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Pedro Passos Coelho foi, em 2014, considerado pelo Negócios como o Mais Poderoso da economia nacional. Em que lugar pensa que fica este ano? "Não faço ideia." Certo é que durante a sua legislatura as estruturas de poder em Portugal mudaram como não acontecia há algumas décadas. O BES e Ricardo Salgado caíram, arrastando outros poderosos. Terá sido uma ambição de Passos Coelho quando chegou ao Governo provocar essa mudança? "Não foi", garantiu na Redacção Aberta do Negócios, para acrescentar que "foi e é" sonho seu "defender para Portugal uma sociedade mais leal, mais competitiva, mais aberta, mais justa".
A sociedade portuguesa, acrescenta, "mantém níveis de desempenho, nestas quatro dimensões, francamente pouco animadores. Continuamos a ser um país muito desigual, embora saibamos hoje que, felizmente, a crise não agravou o problema. Mas o problema é grave. Temos um país muito desigual". E, soma Passos Coelho, "do ponto de vista económico situações que são de privilégio". Mas acredita que "os sectores protegidos estão a desaparecer. Nesse domínio, sim, avançámos mais, com as privatizações, com a transparência que fazemos de o Estado não andar casado com o investimento directo e com a gestão empresarial". O primeiro-ministro acredita mesmo que a estrutura de poder evoluiu e abriu-se.
E não vê qualquer tipo de casamento entre o Estado e os investidores e gestores nas palavras do ministro da Economia, António Pires de Lima, elogiando a Altice, nova dona da PT Portugal. "O Governo não teve nenhuma interferência no processo da PT. Nenhuma. O anterior teve toda. Vamos lá ver se distinguimos bem as coisas. O anterior Governo interveio no sentido de que uma OPA que estava a ser realizada não se concretizasse. O anterior Governo determinou – tinha uma ‘golden share’ – os negócios que, na consequência de um casamento falhado dentro da PT, se deveriam fazer com uma empresa brasileira."
Os jornais económicos são como as moelas
Passos Coelho lê os jornais durante o percurso a caminho de São Bento, a residência oficial do chefe do Governo. O primeiro jornal em que agarra "é relativamente ao calhas". No entanto, esta aparente aleatoriedade tem um método. "Leio primeiro tudo o resto muito rapidamente e deixo os económicos para o fim, porque são os que me interessam mais", explica, comparando esta estratégia com os seus hábitos alimentares enquanto criança. "Em garoto deixava sempre para o fim o que gostava mais de comer. Por exemplo, adorava moela na canja de galinha. Ia guardando aquela moelinha mesmo para o fim e um irmão mais velho passava e dizia ‘não queres?’ e comia a moela." De volta ao tema, "quando vou no carro, em regra consigo ter o tempo adequado para ler os jornais. Quando o tempo não chega os económicos são os únicos que levo para o gabinete para ler na primeira oportunidade", explica o líder do PSD.
"Sou um desgraçado que não consegue arranjar um jardim"
O que gostaria de fazer se não fosse primeiro-ministro? A resposta de Passos Coelho desemboca em duas vias, uma profissional e outra lúdica, salientando que tem "pontos de interesse muito variados". Ainda assim, explica, "do ponto de vista profissional, aquele em que me concentrei melhor, situa-se na área económica e na área da gestão". Contudo, acrescenta, "uma pessoa não pode ser reduzida à sua profissão".
É nesta fase da conversa que surge a revelação: "Há muitas coisas que tenho interesse em fazer. Tenho interesse em ter um jardim com a minha mulher. Temos esse sonho já há uns anos. Ainda não o conseguimos concretizar. Sou um desgraçado que não consegue arranjar um jardim, mas tenciono arranjar uma maneira, algures lá mais para à frente, de poder ter um jardim para o poder tratar com ela."
Para satisfazer esse sonho precisa de um outro ordenado que não o de primeiro-ministro? "Não sou, sinceramente, uma pessoa que atribua uma grande importância à questão da remuneração. Não estou com isso a dizer que gosto de ganhar pouco." O líder do PSD socorre-se dos carros que já conduziu para sustentar esta sua forma de estar. "Quando não havia dinheiro para mais, conduzi um Cinquecento. Já andei em carros melhores quando os podia pagar. Não fui mais feliz por ter carros melhores. Não meço a minha felicidade por essa bitola. Nunca contraí responsabilidades extraordinárias que não pudesse solver com rendimentos acessíveis."
A sociedade portuguesa, acrescenta, "mantém níveis de desempenho, nestas quatro dimensões, francamente pouco animadores. Continuamos a ser um país muito desigual, embora saibamos hoje que, felizmente, a crise não agravou o problema. Mas o problema é grave. Temos um país muito desigual". E, soma Passos Coelho, "do ponto de vista económico situações que são de privilégio". Mas acredita que "os sectores protegidos estão a desaparecer. Nesse domínio, sim, avançámos mais, com as privatizações, com a transparência que fazemos de o Estado não andar casado com o investimento directo e com a gestão empresarial". O primeiro-ministro acredita mesmo que a estrutura de poder evoluiu e abriu-se.
Não tenho nenhuma fixação pessoal com o lugar de primeiro-ministro, nem com o lugar de presidente do PSD. Não destinei na minha vida que tinha de ser uma coisa e outra. O que não significa que não tenha convicções que defendo. Ainda há muita coisa importante que gostaria de fazer como primeiro-ministro.
Pedro Passos Coelho
Primeiro-ministro
Primeiro-ministro
E não vê qualquer tipo de casamento entre o Estado e os investidores e gestores nas palavras do ministro da Economia, António Pires de Lima, elogiando a Altice, nova dona da PT Portugal. "O Governo não teve nenhuma interferência no processo da PT. Nenhuma. O anterior teve toda. Vamos lá ver se distinguimos bem as coisas. O anterior Governo interveio no sentido de que uma OPA que estava a ser realizada não se concretizasse. O anterior Governo determinou – tinha uma ‘golden share’ – os negócios que, na consequência de um casamento falhado dentro da PT, se deveriam fazer com uma empresa brasileira."
Os jornais económicos são como as moelas
Passos Coelho lê os jornais durante o percurso a caminho de São Bento, a residência oficial do chefe do Governo. O primeiro jornal em que agarra "é relativamente ao calhas". No entanto, esta aparente aleatoriedade tem um método. "Leio primeiro tudo o resto muito rapidamente e deixo os económicos para o fim, porque são os que me interessam mais", explica, comparando esta estratégia com os seus hábitos alimentares enquanto criança. "Em garoto deixava sempre para o fim o que gostava mais de comer. Por exemplo, adorava moela na canja de galinha. Ia guardando aquela moelinha mesmo para o fim e um irmão mais velho passava e dizia ‘não queres?’ e comia a moela." De volta ao tema, "quando vou no carro, em regra consigo ter o tempo adequado para ler os jornais. Quando o tempo não chega os económicos são os únicos que levo para o gabinete para ler na primeira oportunidade", explica o líder do PSD.
"Sou um desgraçado que não consegue arranjar um jardim"
O que gostaria de fazer se não fosse primeiro-ministro? A resposta de Passos Coelho desemboca em duas vias, uma profissional e outra lúdica, salientando que tem "pontos de interesse muito variados". Ainda assim, explica, "do ponto de vista profissional, aquele em que me concentrei melhor, situa-se na área económica e na área da gestão". Contudo, acrescenta, "uma pessoa não pode ser reduzida à sua profissão".
É nesta fase da conversa que surge a revelação: "Há muitas coisas que tenho interesse em fazer. Tenho interesse em ter um jardim com a minha mulher. Temos esse sonho já há uns anos. Ainda não o conseguimos concretizar. Sou um desgraçado que não consegue arranjar um jardim, mas tenciono arranjar uma maneira, algures lá mais para à frente, de poder ter um jardim para o poder tratar com ela."
Para satisfazer esse sonho precisa de um outro ordenado que não o de primeiro-ministro? "Não sou, sinceramente, uma pessoa que atribua uma grande importância à questão da remuneração. Não estou com isso a dizer que gosto de ganhar pouco." O líder do PSD socorre-se dos carros que já conduziu para sustentar esta sua forma de estar. "Quando não havia dinheiro para mais, conduzi um Cinquecento. Já andei em carros melhores quando os podia pagar. Não fui mais feliz por ter carros melhores. Não meço a minha felicidade por essa bitola. Nunca contraí responsabilidades extraordinárias que não pudesse solver com rendimentos acessíveis."