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Matosinhos aposta na integração sustentável

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos abriu caminho na integração dos serviços prestados pelo agrupamento de centros de saúde e pelo Hospital Pedro Hispano. A quebra das receitas é a principal dificuldade, mas tanto a gestão como os colaboradores acreditam que o modelo integrado é o que sustentará a qualidade dos serviços.

23 de Abril de 2013 às 14:52
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Em Matosinhos, já não se imagina uma gestão dos cuidados de saúde que não seja feita de forma integrada entre os serviços do Hospital Pedro Hispano e os das diversas unidades de cuidados primários.


A Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM) foi a primeira a surgir no país, em 1999. Altura em que se oficializou uma relação de proximidade entre o Hospital Pedro Hispano e os quatro centros de saúde da região. A criação de uma só estrutura, que entretanto passou a ser responsável por uma unidade convalescença, permitiu tornar permanente uma cooperação que era o resultado do simples relacionamento entre colegas de profissão.


Quem o explica é a enfermeira-directora da ULSM, Margarida Filipe, que acompanhou todo o processo que se tem vindo a desenvolver nos últimos 14 anos. Ao início, a criação da Unidade Local de Saúde criou algumas resistências. Mas rapidamente conquistou utentes e profissionais de saúde.


"Todo o projecto de mudança cria alguns medos e algumas resistências. Mas, rapidamente, todos os nossos colaboradores se aperceberam das grandes vantagens que tinha esta unidade. Exactamente porque podíamos centrar a nossa actividade no utente. E também porque podíamos relacionar-nos e definir o que era melhor nos vários níveis de cuidados. Uma coisa que antes era muito difícil porque cada unidade fazia as coisas à sua maneira."


Este esforço ainda está em curso, sendo coordenado por Maria Cabral, que é responsável pela harmonização dos procedimentos clínicos nas várias áreas de saúde da região. Em Dezembro 2012, a ULSM foi a primeira unidade local de saúde a conseguir o selo ISO 9001, entregue pelo ministro da Saúde Paulo Macedo.


Integração sustenta resposta às necessidades dos utentes
A resposta às necessidades dos utentes da ULSM é coordenada por um mesmo órgão de gestão , o que se reflecte em diversos benefícios na prestação de cuidados aos utentes.


O acompanhamento do doente é uma das principais preocupações da gestão e, também, uma das áreas onde se contabilizam maiores benefícios. A partilha de informação entre os cuidados de proximidade e o Hospital Pedro Hispano permite que médico de família e especialidades hospitalares tenham conhecimento da intervenção de cada uma, explica a directora clínica da ULSM, Paula Simão.


Os ganhos são do ponto de vista clínico, mas o utente também beneficia de um menor número de deslocações ao hospital. O resultado, é um menor período de espera global mas também é obtida uma redução dos custos de tratamento por doente. "Não precisamos de repetir exames", referiu Paula Simão. O modelo de organização permite pôr em prática múltiplos projectos e protocolos de cooperação e de recursos e fazer muito mais, com benefício para o doente, explicou a directora clínica.

 

 
ULSM foi a primeira com ISO 9001
A Unidade Local de Saúde de Matosinhos foi a primeira a receber o certificado ISO 9001 (International Standard Organization), que atesta o cumprimento de padrões de qualidade nas várias áreas de prestação de cuidados de saúde da unidade.


A distinção é o resultado da continuação do esforço de integração dos serviços hospitalares e dos cuidados primários de saúde. O trabalho coordenado por Maria Cabral visa a harmonização dos padrões de qualidade entre o hospital com o nome do primeiro Papa português, dos quatro centros de saúde do Agrupamento de Centros de Saúde e da Unidade de Convalescença.

O trabalho das equipas de cuidados de proximidade permite reduzir o recurso indevido ao hospital, fornecendo cuidados de saúde adequados às necessidades dos utentes e libertando recursos nos hospitais e centros de cuidados de proximidade. Um dos exemplos é o trabalho das equipas de acompanhamento da gravidez, com as futuras mães a serem acompanhadas no início da gravidez, até depois do nascimento, como o apoio na massagem aos bebés e no aleitamento. De forma análoga, as equipas de cuidados paliativos apoiam os utentes com maiores necessidades de apoio, em suas casas. O resultado é que estes utentes passam mais tempo em casa, junto da sua família e não estejam no hospital.


Sensibilização dos mais novos é aposta para "adultos saudáveis"
Algum do trabalho da Unidade Local de Saúde de Matosinhos passa pela prevenção da doença com iniciativas de sensibilização levadas a cabo em parceria com instituições como autarquias, escolas, juntas de freguesia e até com os pais de crianças. "Nós podemos começar a trabalhar com uma criança logo no infantário, de forma a que ela seja, depois, um adulto mais saudável", referiu Margarida Filipe.


No curto prazo, o principal desafio é responder à redução de receita. As principais poupanças são conseguidas nos medicamentos e na redução do número de horas de trabalho extraordinário.


Contudo, além destas medidas foram implementados modelos inovadores que permitem responder às necessidades dos utentes com menor desperdício de recursos. Na dermatologia, só uma fracção dos utentes que precisam de acompanhamento especializado recorre ao hospital, com alguns doentes a serem acompanhados de forma remota. "No modelo clássico, todo o doente de dermatologia teria de vir ao hospital. Nós não fazemos dessa forma", refere a directora clínica. Porém, algumas consultas são dadas de forma remota, com os dermatologistas dos hospitais a reunirem por teleconferência ou com fotografias especiais que permitem analisar a pele dos doentes. Com o seu parecer seleccionam-se os casos em que é necessária uma ida ao hospital. Uma solução que se salda em necessidade de um menor número de funcionários especializados nos hospitais.


A Walking Clinic é outra das iniciativas que permite reduzir a despesa e, até, o desperdício. Em coordenação com o doente, o agrupamento de centros de saúde e o hospital, optimiza-se o seu percurso até ser sujeito a cirurgia. O resultado salda-se numa redução do tempo de internamento de, pelo menos, um dia por cada intervenção cirúrgica. Além disso, elimina-se o número de procedimentos que acabaria por se repetir, caso o utente se dirigisse a um centro de cuidados de proximidade, onde poderia ser sujeito a mais do que um exame médico, para depois se dirigir ao hospital onde poderia ver-se obrigado a repetir exames.


Apesar das dificuldades que são comuns às diversas unidades de saúde, tanto a gestão como os colaboradores e até os utentes da Unidade Local de Saúde de Matosinhos parecem acreditar que a integração é a solução mais sustentável para fornecer cuidados de saúde. Um inquérito junto de funcionários e utentes revelou aderência ao modelo pela maioria dos trabalhadores.

 

 

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