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É um ginásio mais pequeno que os outros. Há bicicleta, passadeira, paralelos. Há camas de massagens e de electroterapia. Não há os corpos atléticos que normalmente pululam estes espaços. Há sim pessoas, maioritariamente idosas, em recuperação.
"Empurre a perna para baixo. Para baixo. Isso. Muito bem". A perna de Rosalina dobra-se e estende-se à voz da fisioterapeuta Tânia Salgueiro. "Vá, vamos lá novamente". Rosalina já tinha uma prótese numa perna e teve de se submeter a uma cirurgia para colocar outra - "que dói mais do que a velha". É para lidar com a recuperação que está no centro de cuidados continuados Bella Vida.
Rosalina faz parte do grupo maioritário de pacientes que dão entrada nesta unidade de convalescença em Viana do Castelo com problemas do foro ortopédico - também há utentes com problemas neurológicos, nomeadamente vítimas de acidentes vasculares cerebrais (AVC). Com o sobe e desce das pernas, Rosalina esforça-se para fazer os movimentos que terá de concretizar quando conseguir andar. Agora, move-se de cadeira de rodas.
Enquanto Rosalina está deitada na cama, com almofadas para ter as pernas numa maior altitude, Glória encontra-se a andar na bicicleta. Outros pacientes estão em macas a realizar movimentos de força muscular.
Na opinião de Isabel Costa, administradora da unidade, tudo é feito para que os doentes saiam "com a maior autonomia possível". Para isso, são promovidos "os ensinos do regresso a casa" para que, quando deixarem o espaço de tratamento, tudo seja feito "sem grandes dificuldades para o utente e para o seu cuidador".
Tarefas do quotidiano
Das 24 camas disponíveis na unidade de cuidados de convalescença - que está situada ao lado da residência sénior, também da Bella Vida -, há duas camas que ganham destaque nesta reconciliação no pós-tratamento. São as que se encontram nos dois pequenos apartamentos.
Os dois apartamentos - sempre referidos como modelos pelos responsáveis da casa - são o espaço preferencial para que os utentes repliquem os movimentos que fizeram no ginásio em situações do dia-a-dia.
No andar abaixo do ginásio, Maria dos Prazeres, Maria Silva e Alice preparam, num dos apartamentos, o lanche para todos os outros pacientes. Prazeres coloca a manteiga e o doce nos pães. Alice dobra os guardanapos. Maria Silva arranja tudo no tabuleiro. É um trabalho de equipa onde cada uma faz acções que terá de fazer lá fora.
"Estamos a trabalhar actividades de vida instrumentais. Trabalhamos e estruturamos várias tarefas que dizem respeito a actividades que as pessoas normalmente desenvolvem em casa", diz a terapeuta ocupacional Cátia Dias, que está a supervisionar o trabalho feito pelas três utentes.
Não está a ser utilizada neste momento, mas no apartamento há também uma tábua de engomar. A sua presença é para facilitar a aproximação à vida fora da unidade - as pessoas vão ter de passar a ferro quando daí saírem. Ao lado há uma pequena cozinha, com panelas e um fogão.
Saindo do apartamento e indo em direcção à sala de convívio passa-se pela sala de pensos. Glória, que pouco tempo depois estará a pedalar na bicicleta do ginásio, está deitada na cama. Tem agulhas nos pés. Está numa sessão de acupunctura. Diz que não dói mas franze os olhos quando as agulhas são espetadas.
"Se [estas práticas] funcionam e são creditadas, acho que conseguimos ver ganhos evidentes quando [são] executadas. Os doentes melhoram, logo melhora o tempo de internamento e a sua independência", comenta Rui Alves, enfermeiro-chefe.
Neste caso, a prática de acupunctura está a ser administrada a Glória, na instituição há oito dias para recuperar de uma depressão, com o intuito de desinflamar algumas feridas nos pés. A perspectiva é que a utente possa sair dentro de, no máximo, 22 dias. Isto porque os hospitais e centros de saúde da área só reencaminham pacientes cuja expectativa de recuperação não supere os 30 dias.
Fernanda Matos não precisou de todo esse tempo. Já tem as suas coisas consigo para se ir embora. Ao fim de 22 dias, o sobrinho vem buscá-la. "Não me importava de ficar mais algum tempo", confidencia. Gostou da comida, da assistência dos enfermeiros, "de tudo". Ainda não está recuperada para uma vida totalmente independente. O objectivo da Bella Vida é dar a máxima autonomia possível aos seus pacientes mas isso não quer dizer que todos consigam acabar por ficar independentes - podem continuar a precisar de cuidados que não conseguem prestar a si próprios.