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Prémio Saúde Sustentável: Os efeitos da pandemia em projetos vencedores

A crise sanitária provocada pela covid-19 teve impactos em quatro vencedores do Prémio Saúde Sustentável que tiveram de mudar de estratégias e de foco.

30 de Setembro de 2020 às 12:00
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Isabel Beltrão, administradora da AMETIC, que gere o Complexo de Santa Bárbara na Lourinhã e está integrado na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) diz que têm novos serviços, mas que "estão parados devido à pandemia".

Por sua vez, o Hospital de Ovar teve de se transformar para fazer face a um evento dramático que a cerca sanitária montada em torno de Ovar, devido aos casos de covid-19. "Esta experiência duríssima que atravessámos teve enorme impacto em toda a organização que perdurará, estou certo, para sempre", afirma Luís Ferreira, presidente do conselho diretivo do Hospital Dr. Francisco Zagalo - Ovar.

Cerca de 80 quilómetros a sul de Ovar, em Coimbra, Emília Nina, médica de família e coordenadora da USF Cela Saúde, considera que "a pandemia de covid-19 foi e é um novo desafio a nível organizacional, clínico, segurança dos utentes e profissionais, ambiental e ainda na informação aos utentes nas suas diversas vertentes".

Na mesma cidade de Coimbra, Carlos Santos, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, sublinhou que "o impacto da pandemia no CHUC foi muito significativo, como aliás em todas as unidades hospitalares e todos os sistemas de saúde".

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O desafio é manter a estratégia de recuperação

Carlos Santos quer manter a trajetória de recuperação da atividade.

2014: 3.ª edição do Prémio Saúde Sustentável
Categoria: Cuidados Hospitalares
Vencedor: Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Projeto: Diversificação de fontes de receita

"O impacto da pandemia no CHUC foi muito significativo, como aliás em todas as unidades hospitalares e todos os sistemas de saúde", refere Carlos Santos, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Os números mostram os efeitos do tufão sanitário da covid-19.

No que respeita à atividade programada, os números de primeiras consultas nos meses de março a maio de 2020 caíram para metade em comparação com o período homólogo de 2019. As consultas subsequentes tiveram uma redução de cerca de 1/3 porque se fizeram consultas por meios não presenciais. As sessões de hospital de dia não oncológico desceram para menos de metade, tal como a cirurgia convencional e a cirurgia de ambulatório. Em março e abril de 2020 registaram-se 17.906 episódios de urgência contra os 33.018 episódios no mesmo período de 2019.

Estratégia anticovid

Para lidar com a situação, o CHUC concentrou no Hospital Geral dos Covões a resposta covid em urgência, internamento e cuidados intensivos. Disponibilizou até 34 camas de cuidados intensivos dedicadas à covid, em quatro níveis do Plano de Contingência, tendo registado um máximo de 10 doentes em medicina intensiva, o que esgotou a capacidade do nível I, e 277 camas para doentes estáveis chegando a ter ocupadas 109. Entre 12 de março e 14 de maio, realizaram-se 11.500 testes SARS-COV-2.

Em junho, com a pandemia mais contida e uma maior curva de aprendizagem, o CHUC iniciou "um processo de retoma da atividade que ficou por realizar, fortemente apoiada nos processos de contratualização interna e com envolvimento ativo das equipas", diz Carlos Santos.

Chama a atenção que as medidas de segurança impostas pela situação pandémica "introduzem uma lentificação maior dos fluxos e dos processos assistenciais e obrigam a um aumento de gastos nas infraestruturas, nos equipamentos de proteção individual e nos sistemas de controlo de acessos, ainda muito dependentes do fator humano".

Para Carlos Santos, "o desafio no futuro próximo é o de tentar manter a trajetória de recuperação da atividade, a par das respostas críticas que só o CHUC assegura na região, como as vias verdes AVC, coronária e trauma, em paralelo com um dispositivo de resposta à covid".

Ligações internacionais

O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra tem mantido a sua vocação internacional através da participação em redes globais como a M8 Alliance Rede Mundial de Centros Académicos e Médicos, Universidades e Academias de 19 países a que o centro hospitalar pertence juntamente com a Universidade de Coimbra. Organizou o Fórum da Saúde das Mulheres 2019, que é um projeto-piloto de especialistas nacionais e internacionais em saúde feminina, e foi também criado o Capítulo Português da Women in Global Health (WGH).

O CHUC participa também em diversos projetos com financiamento europeu e é membro integrante da rede europeia em inovação em saúde - EITHealth que permite um investimento significativo em investigação e capacitação de investigadores e estudantes nas questões prementes da área do ehealth, ampliação da cooperação através de programas de Telemedicina e de Programas de mobilidade nacional e internacional (partilha e transferência de saberes) e o Programa Atlantis.


"Serviços parados devido à pandemia"

Isabel Beltrão diz que o prémio motivou a equipa.

2015: 4.ª edição do Prémio Saúde Sustentável
Categoria: Cuidados Continuados
Vencedor: AMETIC - Apoio Móvel Especial à Terceira Idade e Convalescentes, Lda.
Projeto: A instituição destacou-se pela "abordagem holística aos cuidados continuados", tendo em conta as instalações, os serviços e as preocupações pela sustentabilidade financeira e ambiental.

"É sempre bom para a nossa organização receber um prémio e foi muito bom em termos de equipa e de a motivar e envolver no seu trabalho do dia a dia. Externamente também foi positivo pois é sempre uma mais-valia o reconhecimento do trabalho que desenvolvemos. A imagem que passa para os nossos clientes também foi muito positiva", sublinha Isabel Beltrão, administradora da AMETIC, que gere o Complexo de Santa Bárbara na Lourinhã e está integrado na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI). Salientou que têm novos serviços, mas que "estão parados devido à pandemia".

Quanto aos impactos da pandemia de covid-19, numa estrutura residencial para idosos como esta, foram, sobretudo, o " afastamento das famílias dos nossos residentes e utentes, mas que temos de manter a bem deles próprios e o aumento franco de custos uma vez que o preço dos materiais de proteção, higienização e limpeza disparou". No restante "limitámo-nos a melhorar procedimentos que já tínhamos utilizado", diz Isabel Beltrão.


A experiência da cerca sanitária por causa da covid-19

Luís Ferreira diz que o hospital sem papel transformou o trabalho.

2019: 8.ª edição do Prémio Saúde Sustentável
Categoria: Cuidados Hospitalares
Vencedor: Hospital Dr.º Francisco Zagalo - Ovar
Projeto: HOSP - Hospital de Ovar sem Papel

O Hospital de Ovar esteve no centro de um dos casos mais severos de infeção por covid-19 quando em Ovar foi decretada uma cerca sanitária em março deste ano, e o hospital se transformou. "Esta experiência duríssima que atravessámos teve enorme impacto em toda a organização que perdurará, estou certo, para sempre", afirma Luís Ferreira, presidente do conselho diretivo do Hospital Dr. Francisco Zagalo - Ovar.

A atividade programada como consultas, cirurgias e meios complementares de diagnóstico e terapêutica foi suspensa, criaram um posto de testagem massiva, transformaram a enfermaria dos serviços cirúrgicos e o ginásio da medicina física e de reabilitação em enfermarias covid.

Foram ainda abertas consultas covid em complemento às áreas dedicadas dos cuidados de saúde primários, implantado um hospital de campanha no pavilhão de desportos, com tudo o que é necessário em qualquer enfermaria de um hospital, e contratadas mais de 50 pessoas para reforçar as equipas que também ficaram desfalcadas. "No meio de tudo isto, ainda conseguimos que o nosso hospital fosse o primeiro hospital do país a utilizar o sistema lançado pela SPMS - RSE Live - para a realização de teleconsultas", diz Luís Ferreira.

Como explica Luís Ferreira, o "Hospital de Ovar é um hospital pequeno no contexto do SNS, cuja atividade assistencial, ainda que intensa e de extrema importância para a população que serve, é relativamente reduzida por não temos espaço nem recursos para mais. Por isso, passamos, de certa forma, despercebidos no contexto nacional".

"Não há impossíveis"

Segundo o gestor hospitalar, o prémio Saúde Sustentável "veio, de certa forma, pôr o Hospital de Ovar no mapa pelos melhores motivos o que, de certa forma, aumenta também a nossa responsabilidade. Ao nível interno, o prémio acaba por ser um reconhecimento do esforço que os nossos colaboradores imprimiram na adaptação aos novos métodos e ferramentas. E isso é muito importante".

O "projeto HOSP - Hospital de Ovar sem Papel" transformou a forma como as pessoas trabalham, como os processos fluem, bem como à organização, acesso e tratamento da informação que é gerada. "No contexto do SNS, estamos hoje no topo do indicador ‘receitas sem papel’ totalmente desmaterializadas e gastamos menos 45% do papel que gastávamos antes do projeto", explicou Luís Ferreira.

Mas as ideias de transformação e de inovação manteve-se e no Hospital de Ovar foi desenvolvido um projeto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, por um consórcio do qual fizemos parte com a Winning e o Centro de investigação em Saúde Cintesis (da Universidade do Porto) que criou uma escala de risco hospitalar e definiu planos de contingência a aplicar consoante o comportamento evolutivo da epidemia de covid-19 para o Hospital de Ovar, através de uma ferramenta preditiva, capaz de antecipar cenários de risco para o hospital, possibilitando a adoção de decisões e medidas concretas. "O prémio que vencemos o ano passado mostra-nos que não há impossíveis", conclui Luís Ferreira.


A importância da certificação

Emília Nina realça a importância da mudança organizacional.

2016: 5.ª edição do Prémio Saúde Sustentável
Categoria: Cuidados Primários
Vencedor: USF Cela Saúde
Projeto: Distinção graças à aposta na melhoria contínua dos cuidados de saúde, tendo realizado e obtido importantes resultados nas áreas da saúde infantil e juvenil, saúde da mulher, vacinação, cuidados, domiciliários e doenças crónicas.

"O Prémio Saúde Sustentável foi recebido pelos profissionais como uma motivação. Foi o reconhecimento feito a profissionais que não sendo heróis, alcançam objetivos em saúde, aceitando novos desafios baseados em atitudes de melhoria contínua e assim surgiu naturalmente a certificação CPAQ (compromisso para atendimento administrativo de qualidade) em 2016 e 2018 e o Certificado de Acreditação Internacional obtida em março de 2019", afirmou Emília Nina, médica de família e coordenadora da USF Cela Saúde.

A gestora desta unidade de saúde familiar sublinha que a certificação mudou as características organizacionais. Segundo Emília Nina, a mudança organizacional assegurou níveis mais elevados de segurança, garantia de confidencialidade e privacidade, prevenção e controlo de infeção, acessibilidade, direitos, comunicação, ambiente, perceção da satisfação dos utentes e profissionais e transparência de resultados com a respetiva publicitação.

Os resultados

Acrescenta que "monitorizamos e publicitamos os TMRG (Tempos Máximos de Resposta Garantidos), os resultados dos indicadores institucionais e o nível de satisfação dos utentes. Tudo isto levou a resultados de maior qualidade com impacto na prestação de cuidados. Reflexo disso são os indicadores institucionais e o respetivo IDG (Índice de Desempenho Global) tal como pode ser consultado no https://bicsp.min-saude.pt/".

Tem como o lema "reinventar o quotidiano - a arte de superar os objetivos", por isso os valores e os desafios da inovação estão imbuídos na cultura da instituição. Por isso os projetos passam pela recertificação CPAQ, a manutenção da certificação de Acreditação internacional, reestruturação do website, criar novas linhas de comunicação com os utentes, qualificar a referenciação a cuidados e especialidades hospitalares, qualificar a formação profissional, desenvolver um novo e mais eficaz plano de prevenção e controlo de infeção, executar um plano de vacinação antigripal atempado e mudar de instalações a curto prazo, não esquecendo a participação no ADR (área dedicada a respiratórios) e a prevenção do burn-out profissional.

Emília Nina considera que "a pandemia covid-19 foi e é um novo desafio a nível organizacional, clínico, segurança dos utentes e profissionais, ambiental e ainda na informação aos utentes nas suas diversas vertentes". Adianta que "os maiores impactos foram a exaustão profissional e os resultados em saúde nomeadamente menos rastreios oncológicos. Tivemos sempre e mantemos o espírito de equipa e a participação dos profissionais".
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