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A rede tem 14 anos de funcionamento e o projeto começou ao fim de quatro/cinco anos depois de o Infarmed ter dado a autorização excecional para que isso acontecesse. "Fomos crescendo e neste momento temos 86 unidades a quem damos cobertura no circuito do medicamento e isto implica termos oito a dez farmacêuticos em permanência", revelou Caldas de Almeida.
O responsável do projeto salientou que conseguiram garantir "a qualidade no manuseamento do medicamento a um preço muito mais barato para as unidades", isto num contexto em que muitas das instituições estão numa "situação muito difícil" em termos financeiros. "Ao ter um grupo de farmacêuticos a fazer as encomendas de todos os serviços, tornou-se possível conseguir condições vantajosas no mercado pelo volume de encomendas de que estamos a falar", acrescentou.
Manuel Caldas de Almeida fez questão de frisar "a vantagem muito grande" que foi "ao longo destes dez anos juntarmo-nos todos uma vez por mês para discutir as metodologias de trabalho, um método de circuito de medicamento, com procedimentos uniformes que permitiram uma certificação facilitada, quando algumas misericórdias foram certificadas pela Joint Commission International (JCI) nesta área da farmacêutica, porque tínhamos, através deste grupo, o processo de qualidade muito desenvolvido", relata.
O projeto de centralização de recursos farmacêuticos "procura garantir a estas unidades qualidade certificada na manipulação, encomenda e distribuição dos medicamentos", frisa.
Poupanças de 30%
Manuel Caldas de Almeida sublinhou a poupança financeira que resultou da centralização de recursos farmacêuticos, em duas vertentes. "Por um lado cobramos 25% do que custaria ter um farmacêutico em exclusividade, e, por outro, ao criar uma central de negociação dos produtos de 86 unidades de cuidados continuados, conseguimos preços muito mais favoráveis do que se cada unidade comprasse sozinha - falamos de poupanças na ordem dos 30% -, mas saliento que somos uma central de negociação e não fazemos compras".
"O mais importante é a garantia de qualidade que damos ao consumidor final, que é o doente, porque controlamos um procedimento nestas unidades que vai desde a compra ao embalamento, passando pela unidose, o transporte, a manipulação do medicamento, e tudo é feito com procedimentos garantidos e, portanto, o produto final é muito bom", garantiu.
A partir do momento em que as misericórdias aderem ao projeto, todo o circuito do medicamento é assegurado pela farmacêutica deste grupo, incluindo todos os medicamentos e consumíveis, o simpósio terapêutico que se usa nessa unidade, tudo é homologado pelo grupo de Centralização de Recursos Farmacêuticos.
Comité científico com médicos
"Temos um comité científico com médicos e enfermeiros e todos os medicamentos que são autorizados para utilizar nestas unidades têm de ser homologados pelo nosso comité", referiu ainda Caldas de Almeida, salientando que "a vantagem é a solidez das decisões que uma farmacêutica, quando inserida num grupo de dez farmacêuticos, tem em termos de capacidade de atuação, usufruindo de um backup de médicos, que são parte da equipa e, portanto, com uma capacidade de interferência em toda metodologia que uma farmacêutica sozinha não terá".
O responsável da UMP reforçou a ideia de que o projeto permitiu a muitas misericórdias o acesso a farmacêuticos, já que "sem esta metodologia não teriam, uma vez que não tinham dinheiro para contratar uma farmacêutica em exclusividade". E fez a ressalva de que "esta autorização é referente apenas às unidades de cuidados continuados, mas é evidente que todos os métodos introduzidos na misericórdia acabam por ser transversais e acabam por se adotar em toda a sua área de atuação".
Manuel Caldas de Almeida revelou que, atualmente, o grupo de médicos e farmacêuticos já está a dar passos para avançar na área da farmacovigilância e controlo de infeção. "Com este grupo de farmacêuticos e a homogeneização que conseguimos nestas unidades, permite-nos que tenhamos uma intervenção concertada e podemos fazer nestas unidades também a garantia de qualidade em relação a determinados produtos específicos como os antibióticos".
"Tudo tem a ver com o controlo de infeção porque hoje em dia a infeção hospitalar é um problema gravíssimo e deve-se, em parte, à utilização inadequada dos antibióticos", acrescentou. "Com este grupo e esta metodologia, envolvendo os diretores clínicos das unidades, conseguimos ter um método de farmacovigilância muito eficaz, que é igual em todas e abrange um grupo muito grande de unidades", concluiu.
A figura
Manuel Caldas de Almeida
Secretário nacional da União das Misericórdias Portuguesas
É licenciado em Medicina pala Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa da Universidade Nova de Lisboa (1980). Multipremiado, foi galardoado com o Prémio Nacional de Qualidade em instituições de saúde 1997 e Prémio Hospital do Futuro 2005. Participou em programas internacionais de investigação, foi o presidente do 1.º e 2.º Congresso Nacional de Cuidados Continuados e autor de livros, publicações e apresentações em congressos. É membro do Secretariado Nacional da UMP, responsável pela área de geriatria desde 2009, assim como pela área dos cuidados continuados e demências na UMP e pela área clínica de Unidade Bento XVI, além de diretor do Hospital do Mar do Grupo Luz Saúde desde abril 2006. Exerce ainda o cargo de administrador para a área da saúde do Grupo Luz Saúde desde julho 2005. É professor convidado de Geriatria da Nova Medical School da Universidade Nova de Lisboa.