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Centralidade do doente é lema em Santarém

Um conceito inovador está a mudar a forma como os pacientes são atendidos no Hospital de Santarém. O objectivo é que o utente vá à consulta, faça os exames e tenha o seu diagnóstico no mesmo dia, reduzindo as deslocações.

12 de Outubro de 2017 às 12:11
Sara Matos
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Hipertensão ocular. O diagnóstico foi feito ao marido numa unidade de saúde, recentemente. Mas Loures Cordeiro não ficou convencida e decidiu que teria de ouvir uma segunda opinião. E estava certa. Em poucas horas, e depois de uma série de exames, o oftalmologista garantiu que estava tudo bem com a "vista" do companheiro. "Felizmente não tem nada. Foi só o susto", desabafa.

No Hospital Distrital de Santarém, a consulta começou pontualmente à hora marcada, 9:30 da manhã, e pouco passava do meio-dia quando o casal recebeu o diagnóstico final. Durante esse tempo, o paciente foi encaminhado para uma série de exames e os resultados foram logo analisados pelo médico, evitando novas deslocações ao hospital. Loures Cordeiro não podia estar mais satisfeita com a rapidez do processo. "Mandaram fazer logo os exames no fim da consulta. Agora é meio-dia e pouco e já temos os resultados", conta. "Acho que este sistema é óptimo, porque a pessoa não têm de voltar cá. Foi uma experiência muito positiva".


2.000
Metros quadrados
O Ambulatório Programado de Alta Resolução abrange uma área de cerca de dois mil metros quadrados.


A consulta decorreu no Ambulatório Programado de Alta Resolução (APAR), instalado num novo edifício do Hospital de Santarém, onde, entre o final de 2013 e o início de 2014, foi introduzida uma nova metodologia de funcionamento baseada precisamente no conceito de "consulta de acto único". O método, pioneiro em Portugal, tem como objectivo que os pacientes sejam observados pelo médico, sejam realizados os exames complementares de diagnóstico, após os quais regressarão a casa, no mesmo dia da consulta, já com uma proposta de tratamento. "O projecto foi idealizado por nós, quando surgiu a oportunidade de construir um novo edifício para instalar a consulta externa de cirurgia", explica José Rianço Josué, presidente do Hospital de Santarém. "Foi possível, nessa altura, idealizar um modelo que fosse o mais resolutivo possível para as pessoas".

Na especialidade de oftalmologia, por exemplo, o novo sistema permitiu aumentar o número total de primeiras consultas com meios complementares de diagnóstico de 1.922, em 2014, para 2.026, em 2016. Resultados que são vistos como muito encorajadores pelos profissionais de saúde, na medida em que se traduzem em economia processual e até financeira. Para o utente, o método significa não só um diagnóstico mais rápido como também uma poupança de tempo e dinheiro com as deslocações ao hospital. "O que está aqui de diferente é a forma como utilizamos o edifício e os recursos. É uma forma muito eficiente de trabalhar e de usar os meios de que dispomos. Os recursos são consumidos de forma intensiva, não há desperdícios, há uma sequência de tarefas e de actos", refere José Rianço Josué.


Fernanda Reis é um exemplo de satisfação com o método de funcionamento. "Achava que só vinha à consulta de otorrino", diz. "Mas acabei por fazer logo um audiograma e fiquei despachada. Não tenho de voltar novamente, o que é muito bom porque estou a trabalhar e tenho de justificar as faltas". Antes de deixar o hospital, a paciente despede-se do enfermeiro-chefe, Filipe Correia, que coordena os enfermeiros no ambulatório de alta resolução. O responsável explica que a implementação do sistema também exigiu um novo método de trabalho, por parte dos profissionais de saúde, para responderem da melhor forma às necessidades dos utentes. "Não há aqui nem facilitismo nem 'porreirismo'", resume. "Há é uma centralidade do paciente. O doente é o mais importante, e por isso temos de ter uma abordagem holística".

Além dos exames complementares, os pacientes podem fazer, no mesmo dia, pequenas intervenções cirúrgicas com recurso a anestesia local - como excisões de quistos - na unidade de pequena cirurgia que foi instalada no ambulatório e onde já são realizadas cerca de 110 intervenções por mês, aliviando os tempos de espera.
Na Unidade de Pequena Cirurgia instalada no novo edifício do Hospital de Santarém, os pacientes podem fazer, no mesmo dia da consulta, pequenas intervenções que apenas requeiram anestesia local, como excisões de quistos. Em média, já são realizadas cerca de 110 intervenções por mês, ajudando a reduzir as listas de espera.
Na Unidade de Pequena Cirurgia instalada no novo edifício do Hospital de Santarém, os pacientes podem fazer, no mesmo dia da consulta, pequenas intervenções que apenas requeiram anestesia local, como excisões de quistos. Em média, já são realizadas cerca de 110 intervenções por mês, ajudando a reduzir as listas de espera. Sara Matos
Para melhorar ainda mais a experiência do utente, o edifício, com luz natural e música ambiente, tem cada uma das especialidades identificadas por cores para facilitar o reconhecimento, sobretudo pela população mais idosa. "Um inquérito de satisfação que fizemos recentemente mostra que 93% dos utentes está satisfeito ou muito satisfeito. É, sem dúvida, um modelo muito eficiente", conclui o presidente.


Como fez mais com menos

"Acto único" optimiza uso dos recursos

O Hospital Distrital de Santarém aproveitou a construção de um novo edificio, em 2010, para implementar o Ambulatório Programado de Alta Resolução, que tem por base um conceito inovador e pioneiro em Portugal, a consulta de "acto único". Com recurso a um investimento de 600 mil euros, com o apoio do QREN, esta unidade de saúde equipou o ambulatório de forma a responder ao novo sistema de funcionamento: utilizar os recursos da maneira mais eficiente possível para permitir que um paciente que vá a uma consulta, realize os exames complementares de diagnóstico no mesmo dia e volte para casa com uma proposta de tratamento.

Pontos fortes

A "consulta de acto único" resulta na diminuição significativa da estadia do utente no hospital, o que reduz o tempo de espera para o seu diagnóstico e tratamento.

Agilizar e reduzir listas de espera

O novo método de funcionamento do Ambulatório Programado de Alta Resolução - equipado com uma unidade de pequena cirurgia - permitiu aumentar a rentabilização dos tempos operatórios na Unidade de Cirurgia de Ambulatório e reduzir as listas de espera. Por outro lado, com a redefinição dos circuitos dos doentes e processos, foi possível eliminar redundâncias e ineficiâncias e rentabilizar os recursos físicos e humanos. A aquisição de novos equipamentos também levou a uma redução dos custos com exames ao exterior.


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