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No organizar é que está o ganho

Na Unidade de Saúde Familiar de Valongo a arrumação é fundamental. Evitar desperdícios e poupar tempo ajuda a que o trabalho seja um pouco mais fácil. E em breve, será possível estacionar perto do edifício.

02 de Junho de 2014 às 12:04
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A enfermeira Inês Filipe é quase uma anormalidade estatística, dado o desemprego que vai assolando a enfermagem em Portugal. É jovem e tem trabalho. Aos 29 anos, ainda não precisou de emigrar para poder exercer a profissão de que gosta. A trabalhar na Unidade de Saúde Familiar (USF) de Valongo desde Outubro, Inês reconhece que teve sorte. "O Estado não está a contratar e muita gente vai embora. Eu tive oportunidade de cá ficar e com contrato a tempo indeterminado", explica a enfermeira.


As caras jovens vão aparecendo por toda a USF durante a visita do Negócios. "Queremos cá juventude", realça Bessa Cardoso, coordenador substituto da USF que é liderada por Margarida Aguiar. A responsável do centro diz que muito foi feito desde 2010 para melhorar a eficiência. "Deixámos de renovar a medicação crónica a pedido do doente", diz a médica explicando que a USF promove que os doentes façam uma consulta de avaliação antes de voltar a passar a medicação. Exames e prescrição de fármacos são processos controlados para evitar gastos desnecessários e desperdícios.


Entre as medidas de racionalização no funcionamento estão coisas tão simples como a instalação de torneiras com temporizador e a substituição de lâmpadas que avariam por novas mais eficientes. Além disso, a USF começou a implementar no final do ano passado um sistema de organização e controlo de material através de cartões "kanban", que permitem controlar os níveis de materiais nos armários e repor o "stock" só quando necessário.


Uma metodologia usada por algumas PME e que já "rendeu" um prémio à USF. "Nas grandes empresas os premiados foram a Autoeuropa e a Sonae", destaca Bessa Cardoso.


Estacionar no supermercado
A USF conta com cerca de 300 utentes por dia, sendo que, à data de 30 de Abril deste ano, o número médio de utentes por médico e enfermeira era de 1890. Em 2013, foram 19,6 consultas por dia de cada médico e 19,5 por enfermeiro. Por ano, são 4319 e 4310 respectivamente.

 

22

 

A USF de Valongo conta com 22 profissionais entre médicos, enfermeiras e secretárias clínicas.

 

O centro tem 15.100 utentes inscritos e 22 profissionais a trabalhar nas instalações, que têm na falta de estacionamento o maior problema. A coordenadora do centro admite que esta questão se mantém e gera algumas queixas dos utentes. Depois de várias tentativas de encontrar uma solução, Margarida Aguiar acredita que estão agora no bom caminho para resolver este problema. "A última tentativa foi com o presidente do Conselho de Administração do hospital de São João. Ele disse que a proposta seguinte seria o aluguer de um piso do supermercado perto daqui, que tem dois e só usa um. Estão neste momento a negociar preços. Temos esta falta de estacionamento também porque vêm os doentes do hospital aqui estacionar", explica a coordenadora da USF. O edifício também não tem número na porta, ainda que seja relativamente fácil de identificar.


O centro de saúde está no final da freguesia e sofre com isso. "Tentámos junto da Câmara a hipótese de ter um carro que fizesse um circuito, mas isso colide com as empresas de transportes e como isto já esta fora da freguesia é mais complicado. Durante 15 anos não tivemos passadeiras", recorda Margarida Aguiar.


A centralidade no doente é um dos aspectos que a coordenadora mais salienta, através de comunicação regular por e-mail com os utentes e avaliação regular da satisfação de quem se desloca à USF.


Inês Filipe diz o mesmo. "Fazemos o acompanhamento de toda a vida do doente. Acabamos por estar mais próximo e conhecemos melhor os doentes. O que temos mais são pessoas de idade, que precisam de apoios, não só através de assistentes sociais, mas também da família" realça a enfermeira.

 

A enfermeira Inês Filipe, que começou a trabalhar na USF em Outubro, diz que no centro de saúde o acompanhamento ao doente é feito "para toda a vida". Em Valongo são atendidos cerca de 300 doentes por dia por 22 profissionais, que, segundo a coordenadora da USF, têm formação contínua para atender cada vez melhor os utentes. São mais de 15.000 os inscritos na unidade.

 

O melhoramento da USF é um processo que nunca termina e que vai atacar alguns problemas de saúde que mais preocupam a região. "Temos um plano onde consta a nossa avaliação por parte da Administração Regional de Saúde (ARS), em comparação com as médias regionais e nacionais. Desviamo-nos um pouco [da média] neste concelho nas doenças respiratórias e cancros da orofaringe relacionados com tabaco, achamos nós. O investimento que queremos fazer é no tabagismo, desde a intervenção ao diagnóstico e à procura de cessação tabágica", salienta Margarida Aguiar.

 

 

Nós fazemos o acompanhamento de toda a vida do utente. Acabamos por estar mais próximo e conhecemos melhor o doente.
Inês Filipe, Enfermeira


Deixámos de renovar a medicação crónica a pedido do doente.
Margarida Aguiar, Coordenadora da USF de Valongo


[O método kanban] privilegia a organização como base da rentabilidade. Porque evita os desperdícios, quer de material, quer de tempo.
Bessa Cardoso, Coordenador-substituto da USF de Valongo

 

 

 

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Caso de inovação


"kanban"
Organização de material


Às vezes, poupar depende sobretudo de formas de controlo e organização de material para evitar desperdícios. A Unidade de Saúde Familiar de Valongo reduziu o desaproveitamento de materiais com um sistema de "kanban", que Margarida Aguiar, coordenadora, diz ter trazido de cursos de formação. O sistema, que contribuiu para que a USF vencesse um prémio, é muito simples. Consiste em cartões que são colocados junto com o material e assinalam quando está a chegar ao fim e precisa de ser reabastecido. "Quando começámos, encontrámos imensos métodos contraceptivos nas gavetas dos médicos. Às vezes o doente desiste de levar o material. Retiramos tudo e acabamos com isso", explica Margarida Aguiar. O mesmo sistema é usado no armazém, no piso -2 (a USF é no primeiro andar), permitindo também que os profissionais percam menos tempo em deslocações.

 

 

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A figura

 

"Grupo da qualidade"
Reuniões para sugestões


"Não posso dizer quem se destaca", responde Margarida Aguiar à pergunta do Negócios sobre a figura que é indispensável para o bom funcionamento da unidade de saúde. A coordenadora prefere salientar a equipa. "Nós reunimo-nos sempre às quintas-feiras num grupo que é o grupo da qualidade. Conta com dois elementos de cada grupo [profissional] e procuramos encontrar coisas para melhorar. Distribuímos as tarefas e avançamos", diz Margarida Aguiar. Deste "brainstorming" semanal já saíram ideias como a dos "protocolos assistenciais para diabetes, saúde materna e infantil" que a USF implementou e que vão sendo revistos à medida que são postos em prática. O objectivo é acompanhar estes doentes, mães e bebés no início de vida, aumentando a qualidade do serviço prestado.

 

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