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Fazer com que a pessoa cuidada se sinta mais pessoa

Uma metodologia, denominada Humanitude, faz a diferença na forma como prestadores de cuidados de saúde e pessoas cuidadas se relacionam na Unidade Cuidados Continuados de Longa Duração e Manutenção da Santa Casa de Pedrógão Grande. O método é aperfeiçoado em permanência e foca quatro pilares: olhar, toque e palavra, tendo como pilar identitário a verticalidade. Os resultados são um sucesso.

02 de Outubro de 2018 às 14:30
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Liliana Henriques, Enfermeira Coordenadora da Unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande, fala na implementação da metodologia Humanitude que aí acontece desde 2016 como "uma forma de fomentar a autonomia e independência da pessoa cuidada".

 

O enfoque da metodologia está na relação que se estabelece entre os profissionais de saúde e a pessoa cuidada. A profissionalização desta relação é a palavra de ordem. A forma como se olha, fala e toca a pessoa é estudada e uniformizada por todos os 34 colaboradores desta unidade.

 

Os principais pilares da Humanitude são três, a saber: olhar, toque e palavra. "Assim como um actor profissionaliza o seu corporal, a forma de falar e de se relacionar, os profissionais de saúde também têm de o fazer para se adaptar as pessoas que estão a cuidar", refere Liliana Henriques.

 

Todavia, isto não significa que não há personalização no tratamento. "A base, a técnica da profissionalização funciona sempre, conseguimos, através desta metodologia, que a pessoa cuidada se sinta mais pessoa", sublinha Liliana Henriques.

 

"A profissionalização da relação destina-se a fazer com que o cuidador se consiga relacionar com a pessoa cuidada", explica. "Fazemos reuniões mensais em que tentamos perceber o que podemos melhorar, como podemos evoluir mais, o que funciona para uma determinada situação". 

 

A Humanitude é aplicada a pessoas com vulnerabilidade, com dependência, e é nestas onde se vêem os maiores ganhos. Para além da palavra, do toque e do olhar, existe um quarto pilar da Humanitude, a verticalidade. Liliana Henriques diz-nos que é "um ponto fundamental" porque "enquanto pessoas, a verticalidade sempre foi importante na nossa evolução e, na [nossa] unidade, defendemos que a pessoa deve viver e morrer de pé porque a perda de verticalidade faz com que a pessoa passe por uma espécie de luto por não se levantar ou caminhar, é destrutivo daquela pessoa".

 

"Em pessoas, cujo processo cognitivo-amnésico e demencial está instalado, muitas vezes o que é mais primitivo está presente. Por isso, conseguimos fazer a manutenção das capacidades da pessoa, ajudamos a manter e não perder com a mesma progressão e, mais uma vez, com muito enfoque na relação porque é mais fácil conseguir estabelecer uma relação com essas pessoas quando está verticalizada, olho no olho", frisa.

 

"A verticalidade é motivo de alegria porque significa que a pessoa consegue tomar banho de pé, levanta-se da cama, pode dar alguns passos e é muito importante na construção da identidade da pessoa, ao nível do impacto físico e impacto emocional", sublinha.

 

"Sempre que substituímos alguém em algo que poderia fazer, estamos a destruir e não a construir a humanitude dessa pessoa", conclui a enfermeira.


O projecto

A Unidade de Cuidados Continuados e de longa Duração da Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande acolhe pessoas dos 18 aos 104 anos de idade - sim, já tiveram um paciente com esta idade. 

 

Está inserida na Santa Casa da Misericórdia de Pedrógão Grande e, desde 2016, que desenvolvem um projecto de implementação da metodologia de cuidado Humanitude na Unidade. Tem 34 colaboradores e 32 pessoas para cuidar actualmente, uma das quais com cerca de 50 anos. A média de idades dos pacientes na Unidade, neste momento, é de 75 anos.

 

As patologias das pessoas são muito diversas e abarcam desde patologias oncológicas até à saúde mental ou processos demenciais, mas também síndromas cognitivo-amnésicos em diferentes graus de evolução; ou polipatologias, tais como Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) ou enfartes.



A figura: Liliana Henriques, coordenadora

Liliana Henriques é enfermeira, formada pela Escola Superior de Enfermagem Francisco Gentil, em Lisboa, desde 2008 e coordena, desde 2014, a Unidade de Cuidados Continuados de Longa Duração e Manutenção de Pedrógão Grande.

 

É Mestre em Cuidados Continuados e Paliativos pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Formadora no Instituto Gineste Mariscotti Portugal, o Instituto responsável pela metodologia Humanitude que Liliana Henriques implementa, com sucesso, desde 2016, na Unidade, em conjunto com 34 colaboradores.

 

"Para além do reflexo positivo nas pessoas que estamos a cuidar, enquanto cuidadores sentimo-nos mais capacitados e confiantes porque temos o conhecimento e dominamos as técnicas, graças à metodologia Humanitude", afirma Liliana Henriques.



Independência de doentes aumenta 50%

Um estudo feito internamente, de forma longitudinal, ao longo de quatro meses, em que à medida que evoluíam na formação dos colaboradores, mas também nos resultados junto das pessoas cuidadas, aperfeiçoavam a implementação da Humanitude na Unidade de Pedrógão, conclui o seguinte:

 

         Menos 50% de dependência nas pessoas cuidadas

         Menos 13% de quedas;

         Mais 28% de rapidez nos cuidados de higiene e

         Menos 37,5% de úlceras por pressão.



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