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O superalimento chamado bolota

Alfredo Cunhal Sendim nasceu no Alentejo, tem a paixão pelo montado e quer o potencial económico da bolota que pode ser superior ao da cortiça.

26 de Setembro de 2024 às 14:30
A jornalista Ângela Gonçalves Marques entrevista Alfredo Cunhal Sendim, responsável pela Herdade do Freixo do Meio.
A jornalista Ângela Gonçalves Marques entrevista Alfredo Cunhal Sendim, responsável pela Herdade do Freixo do Meio. Jose Santos
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Foto em cima: A jornalista Ângela Gonçalves Marques entrevista Alfredo Cunhal Sendim, responsável pela Herdade do Freixo do Meio.

"Só é possível permanecer uma paisagem idílica e tão importante para todos nós como o montado, se ela tiver um mínimo de competitividade económica", afirmou Alfredo Cunhal Sendim, responsável pela Herdade do Freixo do Meio. No seu caso, a diferenciação e a comunicação passou pela criação de uma área protegida de montado, que faz parte da rede nacional de áreas protegidas. Esta área protegida permite "criar uma camada económica ligada a uma questão fundamental, a iliteracia ecológica, e criar economia passando conceitos de Ecologia às crianças, aos adultos, às famílias". É "uma experiência turística numa perspetiva de turismo de aprendizagem, de partilha", disse Alfredo Cunhal Sendim.

Mas também passa por fazer da bolota um superalimento do Alentejo, para aumentar a valorização e a competitividade do montado. Em março de 2015 organizou o primeiro simpósio científico sobre bolota comestível na Herdade do Freixo do Meio, e, em 17 de novembro próximo, organiza o segundo.

"A bolota é um alimento extraordinário, é um produto tão bom que dá para fazer praticamente tudo, e tem um nível nutricional elevado e ausência de glúten", referiu Alfredo Cunham Sendim. A bolota de pior qualidade pode ser torrada e origina um sucedâneo do café, que não é excitante, e que se bebe há muitos anos na Áustria. A linha maior é a bolota inteira, descascada, seca, sendo uma amêndoa, "faz tudo aquilo que a amêndoa faz, substitui a batata nos cozinhados, podemos fazer farinhas, pão, bolachas, massa, hambúrgueres vegetarianos, cerveja, gim, bebidas e produtos fermentados. O seu açúcar é uma cadeia muito longa, que se liberta muito lentamente no sangue, e é ótimo para diabéticos, tem 10% de ácido oleico e linoleico. Já houve fábricas para extrair óleo de bolota no nosso país, o senhor Alfredo da Silva fez uma delas e não era a única", garante Alfredo Cunhal Sendim.

O não de Nabeiro

Lembra que a bolota foi um produto domesticado e que hoje não se pode colher bolota num sistema quase selvagem como se colhem as nozes. Em 2023 na Herdade colheram 20 toneladas de bolota, 5% do potencial da propriedade. Além disso, a Península Ibérica regista a única bolota doce. Há mais de 10 nos que na herdade do Freixo do Meio se faz, a partir da bolota, pão semanalmente, bolachas, brownies, tostas, patês, bolotas fermentadas em frascos, servem hambúrgueres vegans na cantina que chega a servir 500 refeições por dia. "Precisamos de indústria, mas esta não começa enquanto não houver quantidade e é uma pescadinha de rabo na boca", embora a Frulact que tem um preparado de bolota para iogurtes.

Referiu-se ao estigma cultural da bolota, que está associada à alimentação dos porcos e das fases de pobreza nos campos, contando que, com a Universidade Católica do Porto, chegou a fazer um marzagran de bolota, entregue à Delta para produzir e fazer a comercialização. Passou por todas as fases até chegar a Rui Nabeiro que disse "não", porque "não se queria lembrar da bolota, porque estava associada a um período da vida dele de muito sofrimento".

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