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Gaia reduz mortalidade nos AVC para 12,7%

O projecto Stroke Center arrancou em Janeiro de 2015 no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho. Liderou a disponibilização de cuidados da terapêutica endovascular - trombectomia mecânica - à população da região norte do país.

01 de Outubro de 2018 às 13:00
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Sandra Silva é auxiliar no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) há sete anos, mas a experiência não lhe acalma a inquietação. Mal o telefone toca e é informada de que vem um doente a caminho vítima de AVC (acidente vascular cerebral) oriundo de Gaia, Espinho, Feira, Braga ou Viana, sabe que não há tempo a perder. "Tenho de garantir que está tudo limpo, providenciar o material, preparar a sala de angiografia em 10 minutos, no máximo", conta.

"É uma das nossas melhores auxiliares", refere o médico Manuel Ribeiro, frisando que o sucesso do projecto Stroke Center, que em 2015 ajudou a montar, exigiu equipas multidisciplinares "entrosadas" e com vocação para a fase aguda do AVC. Mas, acima de tudo, "muito entendimento e multidisciplinaridade" 24 horas por dia 365 dias ao ano. "Há doentes que já chegam aqui tarde, infelizmente, porque o tempo não o conseguimos vencer." E "a decisão em medicina é o momento mais difícil", diz. O clínico sabe que "investir ou não num doente é muito difícil de assumir", mas realça que "a decisão não é solitária", porque "há uma monitorização permanente, um trabalho de equipa constante e todas as semanas discutimos os casos tratados".

A visão é partilhada por Miguel Veloso. "As relações pessoais com os responsáveis do projecto é do que mais me orgulho." Dá o seu testemunho: "Às vezes ligo ao Manel às três ou quatro da manhã para tomar uma decisão". Ribeiro corrobora. "Estamos sempre disponíveis. (...) Vimos cá às três ou às seis da manhã e as pessoas trabalham com o mesmo ritmo e entusiasmo."

O projecto Stroke Center nasce da evidência clínica e das orientações da European Stroke Organization, que concedeu certificação internacional às unidades de Neurorradiologia de Intervenção e de AVC do CHVNG/E pela "excelência, qualidade e diferenciação" do serviço. O Centro Hospitalar, que dá resposta à região norte, foi o primeiro no país a ser acreditado internacionalmente.

Desde 2015 foram definidas "relações inter-institucionais estreitas" com as unidades de AVC da Administração Regional de Saúde (ARS) Norte, entre elas as dos hospitais da Feira, Braga e Viana. Foram criadas unidades funcionais com princípios de actuação conjunta e coordenada, critérios de tratamento endovascular - trombectomia mecânica - e protocolos científicos e clínicos, designadamente para a transferência do doente com AVC agudo.

Com o advento da trombectomia e cientes de que as "doenças cerebrovasculares são a principal causa de morbimortalidade" em Portugal e em vários países europeus, Ribeiro e Veloso meteram mãos à obra. No início, sem qualquer compensação financeira, formaram uma "equipa multidisciplinar altamente diferenciada", composta por cinco médicos, fisiatra, assistente social, nutricionista, terapeuta da fala e auxiliares.

Três anos depois, os números revelam "uma excelente relação custo/eficácia" do trabalho conjunto. A taxa de mortalidade aos três meses, que era de 30% nos doentes não tratados, baixou para 12,7%. A taxa de recanalização eficaz no tratamento endovascular, considerada "fundamental" para o sucesso do tratamento e benefício clínico ao doente, chega aos 90%. O número de pacientes tratados subiu 48% ao ano, as trombectomias estão em crescimento - 251 em 2018, previsão de 334 em 2019 e 418 em 2020 - e os dias de internamento baixaram 70%.

Manuel Ribeiro não tem dúvidas: "A organização em Stroke Center aumenta a proximidade dos utentes aos cuidados de saúde altamente diferenciados, independentemente da distância física entre unidades de AVC e o centro de intervenção endovascular." E o sistema de telemedicina, ao assegurar a transmissão de imagens, permite que a Neurorradiologia de intervenção esteja presente em todas as unidades".

Há um único senão: a escassez de meios humanos e técnicos afectos ao projecto. "Só temos um angiógrafo", lamenta Miguel Ribeiro, frisando que esse equipamento ainda tem de ser partilhado com outras especialidades no hospital. Está em causa "um milhão de euros", mas o médico nem hesita: "Os ganhos são notórios. E estão calculados."



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