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Os trabalhadores da saúde em Portugal, à semelhança do que também está a acontecer em muitos outros países da Europa, enfrentam cada vez mais dificuldades e desafios. "Permanecem desequilíbrios na força de trabalho em saúde, na sua distribuição geográfica e entre setores" público e privado, constata o recente relatório sobre Recursos Humanos em Saúde (elaborado no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, numa parceria entre a Fundação "la Caixa", o BPI e a Nova SBE). "O aumento da procura por cuidados de saúde e a sofisticação técnica da prestação de cuidados de saúde contribuem para esbater os ganhos obtidos pelo aumento do número de profissionais de saúde", concluem os investigadores Pedro Pita Barros e Eduardo Costa.
Na última década, "o aumento do número de profissionais, sobretudo desde 2015, foi anulado pelo aumento do número de profissionais que trabalham em tempo parcial e pelas alterações aos horários de trabalho (regresso às 35 horas)", destaca o documento, considerando que a capacidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) depende, entre outros fatores, "do número de horas trabalhadas e não do número de profissionais" e que "o esforço financeiro realizado pelo Estado foi canalizado para a recuperação e não para a expansão da capacidade".
Profissionais exaustos
Numa análise aos recursos humanos na década de 2011 a 2022, os autores realçam três choques negativos sucessivos sobre os profissionais de saúde: o programa de ajustamento financeiro e das contas públicas, o período seguinte de reversão de medidas de um modo que manteve grande pressão sobre o trabalho destes profissionais e, por fim, as enormes exigências trazidas pela pandemia da covid-19. "O efeito cumulativo destes três choques traduziu-se numa perda de rendimento real face à população trabalhadora em geral, numa crescente falta de condições de trabalho em termos de infraestruturas e reposição de equipamentos que se desgastaram, bem como pela exaustão dos próprios profissionais de saúde", alerta o estudo. O relatório mostra que, em 2022, "os médicos perderam 18% do poder de compra face a 2011, e os enfermeiros perderam 3% (em média, os trabalhadores nacionais viram o seu poder de compra subir 6% no mesmo período)". O período de recuperação registado antes da pandemia "não foi suficiente para recuperar significativamente as dificuldades sentidas durante a crise financeira e para fazer face à dinâmica recente de preços", referem os autores. O estudo nota ainda que "o crescimento do setor privado, com a consequente possibilidade de duplo emprego para complemento dos rendimentos, cria uma pressão adicional ao SNS".
Más condições e esgotamento
Também a relação do Governo com o setor não tem sido pacífica, com os fechos de serviços e pedidos de demissão em bloco devido à falta de condições para trabalhar, sobrelotação das urgências, extensas listas de espera para consultas e cirurgias. Já este ano, médicos e enfermeiros estiveram em greve. Os enfermeiros recusam- se a "continuar a empobrecer", reivindicando a valorização das carreiras. Também os médicos querem ser mais valorizados e reclamam novas grelhas salariais, o redimensionamento da lista de utentes dos médicos de família, a dignificação das condições de trabalho e um horário- -base de 35 horas. Até mesmo os farmacêuticos realizaram uma greve histórica em novembro de 2022 para reivindicar a revisão das grelhas salariais, que datam de 1999, e a contagem integral do tempo de serviço para progressão na carreira. Um cenário que se repete na Europa, o que já motivou a Organização Mundial da S aúde a lançar, no final de março, um alerta sobre os sistemas de saúde europeus e a aprovar uma declaração que faz apelo a um maior financiamento público no setor. "Não há tempo a perder. Um sistema de saúde é tão forte quanto o pessoal de saúde que o apoia. Se tivermos em conta o atual clima de greves, esgotamento e fuga de cérebros, vemos que os nossos sistemas de saúde estão com sérios problemas", argumentou o diretor regional para a Europa da OMS, Hans Kluge.
Médicos cada vez mais velhos
Segundo a Ordem dos Médicos, a 31 de dezembro de 2022, estavam inscritos 61 235 médicos, mais 222 do que em 2021. Destes, 7,3% (4 503) são estrangeiros, a maioria proveniente de Espanha (1 681) e do Brasil (1 060). O número de médicos por mil habitantes é de 5,9 (vs. 5,6 em 2020).
• Mais de metade dos médicos (57,1%) são mulheres.
• Mais de um terço (34,1%) tem mais de 60 anos.
• A maioria trabalha na Região Metropolitana de Lisboa (28,7%) e na Região Norte (22,19%).
• Mais 60% são especialistas. A Medicina Geral e Familiar, a Pediatria, a Medicina Interna e a Anestesiologia são as quatro especialidades com maior número de médicos.
• Existem apenas 2 médicos na Ilha do Corvo, nos Açores (a Graciosa tem 4 e a Ilha das Flores 5).
Na última década, "o aumento do número de profissionais, sobretudo desde 2015, foi anulado pelo aumento do número de profissionais que trabalham em tempo parcial e pelas alterações aos horários de trabalho (regresso às 35 horas)", destaca o documento, considerando que a capacidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) depende, entre outros fatores, "do número de horas trabalhadas e não do número de profissionais" e que "o esforço financeiro realizado pelo Estado foi canalizado para a recuperação e não para a expansão da capacidade".
Profissionais exaustos
Numa análise aos recursos humanos na década de 2011 a 2022, os autores realçam três choques negativos sucessivos sobre os profissionais de saúde: o programa de ajustamento financeiro e das contas públicas, o período seguinte de reversão de medidas de um modo que manteve grande pressão sobre o trabalho destes profissionais e, por fim, as enormes exigências trazidas pela pandemia da covid-19. "O efeito cumulativo destes três choques traduziu-se numa perda de rendimento real face à população trabalhadora em geral, numa crescente falta de condições de trabalho em termos de infraestruturas e reposição de equipamentos que se desgastaram, bem como pela exaustão dos próprios profissionais de saúde", alerta o estudo. O relatório mostra que, em 2022, "os médicos perderam 18% do poder de compra face a 2011, e os enfermeiros perderam 3% (em média, os trabalhadores nacionais viram o seu poder de compra subir 6% no mesmo período)". O período de recuperação registado antes da pandemia "não foi suficiente para recuperar significativamente as dificuldades sentidas durante a crise financeira e para fazer face à dinâmica recente de preços", referem os autores. O estudo nota ainda que "o crescimento do setor privado, com a consequente possibilidade de duplo emprego para complemento dos rendimentos, cria uma pressão adicional ao SNS".
Más condições e esgotamento
Também a relação do Governo com o setor não tem sido pacífica, com os fechos de serviços e pedidos de demissão em bloco devido à falta de condições para trabalhar, sobrelotação das urgências, extensas listas de espera para consultas e cirurgias. Já este ano, médicos e enfermeiros estiveram em greve. Os enfermeiros recusam- se a "continuar a empobrecer", reivindicando a valorização das carreiras. Também os médicos querem ser mais valorizados e reclamam novas grelhas salariais, o redimensionamento da lista de utentes dos médicos de família, a dignificação das condições de trabalho e um horário- -base de 35 horas. Até mesmo os farmacêuticos realizaram uma greve histórica em novembro de 2022 para reivindicar a revisão das grelhas salariais, que datam de 1999, e a contagem integral do tempo de serviço para progressão na carreira. Um cenário que se repete na Europa, o que já motivou a Organização Mundial da S aúde a lançar, no final de março, um alerta sobre os sistemas de saúde europeus e a aprovar uma declaração que faz apelo a um maior financiamento público no setor. "Não há tempo a perder. Um sistema de saúde é tão forte quanto o pessoal de saúde que o apoia. Se tivermos em conta o atual clima de greves, esgotamento e fuga de cérebros, vemos que os nossos sistemas de saúde estão com sérios problemas", argumentou o diretor regional para a Europa da OMS, Hans Kluge.
Médicos cada vez mais velhos
Segundo a Ordem dos Médicos, a 31 de dezembro de 2022, estavam inscritos 61 235 médicos, mais 222 do que em 2021. Destes, 7,3% (4 503) são estrangeiros, a maioria proveniente de Espanha (1 681) e do Brasil (1 060). O número de médicos por mil habitantes é de 5,9 (vs. 5,6 em 2020).
• Mais de metade dos médicos (57,1%) são mulheres.
• Mais de um terço (34,1%) tem mais de 60 anos.
• A maioria trabalha na Região Metropolitana de Lisboa (28,7%) e na Região Norte (22,19%).
• Mais 60% são especialistas. A Medicina Geral e Familiar, a Pediatria, a Medicina Interna e a Anestesiologia são as quatro especialidades com maior número de médicos.
• Existem apenas 2 médicos na Ilha do Corvo, nos Açores (a Graciosa tem 4 e a Ilha das Flores 5).