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O caso "por acaso foi ideia minha" da Cimeira europeia contado por Passos Coelho

As redes sociais criaram logo uma senha para o assunto: "#por acaso foi ideia minha". Pedro Passos Coelho, na Redacção Aberta, contou como aconteceu o episódio que disse que tinha sido ideia sua para ultrapassar um dos problemas com a Grécia na Cimeira europeia de Julho.

Negócios 30 de Julho de 2015 às 10:59
Miguel Baltazar
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A hashtag "por acaso foi ideia minha" tomou conta das redes sociais depois de Passos Coelho ter realçado que uma intervenção sua contribuiu para que os líderes da Zona Euro tivessem chegado a um acordo com a Grécia. "Até tivemos, por acaso, uma intervenção que ajudou a desbloquear o problema", declarou o primeiro-ministro a 13 de Julho. Daí ao "por acaso foi ideia minha" foi um passo. "Eu por acaso não disse isso", responde, com ironia. Na Redacção Aberta, Passos Coelho contou o que se passou nessa longa noite de 12 Julho em Bruxelas.

"No meio de uma troca de impressões, que fiz também com o presidente do Eurogrupo, surgiu a ideia de que pudéssemos trabalhar a preocupação apresentada pelo primeiro-ministro grego, de modo a dar-lhe algum conforto para que uma parte do financiamento que estivesse associada à venda de activos pudesse ser canalizada para o crescimento da economia. (...)

Foi aí que fui falar com o primeiro-ministro holandês, que era quem mais estava preocupado, juntamente com o primeiro-ministro finlandês e a chanceler da Alemanha. (...)  Aqui havia um problema claro: estávamos a pensar afectar cerca de 25 mil milhões à recapitalização dos bancos. Uma vez que eles são praticamente públicos, o primeiro objectivo é vender aqueles bancos. Se se vai injectar 25 mil milhões, se desde logo se assumisse um compromisso de venda desses bancos, pelo menos metade destes activos estava resolvido e seria possível reembolsar os empréstimos destinados à recapitalização. Como isto era o mais importante, abriu-se espaço para que acima deste valor pudesse haver uma arbitragem destinada a amortizar dívida pública ou fazer investimento.

Foi essa a sugestão que eu apresentei ao primeiro-ministro Mark Rutte, que se mostrou entusiasmado com a ideia e a transmitiu aos negociadores que a aceitaram. Não tive consciência nenhuma de que essa sugestão tivesse feito caminho até ter recebido a solução escrita quando nos voltámos a encontrar.

Eu só soube disso quando nos voltámos a encontrar e vi a solução escrita. Quando ela foi apresentada, do outro lado da mesa, o Mark Rutte [primeiro-ministro holandês] disse: ‘Olha, Pedro, foi com a tua solução que de facto conseguimos desbloquear a situação’. Eu ri-me. Lembro-me de que de facto tinha sido assim. Na altura o presidente do Eurogrupo, com quem tinha estado a trocar impressões sobre esta ideia, felicitou-me também por esse caso. Aconteceu assim. Não tem mais nenhuma história. Não é um episódio extraordinário ou transcendental, mas pareceu-me que mostrava bem o contrário daquilo que muita gente se estava a esforçar por demonstrar: é que em Portugal nós só estávamos a levantar problemas, o que é completamente falso."

Deve haver uma grande confusão na cabeça do presidente Juncker que, de resto, nem esteve nessas negociações. Deve haver confusão da parte dele, até porque os factor são contrários à afirmação.
Pedro Passos Coelho
Primeiro-ministro

Ajudar a Grécia e desconfiar de Hollande


O Governo português tem sido apontado como um dos que mais entraves colocaram a um acordo com a Grécia. Passos Coelho refuta essa ideia. "Portugal, tal como todos os outros países que estiveram com programas de assistência económica e financeira, tem uma preocupação grande de dar toda a compreensão necessária para ajudar a ter na Grécia uma solução que seja bem-sucedida."

Prova disso, sublinha o primeiro-ministro, é o facto de Portugal ter abdicado de "exigir exactamente o mesmo tipo de condições", por exemplo, carência de juros, que foi dado à Grécia no segundo resgate. "Temos a noção clara de que o exercício da dívida tem de ser aliviado para a Grécia, com anos de reembolsos mais dilatados, com períodos de carência de juros mais dilatados e também estamos dispostos a oferecer as mesmas condições sem reclamar o mesmo tipo de soluções, desde que estejamos persuadidos que a solução do terceiro programa é mesmo para funcionar."

Sobre a proposta do presidente francês, François Hollande, para criar uma "vanguarda" da Zona Euro, Passos Coelho mostra reservas. No fundo "a ideia é de criar uma espécie de núcleo original que não deveria ter sido conspurcado com situações económicas de países que não teriam ainda maturidade suficiente para pode estar, desde o início, nesse projecto. Nós olhamos para essas ideias com desconfiança", afirma o líder do PSD. "Não quer dizer que as rejeitemos totalmente. Por exemplo, estou de acordo que precisamos de ter uma coordenação económica, mas defendo a competitividade fiscal entre os países."

"No dia que se disser ‘muito bem, então a gente perdoa a dívida da Grécia’, porque é que não há-de perdoar a de Portugal? Por esse princípio acabou
a Zona Euro."
Pedro Passos Coelho
Primeiro-ministro
Livro Os Sonâmbulos
"Comprei vários livros a pensar nas férias, mas não tenho nenhum que tenha acabado de ler e possa recomendar.
Mas levo na bagagem a edição, que tem mais de um ano, de Os Sonâmbulos." 

"Tenho realmente algum interesse em saber se esse olhar sobre o que se passou no início do século XX tem, ou não, semelhanças com o que estamos a viver hoje."  Pedro Passos Coelho

O livro, de Christopher Clark, é um ensaio sobre como a Europa entrou em guerra em 1914.


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