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As forças e as fraquezas do SNS na resposta à pandemia

Reação do Serviço Nacional de Saúde merece aplauso, mas assistência a doentes não covid preocupa. Pandemia revelou também insuficiências e ineficiências. Para António Couto dos Santos, ela “criou uma consciência social e política para a prioridade do investimento em saúde”.

24 de Setembro de 2020 às 12:00
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"A pandemia pôs à prova a capacidade do SNS (Serviço Nacional de Saúde) em responder a desafios não programados. Mostrou capacidade de adaptação a novas circunstâncias e novos problemas, capacidade de liderar toda a sociedade no desafio de buscar soluções, capacidade de mobilizar os melhores profissionais para operar o sistema desde a primeira hora", sublinha Francisco Ramos, professor associado da Escola Nacional de Saúde Pública, ex-secretário de Estado da Saúde em dois governos, e membro do júri do Prémio Saúde Sustentável.

Na sua opinião, a resposta do "SNS foi exemplar, ao mesmo tempo que a generalidade dos hospitais privados encerrava portas e reclamava a demora de horas dos hospitais públicos em receber doentes suspeitos". Alerta no entanto para a emergência da "preocupação com os doentes não covid, como a principal lacuna na resposta do sistema de saúde em Portugal".

Esta preocupação é partilhada por António Couto dos Santos, ex-ministro da Educação e ex-deputado da Assembleia da República pelo PSD, e membro do júri do Prémio Saúde Sustentável. Os efeitos do alargamento dos prazos de intervenção da rotina em cuidados de saúde, como tratamentos, consultas, diagnósticos, cirurgias, etc., "só se verão mais tarde, mas era uma consequência inevitável para concentrar recursos e meios no combate a pandemia".

Forças e fraquezas

Para António Couto dos Santos, esta pandemia "criou uma consciência social e política para a prioridade do investimento em saúde". Em termos de SNS houve uma "demonstração da qualidade e capacidade dos nossos profissionais de saúde, em todas as áreas, pela forma rápida e eficaz como responderam a um problema de saúde pública e para o qual ninguém estava preparado".

O outro lado da moeda é que "evidenciou as forças e as fraquezas do nosso sistema de saúde em termos de recursos humanos, infraestruturas e meios técnicos e mostrou como a cooperação entre o setor público, o setor privado e o setor social é fundamental para respostas adequadas do sistema em tempos de crise ou maior exigência".

79Prémios
O Prémio Saúde Sustentável teve a sua primeira edição em 2012. Ao longo destes anos já foram atribuídos 79 prémios. 
José Luís Biscaia, médico de família na Unidade Familiar de São Julião da Figueira da Foz, sublinha "a afirmação do SNS como a verdadeira e única garantia da concretização efetiva do direito à saúde e do acesso aos cuidados de saúde de todos os cidadãos, neste contexto de pandemia, para o qual nenhum sistema de saúde estava preparado".

Numa análise mais fina, refere que a crise pandémica evidenciou as limitações e as insuficiências estruturais do SNS, como os recursos humanos, e o modelo de governação, e, sobretudo, "realçou as fragilidades do nosso sistema de informação atual: a reduzida ou nula interoperabilidade entre aplicações, a inexistência de um processo clínico eletrónico único, o incipiente desenvolvimento dos dispositivos de gestão de informação e conhecimento", diz José Luís Biscaia, membro do júri do Prémio Saúde Sustentável.

O balanço da resposta à pandemia obriga a rever muitos dos processos de cuidados, organizacionais, em que há redundância e ineficiência em muitos deles, tanto do lado da procura e utilização como da organização da oferta. E, como diz José Luís Biscaia, reforçou a importância da transformação digital com todo o seu potencial, na simplificação, na qualificação do acesso, no apoio à decisão e a boa adesão por parte dos profissionais.

O positivo e o negativo

Numa análise às reações dos projetos ou instituições que estiveram na luta contra a pandemia, Francisco Ramos considera que a Direção-Geral da Saúde soube liderar o país nesta luta contra a pandemia.

"Fazendo jus aos seus (cerca de) 120 anos de vida, a DGS deu a cara, explicou a situação, apoiou-se na ciência, apontou caminhos e assumiu decisões. A rede de serviços de saúde pública existente no país e liderada pela senhora diretora-geral foi provavelmente o fator diferenciador que explica a boa resposta de Portugal neste contexto pandémico. A rede de medicina geral e familiar também foi essencial no acompanhamento de 90% dos doentes, evitando o esgotamento da capacidade de resposta hospitalar", diz Francisco Ramos.


Por decisão unânime do júri, a edição deste ano será dedicada à partilha de boas práticas em contexto de covid-19.


Sublinha que o lado negativo esteve nas organizações médicas, como a Ordem dos Médicos e o colégio dos diretores das escolas de Medicina, que "tiveram um comportamento lamentável, criando alarmismo e procurando evidência pessoal".

José Luís Biscaia afirma que "foi uma resposta muito positiva, suportada pelo (e no) recurso mais valioso das nossas organizações de saúde - os seus profissionais". António Couto dos Santos afina pelo mesmo diapasão e salienta que "as instituições prestadoras de cuidados de saúde reagiram às exigências da pandemia com muita dedicação, empenhamento e profissionalismo, adaptando processos, motivando os seus recursos humanos e com grande sentido de solidariedade entre elas." Couto dos Santos destacou ainda o papel das "instituições de investigação, universidades, empresas e outras utilizaram o seu potencial de conhecimento e saber-fazer para darem o seu contributo".

Prémio Saúde Sustentável em contexto de covid-19 Até 30 de setembro estão abertas as candidaturas à 9.º edição do Prémio Saúde Sustentável, uma iniciativa do Jornal de Negócios e da Sanofi, orientada para a divulgação e incentivo de boas práticas da sustentabilidade da saúde em Portugal, que conta com metodologia de avaliação desenvolvida pela Everis.

A edição deste ano, por decisão unânime do júri, será dedicada à partilha das boas práticas em contexto de covid-19, com o objetivo de reconhecer e distinguir projetos ou instituições que se tenham destacado na luta contra a pandemia que desde março invadiu Portugal. É a primeira vez que o Prémio Saúde Sustentável, que teve a sua primeira edição em 2012, é dedicado a um tema.

Este ano o Prémio Saúde Sustentável reparte-se por sete critérios de avaliação: Experiência do Cidadão, Resultados em Saúde, Integração de Cuidados, Impacto Populacional, Transição Digital, Replicabilidade e Escalabilidade. É ainda atribuído por decisão do júri, o Prémio Personalidade, que distinguirá quem se tenha destacado na promoção de práticas sustentáveis na área da saúde, em contexto covid-19.

Nas suas várias categorias, que foram sofrendo evoluções ao longo do tempo, foram distinguidas 66 instituições de vários pontos do país, desde vencedores a menções honrosas já foram entregues 79 prémios. Estas oito edições ajudam a compreender e mostram a evolução da Saúde em Portugal, em particular do Serviço Nacional de Saúde.

CANDIDATE-SE ATÉ 30 DE SETEMBRO em www.premiosustentavel.pt
O Prémio Saúde Sustentável segundo…

Francisco Ramos
Professor associado da Escola Nacional de Saúde Pública

"O Prémio Saúde Sustentável já ganhou notoriedade na comunidade de saúde portuguesa. Nestes tempos de grandes desafios e enorme pressão do quotidiano, momentos de reconhecimento do mérito e da dedicação ao interesse público ganham especial importância. Vários projetos vencedores de anos anteriores poderiam ser mencionados. Seria injusto fazer qualquer destaque. Aguardemos pelos vencedores desta edição."


José Luís Biscaia
Médico de família na Unidade Familiar de São Julião da Figueira da Foz

"Caracteriza-se pelo foco na geração de valor em saúde, transversalidade a todos os tipos e níveis de cuidados, metodologia com critérios explícitos de avaliação e diversidade das várias áreas temáticas que compõem este prémio.

O destaque dos vários projetos é dado pela atribuição dos prémios e menções honrosas, num processo exigente e transparente de avaliação pelo júri nacional. É um estímulo e relevante contributo, para melhoria sustentada das nossas organizações, pelo reconhecimento e visibilidade que dá às boas práticas e projetos de inovação e sucesso, contribuindo para o desenvolvimento de uma cultura de partilha e de melhoria contínua."


Couto dos Santos
Ex-ministro da Educação e ex-deputado da Assembleia da República pelo PSD

"Permite que instituições ou projetos mostrem ao país o que de melhor se faz, a capacidade de inovação na transformação da rotina, o empenhamento profissional de equipas multidisciplinares para dar as melhores respostas em saúde de forma sustentada e, muitas vezes, pôr em evidência as pequenas grandes coisas que se vai fazendo pelo país e que o prémio leva ao conhecimento dos agentes e da sociedade.

Os fatores mais diferenciadores estão na resposta dos candidatos ao prémio, não porque haja um valor pecuniário, mas porque o Prémio lhes proporciona a expressão, o reconhecimento público e a divulgação da excelência do que fazem em termos de cuidados de saúde. É uma forma de reconhecer o mérito a quem faz bem e com sustentabilidade.

Ao longo das oito edições anteriores foram tantos os projetos de excelência apresentados por instituições prestadoras de cuidados de saúde e por ONG, cobrindo as diversas áreas de intervenção na área da saúde, que seria injusto evidenciar isoladamente algum deles. Na memória ficou-me a alegria, o orgulho, a dedicação e a causa dos responsáveis dos projetos premiados no ato da entrega do prémio, o que mostra que uma das formas de mobilizar as pessoas e a sociedade é o reconhecimento público do mérito de quem faz desinteressadamente bem."
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