Outros sites Medialivre
Notícia

O reconhecimento aos melhores na saúde

Ao longo de nove edições foram premiadas personalidades da saúde com carreiras diversificadas como forma de reconhecer os que mais têm contribuído para melhorar as condições de vida dos portugueses.

28 de Junho de 2021 às 14:30
Maria de Belém Roseira foi ministra da Saúde.
Maria de Belém Roseira foi ministra da Saúde. DR
  • Partilhar artigo
  • ...
"O sinal que se pretende dar é o valor do reconhecimento em vida, e identificar pessoas mais ou menos conhecidas que tiveram ou têm um papel de relevo na saúde em Portugal e, assim, ao longo de nove edições foram premiadas carreiras brilhantes e polifacetadas", diz Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde e, desde a primeira hora, membro do júri do Prémio Saúde Sustentável, uma iniciativa da Sanofi e do Jornal de Negócios.

Acrescenta Maria de Belém Roseira que "funciona também como uma chamada de atenção porque um país tem de saber estar atento aos feitos realizados pelas pessoas e a importância que a sua atuação tem e para perceberem porque é que houve mudanças em muitos dos indicadores da saúde. São muitas vezes pessoas que não são conhecidas do grande público mas que muitas vezes tiveram e têm muita influência e impacto na vida de milhares de pessoas".

Em 2011, na primeira edição do prémio, o primeiro galardoado com o Prémio Personalidade foi José Pereira Miguel, médico e professor, que se destacou no domínio da saúde pública, da epidemiologia e dos cuidados de saúde, depois de ser ter licenciado, especializado em Medicina Interna e doutorado pela Faculdade de Medicina de Lisboa.

Ao longo da sua carreira foi desempenhando importantes cargos públicos, dos quais se destaca o de diretor-geral da Saúde, alto-comissário da Saúde e Presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. Por isso, um dia disse que via a sua vida profissional como "uma corrida de estafetas: corremos o melhor que podemos, passamos o testemunho em boas condições e a corrida segue, esperançosamente, com brilho e sucesso".

Pioneira no VIH

Maria de Belém Roseira sublinha que se Odette Santos-Ferreira, a segunda vencedora, tivesse tido uma outra projeção nacional e internacional teria provavelmente atingido o Prémio Nobel. "Foi condecorada primeiro pelo Estado francês, e, por outro lado, as mulheres eram colocadas um pouco de lado", diz.

A cientista portuguesa colaborou com o Instituto Pasteur de Paris onde desenvolveu treino nas técnicas de deteção do lymphadenopathy AIDS virus (LAV) na década de 70 e 80 do século XX. A partir da década de 80 toda a sua atividade científica se centrou no estudo da infeção pelo VIH/sida, em particular pela infeção do VIH tipo 2.

Esta descoberta, feita em colaboração com a equipa do Prof. José Luís Champalimaud, do Hospital de Egas Moniz, veio revolucionar o mundo do diagnóstico serológico e contribuiu para que Portugal e a Unidade de Retrovírus e Infeções associadas (URIA) se expandissem e concentrassem importantes linhas de investigação na área dos retrovírus.

Maria de Belém considerou ainda que Catarina Resende de Oliveira é uma neurocientista com investigação feita em Coimbra mas que preferiu investir mais na criação de equipas do que na sua própria carreira.

O prémio funciona também como uma chamada de atenção porque um país tem de saber estar atento. Maria de Belém Roseira
Membro do júri do Prémio Saúde Sustentável 
A sua memória não esquece galardoados como João Rodrigues Pena, que foi um pioneiro dos transplantes, conseguindo através da alteração da legislação ter "uma capacidade de fazer transplantes e salvar a vida a milhares de pessoas". De facto, João Rodrigues Pena fez parte da equipa que conseguiu transplantar o primeiro fígado na Europa, em Cambridge, mas quando regressou a Portugal teve de lutar para conseguir que a legislação permitisse o transplante de órgãos o que aconteceu em 1975.

Mas só cinco anos depois "foi possível reunir pessoas e condições, sob égide da Fundação Gulbenkian, para iniciar um programa nacional de transplante renal, que é o mais urgente e é onde há mais prevalência. Passados 10 anos tínhamos feito 1.000", como disse numa entrevista ao Jornal de Negócios. Mais tarde criou a unidade de transplantação do hospital Curry Cabral, que é hoje uma referência a nível mundial, no transplante hepático, onde Eduardo Barroso também teve um papel de destaque.

As escolas de influência

Maria de Belém Roseira destaca ainda os que "deixam escola", e recorda como Sobrinho Simões, patologista de renome mundial, lidera o IPATIMUP, que produziu uma linhagem de especialistas e alberga, por exemplo, Fátima Carneiro, que em 2018 foi eleita pela revista The Pathologist como a patologista mais influente do mundo. Também lembra João Lobo Antunes que além de uma "carreira brilhante" na neurocirurgia, se destacou na cultura, na bioética, na investigação científica, e teve uma influência na disseminação de valores pelas instituições por onde passou.

"Há uma escola de excelência onde as pessoas acabam por fazer a sua carreira e se destacam em termos nacionais e internacionais porque há uma cultura de empenho, criatividade e inovação", afirma Maria de Belém Roseira.

O último vencedor do Prémio Personalidade foi Fernando Araújo, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de São João no Porto e a principal justificação foi o facto de que, na liderança deste, "sofreu o impacto da primeira pandemia e as medidas que tomou definiram o rumo que acabou por ser assegurado para o país em termos estratégicos, organizacionais e de ação", disse Maria de Belém Roseira, durante a entrega do prémio em outubro de 2020.

"São personalidades que passam uma vida inteira dedicadas ao estudo, à investigação e às práticas para salvar vidas, que são extremamente valiosas, e por isso, devemos-lhe um reconhecimento", conclui Maria de Belém Roseira.


A galeria das personalidades

Os nove vencedores do Prémio Personalidade atribuído anualmente pelo júri do Prémio Saúde Sustentável, uma iniciativa do Jornal de Negócios e da Sanofi.

1.ª Edição
José Pereira Miguel
Nasceu em Lisboa a 18 de abril de 1947. Foi professor catedrático de Medicina Preventiva e Saúde Pública da FMUL, tendo ao longo da sua carreira desempenhado importantes cargos públicos, dos quais se destaca o de diretor-geral da Saúde, alto-comissário da Saúde e presidente do conselho diretivo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

2.ª Edição
Odette Santos-Ferreira
(4 de junho de 1925-7 de outubro de 2018)
Licenciou-se em Farmácia, doutorou-se na Universidade de Paris Sud, em França, e chegou a professora catedrática de Microbiologia em 1987. Na década de 70 e 80 colaborou com o Instituto Pasteur de Paris em investigações relativas ao VIH. Em colaboração com a equipa do Prof. José Luís Champalimaud, do Hospital de Egas Moniz, descobriu a infeção do VIH tipo 2. Foi coordenadora do Programa Nacional de Luta Contra a Sida entre 1992 e 2000.

3.ª Edição
João Lobo Antunes
(4 de junho de 1944, Lisboa-27 de outubro de 2016)
Licenciou-se em Medicina na Universidade de Lisboa. Esteve nos Estados Unidos, entre 1971 e 1984, e trabalhou no departamento de Neurocirurgia da Universidade de Columbia, onde foi professor associado. Regressou a Portugal em 1984 como professor Catedrático de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina de Lisboa. Em 1990, foi vice-presidente para a Europa do World Federation of Neurosurgical Societies. Em 1999, ocupou o cargo de presidente da Sociedade Europeia de Neurocirurgia e foi diretor do Serviço de Neurocirurgia do Hospital de Santa Maria, e presidente da Academia Portuguesa de Medicina e do Instituto de Medicina Molecular.

4.ª Edição
Manuel Sobrinho Simões
Nasceu no Porto a 8 de setembro de 1947. Licenciado em Medicina, e doutorado em Patologia pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Entre outubro de 1979 e julho de 1980 fez o pós-doutoramento em Oslo, no Norsk HydroŽs Institute for Cancer Research. Em 1989, criou o IPATIMUP (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular e Celular da Universidade do Porto).

5.ª Edição
João Rodrigues Pena
Licenciado em Medicina pela Universidade de Lisboa, é um dos pioneiros dos transplantes em Portugal. Foi diretor da Unidade de Transplantação dos Hospitais Civis de Lisboa, inaugurou no Hospital Curry Cabral, em 1992, o programa de transplante hepático. Foi presidente da Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação.

6.ª Edição
Francisco George
Nasceu em Lisboa, em 1947. Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa, entre 1980 e 1991 foi funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS), tendo sido consultor em missões em diversos países. Nomeado subdiretor-geral da Saúde em 2001, chegou em 2005 a diretor-geral da Saúde, cargo que ocupou até 2017. Foi membro do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, entre 2007 e 2010. Em 2004, foi designado membro do Conselho de Administração do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (Estocolmo).

7.ª Edição
Fernando Pádua
Nasceu em Faro em 1927 e depois da licenciatura em Lisboa graduou-se em Cardiologia pela Harvard University, Boston, EUA (1953), e foi professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa. Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, de que é sócio e presidente honorário. Fundador e ex-presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia. Fundador e presidente do Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva e da Fundação Professor Fernando de Pádua.

8.ª Edição
Catarina Resende de Oliveira
Nasceu em Coimbra em 1946 e licenciou-se em Medicina em 1970 e tornou-se assistente e médica. Em 1976, entrou para os serviços de neurologia do Hospital Universitário de Coimbra. Em 1984, doutora-se em Neurociências pela Universidade de Coimbra, onde chegou a catedrática e fez investigação no Centro de Neurociências e Biologia Celular. Nas neurociências, a sua investigação centrou-se no estudo dos mecanismos celulares e moleculares das doenças neurodegenerativas.

9.ª Edição
Fernando Araújo
Nasceu no Porto a 10 de julho de 1966 e é licenciado e doutorado em Medicina pela Faculdade de Medicina do Porto, pós-graduado em Gestão pela Universidade Católica Portuguesa e é especialista em imuno-hemoterapia. Foi administrador e presidente Administração Regional de Saúde do Norte e secretário de Estado Adjunto e da Saúde entre novembro de 2015 e outubro de 2018. Desde abril de 2019 que lidera o Hospital de São João.
Mais notícias