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"Não vamos tentar resolver todos os problemas do mundo mas há três áreas em que podemos ter impacto: democratização do conhecimento e acesso a dados, assegurar que os profissionais de saúde passam mais tempo com os doentes e menos a processar dados e a terceira é continuar a apoiar na descoberta científica. No coração disto tudo está a inteligência artificial", resumiu Pedro Pina os objetivos da Google Health, na entrega de prémios da 8.ª edição do Prémio Saúde Sustentável, uma iniciativa do Jornal de Negócios e da Sanofi com o apoio da Everis. Este evento teve como tema dominante a Revolução da Saúde Digital.
O vice-presidente de Global Solutions da Google referiu que, a inteligência artificial utilizada no diagnóstico do cancro e screening do cancro do pulmão, permitiu que a capacidade de visualização do scanning feito aos pacientes com cancro do pulmão detetasse mais 5% de casos do que os seres humanos conseguiriam intercetar e reduziu em 11% os falsos positivos.
A IA já foi determinante numa descoberta científica. Na oftalmologia ao estabelecer relações entre as máquinas e os dados conseguimos perceber que através do scanning de retina, nos exames de retinopatia para deteção da diabetes, e faz parte da parceria que têm com a Sanofi, detetaram uma correlação com a previsão de acidentes cardiovasculares. "Sem querer, ao fazermos análise para prever estávamos a conseguir prever acidentes cardiovasculares".
"As soluções que estamos a desenvolver em Google Health permitem abrir a caixa negra do algoritmo e os profissionais de saúde ficam a saber qual foi a lógica para chegar a determinadas conclusões", disse Pedro Pina.
Sanofi digital
Isabelle Vitali, Head Digital Innovation Center da Sanofi, fez a apresentação, "A Global eHealth Strategy for Sustainability", sobre a estratégia digital da Sanofi que marca a imersão da empresa no paradigma da Saúde Digital, que define como "uma convergência das ciências na área da biologia, engenharia e física para melhorar e personalizar os cuidados de saúde", por exemplo, através de Drugs+, terapêuticas digitais e o fornecimento de cuidados de saúde virtuais.
Na base da estratégia digital estiveram cinco fatores. Os sistemas de saúde estão a ser confrontados com o aumento exponencial dos custos e as restrições dos recursos. O tratamento farmacológico não é suficiente porque os doentes precisam de soluções personalizadas, e, por outro lado, há cada vez maior empoderamento e envolvimento dos doentes na gestão da sua saúde. A regulação e os operadores dos sistemas estão a adotar as inovações digitais com mais rapidez, tal como a tecnologia está a evoluir de forma rápida e exponencial.
Referiu a particularidade de Ameet Nathwani acumular as funções de Chief Digital Officer (CDO) e Chief Medical Officer (CMO), o que simboliza a aposta da empresa na digitalização, porque, como disse numa entrevista este gestor, "a indústria farmacêutica está atrasada em cinco a dez anos em relação a setores como bancos ou a distribuição, por isso temos de andar mais depressa".
Por isso, como sublinhou Isabelle Vitali, tem de se fazer uma aceleração do digital em toda a cadeia de valor do medicamento, desde o I&D, os ensaios clínicos, até à fábrica 4.0 e à cadeia de abastecimento". Além disso, o aproveitamento do potencial dos dados, das parcerias para a "criação de uma nova cultura digital empresarial e de um ecossistema em que as parcerias têm sido fundamentais". Como destacou "o objetivo é o melhor tratamento para os doentes".
A Sanofi tem várias parcerias com a Google como a Verily Life Sciences, que fundou a Onduo Virtual Diabetes Clinic, para encontrar a combinação certa de dispositivo, software, medicamento e atendimento ao paciente. A Sanofi tem ainda a Darwin, uma plataforma com dados de mais de 450 milhões de pacientes em todo o mundo e 318 áreas de doenças. Na área da esclerose múltipla, a Sanofi Venture participa na startup Happify.
A voz dos pacientes
O European Patient Forum (EPF) é uma organização europeia de pacientes de doenças crónicas, que defendem o acesso à saúde com cuidados de saúde com qualidade e centrados no paciente. "É a voz do paciente nas instituições da União Europeia como o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia por forma a dar a perspetiva do paciente nas políticas públicas de saúde europeias", explicou Usman Khan, diretor executivo da European Patient Forum, na sua conferência "How Will The Patient 2.0 Live in a Virtual World?".
Para ilustrar a emergência e a diferença, Usman Khan recorreu a uma citação do médico interpretado por George Cloney, em Serviços de Urgência, que dizia ao paciente 1.0, "o meu conselho é que siga os meus conselhos". Mas o paciente 2.0 assume uma voz em prol de melhores práticas e capacidades clínicas, e tem cultivados alguns valores baseados no seu empoderamento. Por isso, como diz Michel Seres, a quem foi diagnosticado a doença de Crohn e que pertence ao Patient Safety Movement, "se o médico não calçar os sapatos do paciente vai falhar". Na sua intervenção Usman Khan sublinhou que a digitalização pode não ser igualitária e que pode agravar a fratura digital e o acesso aos cuidados de saúde.
Não se faz serviços de saúde sem pessoas
"Queremos um SNS universal, de qualidade e sustentável, e por isso valorizamos o que de melhor se faz na saúde, em Portugal", referiu Jamila Madeira, secretária de Estado da Saúde.
Jamila Madeira, secretária de Estado da Saúde, pensa que "não se faz saúde sem pessoas, e elas são sobretudo o motor de tudo e são a mais-valia das instituições" por isso considerou fundamental que "nenhum de nós avança sem reconhecimento, sem agradecimento. Sem ele o nosso SNS não avança e precisamos que de forma colaborativa, coletiva e inclusiva" se consigam atingir os objetivos e os melhores cuidados de saúde.
Considerou que "os recursos são finitos e muito em particular, na saúde", que é necessária tornar a saúde sustentável com os "recursos que temos, para servir melhor os utentes. Queremos um SNS universal, de qualidade e sustentável".
A nova secretária de Estado da Saúde sublinhou que todos os dias a ciência coloca no mercado novas soluções terapêuticas, novos medicamentos, novos dispositivos, nova tecnologia, "à qual não podemos deixar de aderir, não podemos negar o acesso aos nossos utentes, aos nossos cidadãos, mas sabemos que em muitos casos eles são extraordinariamente onerosos, mas ainda assim, no SNS queremos fazê-lo, estamos a fazê-lo com uma enorme preocupação em termos de segurança de dados e de segurança com a informação dos utentes, com uma enorme preocupação de interoperabilidade, e de garantia de que todos podem ter acesso a esses recursos".
Finitude de recursos
"A sustentabilidade do sistema de saúde é um dos principais desafios e o digital é uma aposta estratégica. A tecnologia pode ser a chave para a eficiência e a otimização de um setor em os recursos são escassos e limitados e há dificuldades de recrutamento de profissionais de saúde", declarou André de Aragão Azevedo, secretário de Estado da Transição Digital.
Acrescentou ainda que "a finitude de recursos implica alargar a capacidade humana através da tecnologia". O novo governante fez ainda um apelo para que a regulação "não seja um bloqueio à inovação, tendo uma abordagem mais aberta e mais positiva", de forma a permitir o desenvolvimento de um ecossistema de tecnologias digitais.
Francisco Del Val, CEO da Sanofi, pediu que haja uma maior estabilidade no setor farmacêutico e uma visão de médio e longo prazo para que os projetos de inovação como os ensaios clínicos ou as parcerias com start-ups na área digital possam prosperar.
"A Sanofi está a utilizar a tecnologia digital nos medicamentos biológicos", anunciou Francisco Del Val, CEO da Sanofi, dando como um dos exemplos do impacto da digitalização na cadeia de valor do medicamento. Acrescentou que a Sanofi tem uma parceria com a Google com dez projetos em que a utilização de inteligência artificial e o big data podem acelerar a descoberta de novos medicamentos e de novas soluções na área da saúde.