Outros sites Medialivre
Notícia

A enfermeira-móvel de Guimarães

A Unidade de Apoio Móvel Domiciliário do Centro Hospitalar do Alto Ave começou a operar em 2014 e tem como objectivo tratar e monitorizar os utentes em casa. É bom para o hospital e é bom para os doentes.

24 de Junho de 2015 às 10:00
Paulo Duarte/Negócios
  • Partilhar artigo
  • ...

O Volkswagen cinzento que a enfermeira Mónica Alves estacionou com orgulho em frente ao Centro Hospitalar do Alto Ave (CHAA), em Guimarães,  é uma das grandes conquistas desta instituição nos últimos tempos. Foi a comunidade que se mobilizou para adquirir a viatura, através da Liga de Amigos, uma "associação do hospital que tem alguns milhares de associados", conta Delfim Rodrigues, presidente do conselho de administração da unidade.


O objectivo foi criar a Unidade Móvel de Apoio Domiciliário (UMAD) que funciona desde Maio de 2014, e é a "menina dos olhos" de Mónica Alves, que começa às 8 da manhã a visitar, em casa, os doentes inscritos no programa. "O objectivo é fazer ou uma transição para a recuperação total do doente e alta da enfermagem, ou então a transição para os cuidados de saúde primários. Os cuidados hospitalares são realizados em âmbito domiciliário, mas não nos pretendemos sobrepor a cuidados de saúde primários", explicou a enfermeira, que foi escolhida pelo seu perfil "técnico" e "humano" para este projecto.

 
"A Mónica além de ter o perfil humano, tem competências técnicas que levaram à selecção", explicou Ana Fravica, enfermeira-directora da instituição.  A implementação da UMAD pretende dar mais conforto aos doentes e ajuda o hospital a optimizar recursos. "Costumamos dizer que não há cama como a nossa, na nossa casa. Devemos fazer tudo o que pudermos para disponibilizar o mesmo nível de cuidados em casa que temos aqui no hospital. É isso que fazemos", explica Delfim Rodrigues. Os critérios de escolha passam, sobretudo, pela presença da família em casa, e para utentes  que " necessitem de cuidados que se fazem no hospital a que, desta forma, possam ter acesso no domicílio", realça Ana Fravica.

 

O factor "humano"

Esse enquadramento
em termos domiciliários é vantajoso. E está documentado que reduz a depressão associada
à doença. 
Mónica Alves
Enfermeira da UMAD


Não é de esquecer que este tipo de programas ajuda a poupar dias de internamento no CHAA. Num ano, "já eliminamos 1034 dias de internamento", refere o presidente da instituição, acrescentando que isto  "ajuda a aliviar a carga do hospital, em termos de trabalho de enfermagem e de outro tipo de actividades". Mas os responsáveis pelo programa preferem falar do "factor humano", como o exemplo de um idoso que cuidava da mulher, mas que ele próprio precisou de fazer análises. "A Mónica foi lá e fez a colheita de sangue e levou para o hospital, o que fez com que o senhor conseguisse ficar mais tempo com a esposa, porque é um idoso que se ia afastar, que vinha para o hospital. É a questão da humanização sempre presente", explicou Ana Fravica.


O "feedback", para Mónica Alves, tem sido muito positivo. "Esse enquadramento em termos domiciliários é vantajoso. E está documentado que reduz a depressão associada à doença.  Também fazemos uma avaliação formal, com aceitação acima dos 90%", explicou. Neste momento, a UMAD conta com 12 doentes visitados por Mónica entre as 8 da manhã e as 16 da tarde. O que não significa que o horário não possa alargar-se, se tal for necessário, ou mesmo incluir outros enfermeiros para fazer face às necessidades dos utentes.  "A recuperação dos doentes é muito diferente, subjectivamente. É mais rápida" acredita a enfermeira. E dá o exemplo "das senhoras que são submetidas a cirurgia da mama, em que mais se nota que ficam agradadas por estarem em casa", garante Mónica Alves.


Delfim Rodrigues acredita que há espaço para fazer mais. "Estou convencido que, como o programa tem tido sucesso, é natural que no próximo ano possa ser reforçado  e que mais doentes possam ser objecto e beneficiários deste projecto", realçou o presidente do CHAA.


Entre Maio e Dezembro de 2014 foram acompanhados pela UMAD 140 utentes, sendo que destes  57 se encontravam em ambulatório e os restantes 83 foram provenientes do internamento. Nesse mesmo período foram realizadas 661 visitas, uma média de 4,37 por utente, segundo os dados fornecidos pelo CHAA.


"Nos Estados Unidos, estes programas começaram há mais de 30 anos. Um doente quando está internado no hospital, a não ser que esteja internado nos cuidados intensivos por exemplo, não está propriamente a receber cuidados médicos", sublinha Delfim Rodrigues, que não vê  razão para que outros hospitais não adoptem este programa.

Mais notícias