos. "Mas há muitas situações que não se resolvem com mais medicamentos", diz o clínico, dando o exemplo de que em muitas situações de saúde mental, muitos dos problemas como as depressões e as ansiedades têm uma causa social, como o isolamento, o desemprego, o sedentarismo, entre outras situações.

Cristiano Figueiredo não têm dúvidas em apontar o foco num tipo de respostas mais "holísticas" e "abrangentes", em detrimento das "respostas mais convencionais" a estes problemas. " E se isto for resolvido, a longo prazo o utente vai fazer menos consultas médicas, menos urgências, vai tomar menos psicofármacos, calmantes, etc,", acrescenta, suportado em alguns estudos já publicados no Reino Unido.

Andreia Coelho, 43 anos, é a assistente social que trabalha para a USF desde 2016 e que abraçou de braços abertos este projeto, onde tem um papel fundamental, pois é ela que faz a ponte entre os profissionais de saúde e as entidades locais.
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