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Cliente mistério: O que estão a recomendar os bancos?

Os depósitos são o produto de poupança preferido dos portugueses, mas rendem quase 0%. Neste contexto, o Negócios quis saber quais são as soluções que estão a ser apresentadas aos clientes que queiram retorno para o seu dinheiro.

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Os depósitos a prazo são os produtos de poupança por excelência dos portugueses. Mas nunca renderam tão pouco. Num contexto de taxas de juro de mercado negativas, o que estão a oferecer os bancos aos aforradores? O Negócios fez o teste e foi visitar as cinco maiores instituições financeiras nacionais. Saiba quais foram as soluções apresentadas.

O pressuposto era simples: aconselhamento para um investimento de três mil euros a longo prazo e com o objectivo de conseguir um retorno mais atractivo do que as baixas taxas de juro oferecidas pelos depósitos a prazo. A remuneração média das novas aplicações afundou para 0,38% em Agosto, o que representa o valor mais baixo desde que o BCE começou a recolher os dados, em Janeiro de 2000.

"Os fundos é para onde nos estamos a virar no contexto actual". Quem o disse foi uma colaboradora do Santander Totta, mas no BPI a resposta foi semelhante. Em ambos os casos, foi apresentada uma lista com vários fundos de investimento, desenhados para vários tipos de risco. Ainda que tenha sido referido que vários destes produtos têm um desempenho negativo no último ano, ficaram por mencionar os custos associados, nomeadamente a comissão de subscrição e gestão.

Porquê cliente mistério? A identificação como jornalista é a regra  e outros processos só podem justificar-se por razões de interesse público. O Negócios entende que é importante poder aferir se a informação prestada ao balcão dos bancos é rigorosa e completa. O que não seria possível caso os jornalistas se identificassem enquanto tal. O artigo foi elaborado com base na visita a balcões dos cinco maiores bancos na área da Grande Lisboa, durante a semana passada.

Além dos fundos de investimento, também os seguros de capitalização e os depósitos complexos se destacam na lista de opções apresentadas pelos grandes bancos nacionais. O balcão do BCP visitado pelo Negócios recomendou as duas opções, ainda que tenha mostrado uma posição mais favorável pelos seguros. O facto de tradicionalmente apresentarem uma remuneração acima da taxa dos depósitos e de terem uma tributação mais atractiva caso o investimento seja mantido por mais de cinco anos justifica esta opção.

Os depósitos complexos são semelhantes aos tradicionais depósitos a prazo e estão cobertos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. Podem proporcionar um retorno elevado se determinadas condições se cumprirem ou, caso contrário, não renderem nada. Com a queda das taxas de juro de mercado têm sido uma das apostas das instituições financeiras. O Novo Banco recomendou um depósito dual, com o prazo de dois anos, constituído por um depósito simples e um depósito indexado, cuja remuneração vai depender do desempenho do petróleo. A taxa anual nominal bruta (TANB) deste produto pode ser de 2,466% no fim do prazo, mas também pode ser de 0,247%.

Mas o grande destaque desta visita foi mesmo a preocupação com a informação adequada ao cliente. Além de ter questionado por diversas vezes se estava a ser clara na explicação e ter a preocupação de mencionar todos os encargos relacionados com o produto, a colaboradora do balcão visitado teve também a preocupação de confirmar que não havia qualquer dúvida ou inquietação sobre o banco. "Há alguma coisa que queira saber sobre o Novo Banco? Estamos em processo de venda, como saberá, mas este não vai afectar os clientes", sublinhou.

Outro dos produtos que está a ser aconselhado pelos bancos são os PPR. Foi o que fez a CGD que apresentou o "Leve PPR", que este ano oferece uma taxa de juro anual garantida de 1,20%, mas que pode ser inferior no próximo ano. Não foram mencionados custos.



• CGD
"A segurança dos produtos de poupança é subjectiva"

No balcão da CGD visitado, foram vários os produtos recomendados. Ainda assim, grande parte da explicação foi relativa ao "Leve PPR", um plano de poupança para a reforma que, em 2016, apresenta uma taxa de juro anual garantida de 1,20%. "Mas esta taxa pode ser inferior daqui para a frente?", perguntámos. "Sim, pode. Já deu muito mais do que está a dar agora", conseguimos como resposta. "Mas é um produto seguro?, voltámos a perguntar. "A segurança é subjectiva. Nos depósitos, há capital garantido, mas depois temos que pagar quase 30% ao Estado", responderam. Foram ainda apresentados produtos estruturados e fundos de investimento. Contudo, não foram mencionados os custos nos quais os clientes podem incorrem.

1,20%
Taxa de juro
O "Leve PPR" apresenta, em 2016, uma taxa de juro anual garantida de 1,20%.

CGD aconselha um PPR
O "Leve PPR" foi o produto destacado pela CGD. Trata-se de um plano de poupança-reforma com um prazo mínimo de cinco anos e um dia. Requer um mínimo de 25 euros para a sua constituição e permite entregas mensais programadas ou reforços extraordinários mínimos de 25 euros. Há garantia de rendimento, que é definido anualmente. Para 2016, a taxa de juro anual garantida é de 1,20%.


• BCP
"Seguros de capitalização são a melhor solução"

Seguros de capitalização e depósitos indexados. Foram estas as propostas do BCP para um cliente que procure uma taxa mais atractiva que a oferecida actualmente nos depósitos a prazo. Numa explicação detalhada sobre as várias alternativas, a bancária do BCP argumentou que, "os seguros de capitalização vão dar sempre uma taxa acima dos depósitos a prazo, por isso se realmente não vai precisar do dinheiro nos próximos anos são a melhor solução". Já os depósitos complexos garantem o juro dos depósitos, podendo render até 1% caso as cotações de um cabaz de cinco acções não desça à data do fim do produto. Mas, há outro factor a ter em conta na escolha do produto. A abertura de conta também tem influência, alerta.

A oferta de depósitos indexados tem vindo a crescer, como uma alternativa aos depósitos a prazo.

BCP aposta em seguros
Os seguros de capitalização são o produto mais recomendado pelo BCP. Estes produtos de poupança são uma boa alternativa para quem investir num horizonte temporal mais amplo. Caso mantenha a poupança a mais de cinco e oito anos, o capital beneficia de uma fiscalidade mais vantajosa face à tributaçãonormal. O resgate do investimento no primeiro ano pode terpenalizações. Tenha atençãos às comissões cobradas.


• BPI
"Temos fundos para todo o tipo de risco"

"Quer um produto mais arriscado ou menos arriscado?" Foi esta a primeira questão que a gestora do BPI fez antes de passar a apresentar as soluções de investimento do banco, em alternativa aos tradicionais depósitos a prazo. Os fundos foram a solução apresentada. "Há fundos para todo o tipo de risco". Ainda que a maioria apresente um sinal de menos atrás, a gestora argumenta que, por exemplo, o fundo de curto prazo - o BPI Liquidez - tenderá a dar uma taxa acima dos depósitos. Dos zero oferecidos nos depósitos, o cliente pode conseguir 0,2% (a taxa anual registada pelo fundo). Mas, "não há retornos garantidos. No passado também já perderam", explicou. Além dos fundos, os seguros de capitalização são outra solução.

0,21%
Rentabilidade
O fundo BPI Liquidez obtém um retorno de 0,21% nos últimos 12 meses.

BPI recomenda fundos
Os fundos de investimento são a solução apresentada pelo BPI para clientes que procuram taxas mais atractivas. Um fundo é um produto gerido por uma equipa de profissionais, que acompanha e toma todas as decisões de investimento. Há várias categorias de fundos, que investem em diferentes classes de activos. Em Portugal os mais conservadores lideram a preferência. Estes produtos pagam ainda comissões.


• Novo Banco
"Tem alguma inquietação em relação ao banco?"

A visita ao balcão do Novo Banco foi demorada. Em primeiro lugar, houve preocupação pela informação que era do conhecimento do cliente. "Há alguma coisa que queira saber do Novo Banco? Tem alguma inquietação em relação ao banco? Estamos em processo de venda, como saberá, mas este não vai afectar os clientes", foi-nos dito. Depois, foram várias as perguntas que foram feitas, de modo a avaliar os produtos adequados. Foi recomendada a diversificação da aplicação. O primeiro produto aconselhado foi o depósito a prazo a três anos com taxa crescente. Oferece uma TANB média de 1,05%. Além disso, foi recomendado um depósito dual que pode chegar a render 2,466% no fim do prazo.

As principais recomendações no Novo Banco foram de depósitos a prazo e depósitos complexos.

Depósito complexo
O "Euro NB Dual Petróleo II 2016-2018" foi o depósito dual apresentado pelo Novo Banco. É constituído por um depósito simples e um depósito indexado de dois anos dependente da evolução do petróleo neste período. A TANB máxima é de 2,466% na data de vencimento e a mínima de 0,247%, caso não se cumpram as condições definidas. O mínimo de investimento neste produto é de mil euros.


• Santander
"Os fundos é para onde nos estamos a virar"

No Santander Totta, a primeira recomendação foi de diversificação do investimento. "Não deve colocar os ovos todos no mesmo cesto e, portanto, recomendamos que aposte em vários produtos", afirmou a gestora de clientes . "Os fundos é para onde nos estamos a virar no contexto actual", acrescentou. Foram apresentados vários fundos de investimento, com os respectivos retornos no último ano. Contudo, não foram mencionados nos encargos associados à subscrição destes fundos. Foi ainda recomendado o "Seguro Rendimento Novembro 2016", um produto financeiro complexo, dependente do desempenho das obrigações do Tesouro português, das obrigações do Santander Totta e do índice S&P500.

2,93%
Taxa de juro
Na maturidade, pode pagar uma taxa de juro de 23,44%, quase 3% por ano.

Produto complexo
O Santander Totta recomendou diversificar: depósitos, fundos de investimento e um produto financeiro complexo. O "Seguro Rendimento Novembro 2016" tem um prazo de oito anos e dez dias e está dependente das obrigações portuguesas e do Santander Totta e do S&P500. No melhor dos cenários, pode render 23,44%, o que representa uma taxa de juro anual de quase 3%. Mas há o risco de perda de capital.



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