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José Pedro Salema. “A água para a agricultura é barata quando não incorpora energia”

Algumas estruturas de distribuição de água são mais de infiltração, porque “estão a funcionar como foram pensadas há 70 anos, criticou José Pedro Salema, presidente da EDIA.

07 de Dezembro de 2022 às 17:00
José Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, SA (EDIA) Sérgio Lemos
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"A tecnologia pode dar uma excelente ajuda, mas não multiplica a água. Podemos poupá-la, mas multiplicá-la é muito difícil, ou, pelo menos, custa muitos recursos. Se tivermos recursos ilimitados, como energia ilimitada, podemos fazer água, mas custa muito em energia e em dinheiro", afirmou José Pedro Salema, presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, SA (EDIA).

"O Alqueva é exceção no panorama nacional porque há muitos regadios que precisam de grandes obras de modernização, o que custa centenas de milhões de euros, mas que precisam de ser investidos", salientou José Pedro Salema. Deu como exemplos o regadio do Mira, que nasce na barragem de Santa Clara, ou a rede de Idanha-a-Nova, que nasce na barragem Carmona. "São dois regadios com uma grande dinâmica, onde se está a desenvolver agricultura do mais sofisticado que há, e, portanto, ao nível da aplicação da água na parcela, a tecnologia já está no topo mundial, mas depois temos uma infraestrutura pública que está a perder 40% da água que distribui", analisou.

O presidente da EDIA afirmou que "algumas estruturas de distribuição de água são mais estruturas de infiltração, facilitam a infiltração mais do que distribuem água". Recorda que "estão a funcionar como foram pensadas há 70 anos".

Energia sobe preço

Para José Pedro Salema "a água para a agricultura em Portugal é barata porque incorpora muito pouca energia", mas acrescenta que "a partir do momento que passamos para um sistema mais eficiente hidricamente, conduzido em tubos fechados, precisamos de mais energia para empurrar a água. Nesse caso, o preço da água sobe porque incorpora mais energia nessa distribuição".

Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), tem outros receios em relação à gestão da água: "A agricultura coloca a água no alimento, produzimos os alimentos porque foi possível utilizar água e, na nossa geografia, a incorporação de água é maioritariamente artificial através da rega."

Na opinião do presidente da CAP, o preço da água deve ser o preço do serviço associado à disponibilização deste recurso. "Mas transformar a água num bem transacional é errado porque não é um produto, é um elemento da natureza para promover uma atividade fundamental à vida que é a produção de alimentos", assinalou Eduardo Oliveira e Sousa.

O presidente da CAP confessa que não pode dizer que a água para agricultura em Portugal é cara, mas também não concorda com os que defendem constantemente o aumento do preço deste recurso. "Há uma tendência para fazer passar uma mensagem de que é preciso aumentar o preço da água porque ela é barata, como se gastar água na agricultura fosse desperdiçar água, o que está errado".

José Pedro Salema, presidente da EDIA, considerou, por sua vez, que o peso da água na conta de cultura é, em geral, pequeno. "Quando temos um fator de produção que só pesa 3% a 5% da conta de cultura, não é o mais importante. Não é isso que justifica o aumento do preço. O preço não é político, é um preço técnico que deve refletir, de acordo com a lei da água, todos os custos necessários a uma determinada adoção na tarifa." Afinal, nos custos entram não só os custos operacionais diretos, mas também as reparações planeadas, as grandes reparações, e as máquinas que se substituem a cada cinco ou dez anos. "Se isso acontecer, os regadios serão modernizados organicamente, porque a tarifa vai ser capaz de manter a máquina eficiente a funcionar", concluiu.
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