Outros sites Medialivre
Notícia

Fintech ou bancos: com quem fica a ganhar?

As “fintech” têm desafiado os bancos com uma receita simples: contas sem custos de manutenção, cartões sem anuidades, operações sem comissões ou transferências internacionais sem taxas de câmbio. No fim de contas, saem mesmo mais baratas?

Rafaela Burd Relvas rafaelarelvas@negocios.pt 31 de Outubro de 2019 às 13:00
Bruno Simão
  • Partilhar artigo
  • ...
Foram chegando uns atrás dos outros, com a introdução de regras que permitiram a entrada de novos "players" no negócio de pagamentos. Em Portugal, começam a ganhar escala e as perspetivas só apontam para mais crescimento. Os bancos digitais estão a fazer frente à banca tradicional com uma receita simples mas apelativa, que atrai cada vez mais clientes: quem quiser o mais básico dos serviços bancários não tem de suportar qualquer custo. No fim, sobra a pergunta: as "fintech" saem mesmo mais baratas do que os bancos?

Os principais bancos digitais a operar em Portugal já reúnem perto de meio milhão de clientes. A Revolut encabeça a lista, com mais de 300 mil utilizadores e a ganhar outros mil a 1200 por dia. Já a N26 deverá fechar este ano com 100 mil clientes e acredita que poderá duplicar este número já no próximo ano, tendo em conta as centenas de novos utilizadores que ganha todos os dias. A Lydia e a Monese, com 60 mil e 10 mil clientes, fecham a lista.

É fácil de perceber a popularidade destas empresas, numa altura em que os bancos continuam a aumentar comissões e a introduzir novas taxas - por exemplo, nas transferências MBWay. Todas estas "fintech" oferecem uma conta básica totalmente gratuita. Mas importa frisar dois pontos.

Primeiro, estas empresas têm estruturas muito mais leves do que a de uma instituição financeira tradicional, que suporta centenas de agências e de funcionários, para além de ter custos regulatórios pesados e de oferecer um leque muito mais alargado de serviços.

Segundo, todas estas contas têm limites, seja nos levantamentos, transferências ou pagamentos em moeda estrangeira. Quem quiser uma maior diversidade de serviços, apoio ao cliente ou operações sem limites terá de pagar por isso. A grande diferença em relação à banca é que as "fintech" oferecem pacotes, ou seja, o pagamento de um montante fixo por mês dá direito a todos os serviços incluídos nesse pacote, independentemente dos montantes movimentados ou do tipo de operações realizadas. Os bancos também têm disponíveis pacotes de serviços, mas, para os particulares, o mais comum é cobrarem comissões diferentes para cada operação, para além de manutenção de conta e anuidade do cartão.

Assim, na hora de criar contas em bancos digitais, é preciso responder a várias questões. Uma conta básica, que só permita depositar dinheiro e fazer pagamentos, transferências e levantamentos, é suficiente? O atendimento numa agência faz falta? E, no caso de pagar por um pacote "premium", esse pagamento será inferior ao das comissões que terá de suportar se realizar as mesmas operações num banco?


Fintech têm soluções grátis, mas com limites

Conta e cartão
Todas as "fintech" permitem abrir conta sem custo e oferecem o cartão de débito. A abertura de conta é feita através das aplicações móveis.

Levantamentos
Por mês, sem taxas, é possível levantar até 200 euros na Revolut e na Monese e até 300 euros na Lydia (num máximo de 10 levantamentos). A N26 permite fazer cinco levantamentos grátis por mês na Zona Euro. Fora desta área, cobra 1,7% do montante levantado.

Gastos em moeda estrangeira
Revolut, Lydia e N26 permitem fazer pagamentos em qualquer moeda, sem custos e sem limites de montantes, aplicando-se apenas a taxa de câmbio. A Monese permite pagar até 2.000 euros em moedas estrangeiras sem custos, cobrando, a partir daí, uma taxa de 2%.

Transferências
A Revolut permite transferências em 30 moedas até 6 mil euros por mês sem custos. Na Monese, as transferências são grátis apenas para outras contas Monese. O mesmo acontece na Lydia, que tem ainda um limite de 10 transferências por mês. Na N26, são gratuitas as transferências feitas entre países da Espaço Económico Europeu.

Pacotes
Regra geral, há dois pacotes: um intermédio e um "premium". Os limites nas operações são alargados ou desaparecem e, em alguns casos, há descontos com empresas parceiras ou seguros de saúde. A Lydia oferece a conta "premium" mais barata, por 2,99 euros. A mais cara é a da N26, por 16,90 euros. A Revolut cobra 13,99 euros pela conta mais cara e a Monese 14,95 euros.


Bancos compensam comissões com serviços

Conta e cartão
Os bancos exigem um montante mínimo para abertura de conta e cobram comissões anuais de manutenção de conta, que variam consoante fatores como o montante depositado ou a domiciliação do ordenado. Também cobram anuidades pelo cartão de débito. Ao valor das comissões acresce um imposto de selo de 4%.

Levantamentos
Os levantamentos a débito são gratuitos no Espaço Económico Europeu, em caixas automáticas ou aos balcões. No resto do mundo, os bancos cobram comissões de processamento da operação e de conversão de moeda.

Gastos em moeda estrangeira
A regra é a mesma da dos levantamentos: os pagamentos com cartão são gratuitos dentro da Zona Euro e sujeitos a comissões se forem feitos no resto do mundo.

Transferências
Regra geral, as transferências para contas do mesmo banco são gratuitas. Se for para contas de outros bancos, mesmo que no território nacional, há custos que dependem do canal através do qual a transferência é feita. As comissões sobem se a transferência for para contas domiciliadas no estrangeiro. Às taxas acresce sempre o imposto.

Outros serviços
Se é verdade que a banca tradicional cobra mais por alguns serviços idênticos, também é certo que oferece serviços que os bancos digitais (ainda) não prestam. Desde a concessão de crédito até operações quotidianas, como o pagamento de impostos nas caixas automáticas.
Mais notícias