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Agricultura mostrou resiliência aos choques

Nas crises financeira em 2011-2013 e pandémica em 2020-2021, a agricultura mostrou a capacidade de resistir aos choques, através da resiliência, do conhecimento científico e da tecnologia, afirmou Pedro Reis, especialista em inovação agrícola.

Filipe S. Fernandes 26 de Outubro de 2023 às 16:30
Pedro Reis, investigador do INIAV e presidente da Associação Portuguesa de Economia Agrária. Pedro Catarino
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Existe em Portugal uma grande diversidade de agricultores, o que as estratégias de inovação devem ter em conta, sublinhou Pedro Reis, investigador do INIAV e presidente da Associação Portuguesa de Economia Agrária, no primeiro videocast da nova série "Agricultura Agora, Conversas sobre Sustentabilidade e Inovação".

É o caso do "agricultor diferenciado, que tem mais capacidade de trabalhar em projetos de investigação em associação com universidades, pessoas extraordinárias com uma grande capacidade científica e técnica". No outro extremo está "o agricultor reformado, mais simples, que tem a sua pequena parcela de terreno onde produz". Entre estes dois extremos, "temos uma grande diversidade, em que uns vão à frente e a liderar com o apoio das organizações e assim foi possível responder a todos estes desafios", afirmou Pedro Reis.

A emergência da agronomia

No estudo sobre inovação que realizou em 2013, e que deu origem ao livro "Inovação na produção agrícola", Pedro Reis verificou que a inovação no setor agrícola é muito semelhante à dos outros setores de atividade económica. Em todos os setores, "o conhecimento científico entra sobretudo de duas formas. Por intermédio da incorporação de tecnologias, por exemplo, quando se compra uma máquina, um equipamento, um telemóvel, que têm muito conhecimento científico incorporado, mas também pela aprendizagem que se vai fazendo. E está a haver constantemente mudanças na agricultura", analisou Pedro Reis. No entanto, chamou a atenção para a particularidade de a "agricultura estar dependente dos processos biológicos e isso condiciona a velocidade a que se promovem as alterações".

A importância da inovação para os agricultores responderem à crise, através da entrada em novos mercados, e acederem a novos produtos. Pedro Reis
Investigador do INIAV e Presidente da Associação Portuguesa de Economia Agrária
Sobre a passagem da investigação e das tecnologias para os campos, considerou que há dificuldades, mas a investigação não passa para os agricultores de uma forma linear. Esse percurso é feito por etapas, com o conhecimento a passar "para os técnicos, para os agricultores diferenciados e, depois, vai-se difundido pelos restantes agricultores", disse Pedro Reis, sublinhando ainda a relação histórica entre a agricultura e a ciência. A agronomia moderna surgiu em meados do século XIX quando o conhecimento científico "começou a dar suporte à agricultura, o que nos permitiu libertar da fome os seres humanos e dirigi-los para outras atividades. Quando falamos de agronomia, falamos sempre desta relação forte que existe entre o desenvolvimento científico e da agricultura", considerou Pedro Reis.

Foi este setor agrícola, com este enquadramento, que nos últimos dez anos teve de responder a duas crises económicas de grande dimensão, que poderiam ter sido traumáticas, mas que representaram saltos em frente na agricultura.

A inovação contra as crises

Na sua reflexão sobre a pandemia de Covid-19, que assolou Portugal e o mundo em 2020 e 2021, considerou que "o período inicial foi de grande preocupação, houve uma capacidade de resposta extraordinária da agricultura e que não parou. Aliás foi uma atividade económica que não parou, nem podia parar, para assegurar a produção alimentar. Surgiram as plataformas tecnológicas que permitiram a venda dos produtos. Conseguiu-se que não faltasse nada na mesa dos portugueses."

O também professor auxiliar convidado do Instituto Superior de Agronomia realçou ainda que "a inovação não é só ter um novo equipamento, na pandemia foi essencial, por exemplo, para responder à emergência das plataformas de comercialização de produto. Deu uma capacidade de resposta através do digital. Se há uns anos falássemos dos saltos tecnológicos, em termos de digital, que demos na agricultura e na sociedade em geral, não acreditaríamos."

Durante a crise da dívida soberana, que levou ao programa de assistência financeira a Portugal por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Central Europeu (BCE) e da Comissão Europeia (CE) em 2011-2013, Pedro Reis fez uma série de inquéritos para o seu livro "Inovação na produção agrícola", acessível no site do INIAV. Nas respostas dos inquiridos verificou "a importância da inovação para os agricultores responderem à crise, através da entrada em novos mercados, e acederem a novos produtos". Concluiu que "são duas situações que mostram a capacidade da agricultura de resistir aos choques, e a importância do conhecimento científico e da tecnologia para aguentar estes choques".

Videocasts sobre agricultura A série de videocasts "Agricultura Agora, Conversas sobre Sustentabilidade e Inovação" realiza-se no âmbito do Prémio Nacional de Agricultura, uma iniciativa do BPI e da Cofina, com o patrocínio do Ministério da Agricultura e Alimentação e o apoio da PwC, que está na 12.ª edição e que visa dar destaque, voz e visibilidade à agricultura e ao que de melhor se faz em Portugal. As candidaturas estão abertas até 31 de outubro de 2023 em premioagricultura.pt.

Os videocasts têm por base conversas com especialistas em agricultura numa vertente mais direcionada para as áreas da sustentabilidade e da inovação, eixos essenciais para uma agricultura de futuro.
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