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Foto em cima: Rita Horta Rosado, Rui Batista, Rafael Sánchez Gavilá José Velez, e Miguel Silva, debateram o estado da agricultura da em Portugal.
"Há um desafio central que é a falta de mão de obra, que é transversal a muitos outros setores. Mas no setor agrícola, como não tem teto, precisamos de fazer aquelas atividades naquela altura e a contratação de mão de obra mais operacional, não tão especializada, é cada vez mais difícil", disse Rita Horta Rosado, diretora financeira da Cartuxa-Fundação Eugénio de Almeida no painel "Colhendo o Futuro: Inovação e Harmonia na Agricultura", na conferência em Évora do Prémio Portugal Inspirador, uma iniciativa do Negócios, Correio da Manhã e CMTV, com o apoio do Banco Santander, e dos knowledge partners, a Informa DB, a Accenture, e a Nova SBE.
A Fundação Eugénio de Almeida, sedeada em Évora, vai da cultura à agricultura como a vinha e vinhos, o olival e azeite, o milho, a agropecuária, a floresta. Como sublinhou Rita Horta Rosado, as dificuldades de mão de obra também se atingem os quadros especializados, que aceitam trabalhar em Évora, mas "preferem fazer o circuito diário, a viver no Alentejo". Defende se deveria "tornar mais apelativo o trabalho na agricultura, principalmente, junto dos mais jovens, valorizar os trabalhos que possam ser desenvolvidos e fazer com que fiquem no nosso território interior". É um desafio que ultrapassa o setor agrícola, envolve políticas e stakeholders.
Na Conqueiros, que trabalha com milho, arroz, olival, amendoal e agropecuária, estão a "alterar alguns padrões de produção para sistemas mais mecanizados, precisamente para acautelar a dificuldade em contratar mão de obra", disse Rui Batista, gestor da Conqueiros Invest. Defende que "há muitas discussões políticas, mas o país precisa urgentemente de imigrantes, de os integrar para conseguirmos ter estabilidade na nossa economia".
"A burocracia infernal"
Em 2019 a espanhola AgroManed chegou ao Alentejo com um projeto vertical de amêndoa com a produção, a indústria e a comercialização. Tinha uma lógica de proximidade que torna o processo de levar produto para mercado o mais cedo possível mais fácil. Optaram pelo Alentejo porque tem um clima mediterrânico e estabilidade de água, "condições únicas de produção na Península Ibérica", como disse Rafael Sánchez Gavilán, diretor-executivo da AgroManed.
Recordou que depois do início das plantações de amendoal, começaram procurar o terreno para instalação da indústria. "A burocracia foi Infernal, quase tivemos de fazer a fábrica em Espanha, e embora o nosso objetivo fosse fazer todo o projeto no Alentejo, para que todo o valor acrescentado ficasse na região". Conseguiram e fizeram a fábrica em Ferreira do Alentejo.
"Não é a burocracia que é ruim, é o excesso de burocracia, e, às vezes, a falta de articulação entre serviços que dificultam muito a resolução destes problemas", defendeu José Velez, vice-presidente, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo. Na sua opinião, "muitas vezes não é fácil porque são projetos complexos, em que tem de haver equilíbrio entre a produção e o meio ambiente, e depois adaptá-los à nossa legislação".
Por outro lado, com a política agrícola comum tem de se cumprir determinadas regras e, "muitas das vezes, não é fácil fazer esta articulação e compatibilização". Além disso, "acontece que a própria legislação não se adaptou às novas realidades, pois a agricultura teve uma evolução enorme nos últimos 25 a 35 anos", refere José Velez.
As políticas europeias
"A grande transformação foi ter deixado de ser uma agricultura familiar e ter o empresário agrícola, uma mudança de paradigma e uma transformação completa", admite Miguel Silva, diretor comercial da Direção de Empresas do Alentejo do Santander. Salientou ainda que este banco criou "um departamento específico para o setor agro, com inclusão de especialistas, tanto na equipa de risco como na equipa de projetos especiais, que percebe e entende do setor e as suas necessidades".
diretora financeira da Cartuxa-Fundação Eugénio de Almeida
"Os agricultores concordam que se tem de produzir e olhar também a ecologia e o meio ambiente, mas as normas europeias são impostas de uma forma muito rápida. A agricultura não se muda de um dia para outro. Temos reduções de matérias ativas todas as semanas, mas temos de resolver as doenças e as pragas com inimigos naturais", explicou Rafael Sánchez Gavilán, revelando a insatisfação dos agricultores europeus com as políticas ambientais europeias. Acrescenta que "há muita distância entre a administração europeia e os produtores, olhados como os maus da fita".
A empresa de Rui Batista faz parte da sua agricultura em Campilhas e Alto Sado, que "é talvez a mais impactada pelas alterações climáticas em Portugal", por isso refere que é um laboratório vivo daquilo que pode ser o Alentejo no futuro se nada for feito. "Temos zonas de sequeiro que estão a ser abandonadas, os solos são pobres, não têm água". Sublinha que "água é fundamental para conseguirmos criar um país mais solidário". Frisou que "a água dá liberdade ao empresário, permite ter opção do que quer fazer", e deu o exemplo do Alqueva, no qual a escolha foi o olival por que rende mais que o milho. Rafael Sánchez Gavilán aduziu que hoje se tem de produzir com um uso eficiente de água e que há muitas tecnologias.