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De Janeiro a Janeiro eles enchem o mealheiro

Sabem o que é a crise. E o valor do dinheiro. Ainda são crianças, mas já pensam no futuro na hora de poupar.

31 de Outubro de 2013 às 11:16
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João Fernandes tem apenas 11 anos, mas já diz com um ar pesaroso que tem "ouvido falar da crise". Está longe de perceber de finanças, e não sabe o que são os juros da dívida, mas percebe que o País está "em apuros" e que uma situação de emergência exige um reforço das poupanças. "Portugal está com falta de dinheiro, está a dever a outros países, e agora precisamos de poupar para fazer com que isso não nos afecte", explica.


E não é o único. Joana Sarmento Moreira, psicopedagoga, trabalha há mais de 15 anos com crianças e garante que hoje em dia os mais novos estão muito despertos para temas como a crise e a poupança. "Hoje não é raro ouvir crianças de seis anos a perguntar o que é a crise. E os mais velhos levam para as aulas temas como a austeridade", afirma a especialista, que defende que essa aprendizagem deve começar cedo, e em casa.


Se é de pequenino que se torce o pepino, também é de Janeiro a Janeiro que se enche o mealheiro. No que toca ao dinheiro e à poupança, as crianças devem habituar-se aos conceitos desde cedo e colocarem--nos em prática de forma regular. "Nestas idades, as crianças podem ainda não ser capazes de pensar em mecanismos de poupança, mas têm já um discurso de vincado pendor moral relativamente ao facto de poupar ser importante", afirma Raquel Ribeiro, professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.


Aos três, quatro anos, as crianças acham que o dinheiro é "infindável", como explica Joana Moreira, e por isso é importante explicar o seu valor através de histórias ou fábulas, e fazê-las participar em actividades como a elaboração da lista de compras e as idas ao supermercado. Aos seis, sete anos, recomenda a especialista, os pais devem incentivar a gestão do orçamento dando aos filhos uma semanada.


O mealheiro
Para assinalar o Dia Mundial da Poupança, o Negócios pediu a quatro crianças que fizessem um desenho sobre o tema. Todas elas desenharam notas, moedas e um mealheiro. É um elemento chave no exercício de poupança dos mais novos e deve ser "privado e inviolável", como sublinha Joana Moreira.


Uma das formas de estimular a rotina de amealhar dinheiro é habituar os mais novos a receberem presentes apenas nos dias especiais, como o aniversário e o Natal. "Os presentes não devem ser dados a torto e a direito", aconselha a especialista. "Se perceberem que só há presentes nos momentos chave, vão perceber que têm de fazer um esforço para juntar dinheiro e poder comprar aquilo que ambicionam".

 

 

 

"Hoje não é raro ouvir crianças de seis anos a perguntar o que é a crise.
E os mais velhos levam para as aulas temas como a austeridade"
 
Joana Sarmento Moreira,  Psicopedagoga

 

 

 

 

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Nome Maria Serra
Idade Seis anos, frequenta o 1º ano
Como poupa Guarda o dinheiro no mealheiro e já tem uma conta-poupança. Também poupa luz e água em casa com pequenos gestos.


Maria diz que "não sabe desenhar porcos", e por isso pinta umas notas e umas moedas para ilustrar a poupança. Porque a primeira ideia que lhe vem à mente é o mealheiro. É onde junta o dinheiro que recebe dos pais e dos familiares, e já tem até uma conta no banco onde guarda as poupanças que são "para um dia mais tarde". Além de dinheiro sabe que "podemos poupar a luz, a água e a natureza". "A luz tenho de apagar, e a água, quando estou a lavar os dentes, também tenho de fechar", conta.

 

 

 


 

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Nome Raquel Ventura
Idade 10 anos, frequenta o 5º ano
Como poupa Não tem mesada nem semanada, mas junta todas as moedas de um e de dois euros num mealheiro para comprar livros.


"Não tenho mesada porque a minha mãe esquece-se de me dar, mas de vez em quando dá-me uns euros e vou pondo no meu mealheiro", afirma Raquel. A estratégia é simples: junta todas as moedas de um e dois euros no mealheiro para comprar a sua colecção de livros preferida, e também para juntar "para quando for maior". "Ou guardo na minha carteira para comprar alguma coisa ou ponho no mealheiro para depois pôr na minha conta no banco", explica. Com as poupanças, já comprou presentes na Eurodisney.

 

 

 


 

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Nome Maria Carolina Mateus
Idade 9 anos, frequenta o 4º ano
Como poupa Desliga a água e as luzes sempre que não são necessárias. E junta o dinheiro que recebe no Natal no mealheiro.


Maria Carolina está a juntar todo o dinheiro que recebe por ocasião do Natal para comprar um piano. Garante que já juntou "muito dinheiro" e que "é importante poupar porque se não poupássemos estávamos sempre a gastar e ficávamos sem nada". Em casa, também é incentivada pelos pais a ter atenção a pequenos gestos que podem significar grandes poupanças no final do mês. "Enquanto estamos a escovar os dentes desligamos a água e quando vamos comer, desligamos as luzes do quarto e outros sítios", explica.

 

 

 


 

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Nome João Fernandes
Idade 11 anos, frequenta o 6º ano
Como poupa Guarda o dinheiro que recebe de familiares para salvaguardar "uma emergência". Sabe que, com a crise, é preciso reforçar as poupanças.


"Se um dia houver uma emergência, com a nossa poupança podemos fazer com que essa emergência não aconteça", sustenta João Fernandes, que tem apenas 11 anos mas já poupa algum dinheiro a pensar no futuro. Não recebe mesada nem semanada, mas avó "que vai lá a casa semana sim, semana não" dá-lhe algumas notas e moedas que servem para os pequenos gastos. Orgulhoso, diz que já comprou com o seu próprio dinheiro um jogo para a Playstation, e que o próximo investimento são uns ténis novos.

 

 

 

 

Cinco dicas para ensinar as crianças a poupar

 

 

 1  O dinheiro não cai das árvores
Falar de dinheiro em casa é o primeiro passo para explicar o seu valor. É importante que as crianças percebam que não cai das árvores nem nasce no "multibanco". Para isso, os pais devem discutir o orçamento familiar à frente dos filhos.

 

 

 2  O que quero versus o que preciso
Dizer "não" aos filhos nem sempre é uma tarefa fácil. Mas é importante que os pais ensinem aos mais novos a diferença entre o que precisamos e o que queremos, ajudando-os a estabelecer as suas próprias prioridades.

 

 

 3  Algum dinheiro no bolso
Dar uma semanada às crianças pode ser uma boa forma de os incentivar, desde cedo, a gerirem o seu orçamento. Não devem ser quantias muito elevadas, mas suficientes para permitirem algum gasto e uma pequena poupança.

 

 

 4  O porquinho mealheiro
Tão ou mais importante do que ter uma semanada, é ter um mealheiro para juntar as poupanças. As crianças podem e devem ter um objectivo para aquele dinheiro. Atingi-lo será uma conquista que vai incentivar novas poupanças.

 

 

 5  No poupar está "um" ganho
Se a factura da luz ou da água estiver demasiado elevada, é importante que os pais falem com as crianças e os incentivem a poupar. Dar-lhes uma percentagem da redução que conseguirem na factura do mês seguinte é um bom incentivo.

 

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