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Rita Nabeiro: “Mão de obra é um dos grandes desafios da agricultura”

A Adega Mayor está a mudar o processo de produção de vinhos para o modo biológico, no meio de vizinhos que fazem agricultura extrativa. Tenta ainda responder a desafios como a força laboral, a inovação ou a urgência climática, conta Rita Nabeiro.

Filipe S. Fernandes | Pedro Catarino - Fotografia 05 de Fevereiro de 2024 às 14:00
Rita Nabeiro, administradora executiva do Grupo Nabeiro e CEO da Adega Mayor. Pedro Catarino
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"A mão-de-obra é um dos grandes desafios da agricultura", considera Rita Nabeiro, administradora executiva do Grupo Nabeiro e CEO da Adega Mayor. Existem dificuldades em atrair pessoas, sobretudo os jovens portugueses, para trabalhar na agricultura, sobretudo em territórios como o interior alentejano. Sublinha que é um trabalho duro, "porque, se na vindima estamos em pleno verão com temperaturas elevadas, na poda lidamos com temperaturas muito baixas". Por outro lado, a agricultura é marcada pela sazonalidade laboral e, em momentos como as colheitas, tem de haver recurso a mão-de-obra externa.

Os outros elementos desafios determinantes na agricultura atual são a tecnologia e a inovação e os efeitos das alterações climáticas. "Podemos falar da tecnologia na mecanização de determinado tipo de operações. Algumas delas já são feitas como a vindima, o que tem aspetos positivos mas também menos positivos. Na vindima, a mecanização agiliza a apanha e os horários, são necessários menos recursos humanos, mas pode há o risco na seleção, que não é tão criteriosa como a do olho humano", salienta Rita Nabeiro. Mas na poda considera que é difícil substitui-la por uma máquina, porque é um saber específico: "é preciso saber onde e como".

A gestora da Adega Mayor assinala o recurso da sua empresa à agricultura de precisão. Refere o mapeamento que é feito da vinha através de imagens aéreas que permitem reconhecer as falhas das plantas, as densidades das áreas vegetativas, e, perante o sintoma de uma carência, atuar diretamente. Em 2024 inovaram na vindima, que foi feita durante a noite. As razões foram diversas. "É mais fresco, as uvas estão num melhor estado sanitário, e logo processada vai naturalmente chegar à adega num estado sanitário melhor, o que terá consequências na produção do vinho", refere Rita Nabeiro.

O papel da biodiversidade

Em 2023 a Adega Mayor iniciou a transição para a agricultura regenerativa, com os primeiros dez hectares de vinha a passarem para o modo de produção biológico. Foram os primeiros dos cerca de 110 a 120 hectares de vinha, que será reconvertida para a produção em modo biológico. "Acredito que a agricultura regenerativa tem um conjunto de práticas que favorecem o ecossistema, o que passa pelo descanso da terra, não fazermos sementeiras entre linhas, não utilizamos herbicidas porque mata e se mata à superfície também vai matar na terra, entre outras práticas", explica Rita Nabeiro.

Na sua opinião, "se tivermos mais biodiversidade no solo, este será mais saudável, o que é importante porque tudo o que se passa no solo vai para o subsolo depois sobre para a copa. Se tivermos um solo saudável, as plantas também serão saudáveis. Mas a biodiversidade também são as outras espécies, os insetos, os pássaros, os polinizadores, e é todo um ecossistema que tem de estar em equilíbrio".

Antes da fiscalização está a legislação e a sua aplicação, perceber o que de facto é importante, para onde é que queremos ir. Rita Nabeiro
Administradora Executiva do Grupo Nabeiro e CEO da Adega Mayor
Rita Nabeiro considera que há um grupo de produtores no Alentejo que está a fazer o caminho numa lógica mais regenerativa. No entanto, observa que há culturas extrativas, sem a preocupação de enriquecer os solos. "Estou a falar da realidade que conheço mais diretamente, que é a região de Campo Maior, em que se dá a primazia ao cultivo intensivo e superintensivo, como o amendoal e o olival em territórios contíguos. Posso converter a minha agricultura para o modo de produção biológico mas, se o meu vizinho tiver a fazer o oposto, é mais difícil", observa Rita Nabeiro.

Mas para Rita Nabeiro, "antes da fiscalização está a legislação e a sua aplicação, perceber o que de facto é importante, para onde é que queremos ir, porque se é um tema importante, de futuro, para as próximas gerações, tem a haver um compromisso. Mas temos de explicar o porquê". Defende ainda que "mais do que legislar é preciso ir ao terreno falar com as pessoas, conhecer as realidades, perceber onde estão as dificuldades, porque só implementar pode levar a resistências. Se explicarmos, se envolvermos as pessoas, e depois criar a legislação, mais facilmente as pessoas conseguem compreender".

O quarto videocast
O quarto e o último videocast, "Agricultura Agora: Conversas sobre sustentabilidade e inovação", que se realiza no âmbito do Prémio Nacional de Agricultura, uma iniciativa do BPI e da Medialivre, com o patrocínio do ministério da Agricultura e com o apoio da PwC, contou com a participação de Rita Nabeiro, administradora executiva do Grupo Nabeiro e CEO da Adega Mayor. O PNA conta com 12 anos de existência e, longo deste período, tem procurado dar destaque, voz e visibilidade à agricultura portuguesa, e ao melhor que se faz nos campos. Esta edição conta com uma série de quatro episódios de videocasts dedicados à agricultura, com uma vertente mais direcionada para as áreas da sustentabilidade e da inovação, que são eixos essenciais para o futuro da agricultura.
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