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Para ajudar as crianças é preciso dar a mão aos pais

A Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA) afecta entre 5% a 8% das crianças. Para apoiar o desenvolvimento destas crianças na família e na escola, foi criado em 2013 o Clube PHDA no hospital CUF Descobertas.

01 de Junho de 2016 às 11:07
Sofia A. Henriques
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Foi no final do primeiro período que a professora chamou a atenção para o comportamento do Tomás. A criança de oito anos não se portava mal, nem era mal educada, mas começaram a soar os sinais de alarme em casa e na escola.

"O Tomás mostrava oposição em relação ao que se lhe pedia e mostrava lentidão no cumprimento das suas rotinas diárias", conta a mãe, Margarida Tavares. "Também mostrava dificuldade a nível de concentração e de estar sossegado. E tinha momentos de grande irrequietude, de ter necessidade de se mexer fisicamente".

Alertada, Margarida começou a pesquisar na internet e encontrou o site do Clube PHDA [Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção] da CUF. Não perdeu tempo e inscreveu-se imediatamente. Passados uns meses, a mãe do Tomás faz o balanço da sua participação. "Para mim a acção de formação foi uma mais valia, porque encontrei resposta a muitas situações com que era confrontada no dia-a-dia do meu filho na casa e na escola".


O Clube PHDA está quase a completar o terceiro ano de vida. Criado em Setembro 2013, nele já foram formados mais de 1200 pessoas, em sessões que decorreram principalmente no hospital CUF Descobertas, casa onde o projecto nasceu, mas também em várias escolas da grande Lisboa.

"Este é um projecto que tem o objectivo de melhorar a qualidade de vida das crianças com PHDA", explica o pediatra Filipe Glória e Silva.
cotacao O facto de uma criança ir a uma consulta não vai resolver o problema.
Os problemas melhoram quando existe uma mobilização de várias pessoas na família e na escola.
Filipe Glória e Silva Coordenador do Clube PHDA
É de realçar que as formações do Clube PHDA são gratuitas e não se destinam às crianças, mas sim aos pais, professores e auxiliares de acção educativa. "É muito importante que as pessoas à sua volta tenham a capacidade de interpretar estes comportamentos para poderem reagir de forma adequada".

O especialista sublinha assim que a estratégia do clube passa por "trabalhar primariamente com os adultos, pois esta abordagem tem o potencial de beneficiar o maior número de crianças". Os números ilustram a dimensão do PHDA: entre 5% a 8% das crianças em idade escolar são afectadas, o que dá em média um aluno por turma de 20.

Outra das componentes do deste projecto é a sua plataforma digital que pretende explicar ao mundo de uma forma simples o que é o PHDA, e como se pode tratar. Na internet existia informação disponível, mas era quase toda em inglês e pecava pela falta de qualidade muitas vezes. Desde que foi lançado, o site tem sido muito procurado e já teve mais de 100 mil visualizações e 30 mil visitantes.
cotacao Com intervenção precoce e enfatizando as estratégias práticas no dia-a-dia conseguem-se muitas melhorias, e por aí melhora em muito a adaptação da criança ao meio escolar e ao meio social. Rita Antunes Psicóloga do Clube PHDA
Dois anos depois da criação do projecto, Filipe Glória e Silva destaca o "tempo interessante de partilha" que ocorre espontaneamente no final das formações.

"Esta partilha ajuda também as pessoas a sentirem-se mais acompanhadas, mais apoiadas, e mais compreendidas", afirma o pediatra. Destaca que os pais das crianças com PHDA "são frequentemente alvo de julgamento social, porque o mais fácil e o mais imediato é atribuir certos comportamentos à falta de educação, de regras, ou de controlo".


A mãe do Tomás tem aplicado com sucesso no dia-a-dia as estratégias que aprendeu na formação do Clube PHDA. "Os miúdos hoje em dia passam muito tempo sentados na sala de aula, têm pouco tempo para a actividade física. E uma das estratégias usadas para quando o Tomás chega da escola, é ir correr um bocadinho, saltar à corda ou jogar à bola, para libertar a tensão".
cotacao A partilha entre os pais ajuda-os a sentirem-se mais acompanhados, mais apoiados. Os pais das crianças com PHDA são frequentemente alvo de julgamento social, porque o mais fácil é atribuir certos comportamentos à falta de educação, de regras ou controlo. Filipe Glória e Silva Coordenador do Clube PHDA
Filipe Glória e Silva defende assim a importância de uma abordagem global e multidisciplinar. "O facto de uma criança ir a uma consulta, e eventualmente tomar um medicamento, não vai resolver o problema. Os problemas melhoram quando existe uma mobilização de várias pessoas na família e na escola".

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