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Doenças cardiovasculares matam 80 pessoas por dia

As doenças cardiovasculares representam um terço das mortes em Portugal e “só o enfarte do miocárdio mata, em média, mais de 12 pessoas por dia”. O alerta é do presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Manuel Carrageta, e surge no âmbito da campanha “Maio, Mês do Coração”, este ano dedicada ao colesterol.

04 de Maio de 2023 às 15:39
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"No nosso país, as doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de um terço do total das mortes. Não podemos ignorar que morrem, em média, cerca de 80 pessoas por dia devido a patologia cardiovascular. Só o enfarte do miocárdio mata, em média, mais de 12 pessoas por dia", salienta à SÁBADO Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), a propósito da campanha deste ano referente ao "Maio, Mês do Coração". Uma realidade que se podia evitar. "Cerca de oito em cada 10 óbitos de causa cardiovascular que ocorrem precocemente (antes dos 70 anos) podem ser evitados", avisa o cardiologista.

Este ano, a FPC dedica a sua campanha ao colesterol, nomeadamente porque  "cerca de dois terços da população adulta portuguesa tem o seu colesterol elevado". Manuel Carrageta sublinha que "estamos perante uma patologia grave sobre a qual é fundamental fazer prevenção e aumentar a literacia".
Sabemos que "os valores elevados de colesterol não causam sintomas e, quando estes ocorrem, podem ser graves e súbitos, e manifestar-se, por exemplo, sob a forma de dor no peito devido a angina de peito ou enfarte do miocárdio ou mesmo morte súbita", alerta o cardiologista, considerando ser "fundamental instruir a população sobre o colesterol e as suas implicações".

Como explica, o colesterol em si não é nenhum "vilão", até porque se trata de "uma gordura essencial para o nosso organismo (produzido por duas vias, pelo próprio organismo, em particular no fígado, e obtido através da alimentação, sobretudo pela ingestão de produtos animais, ricos em gordura, como a carne vermelha, os ovos e os produtos lácteos) e é mesmo essencial ao organismo para produzir as membranas (paredes) celulares, algumas hormonas, vitamina D e até os ácidos biliares, que ajudam a digerir os alimentos". Mas "o nosso organismo só necessita de uma pequena quantidade de colesterol para satisfazer as suas necessidades".

 

Atenção aos valores LDL

De entre as várias frações do colesterol, "é importante estarmos atento aos valores das LDL (low density lipoprotein ou lipoproteínas de baixa densidade), vulgarmente conhecida como o ‘mau colesterol’, por ser aquela que, ao depositar-se na parede das artérias, provoca a aterosclerose", observa Manuel Carrageta, advertindo que "quanto mais altas forem as LDL no sangue, maior é o risco de doença cardiovascular".

Além disso, "o colesterol proveniente das LDL não é meramente um fator de risco, mas sim a principal causa da aterosclerose", reforça o cardiologista, que é também especialista em Medicina Interna, Farmacologia clínica e Geriatria.

"Ao longo da vida, quando em excesso, estas LDL vão-se depositando nas paredes arteriais, constituindo placas de aterosclerose (acumulações de colesterol) que reduzem ou interrompem o afluxo de sangue aos órgãos e tecidos do organismo. Quando se formam nas artérias coronárias – que fornecem o sangue ao coração – temos a doença das coronárias. Se o sangue oxigenado não chegar em quantidade suficiente ao músculo cardíaco pode ocorrer uma dor no peito – a chamada angina. Se a obstrução da artéria coronária for completa pode desencadear-se um enfarte do miocárdio. Se ocorrem nas artérias carótidas do pescoço estamos perante a doença carotídea que pode provocar acidentes vasculares cerebrais", informa.

Durante a pandemia por covid-19, muitos doentes com problemas graves de saúde, em grande parte por medo infundado de contágio, "evitaram ou dirigiram-se em fases tardias às unidades de saúde de ambulatório e aos hospitais, o que contribuiu seguramente para este aumento observado da mortalidade global", observa Manuel Carrageta.

Um estudo realizado pela FPC concluiu que "metade dos doentes cardíacos optaram por não procurar o médico por terem mais medo da pandemia por covid-19 do que da sua própria doença cardiovascular".

 

 

Campanha de maio

É por todos estes motivos que, este ano, o objetivo da Campanha "Maio, Mês do Coração" é "dar a conhecer o estado atual das doenças cardiovasculares em Portugal e qual a importância que o controlo do colesterol, fator de risco e mesmo causal, tem na prevenção das doenças cardiovasculares", informa o cardiologista, sublinhando que "uma grande parte do número elevado de óbitos não-covid, em excesso, que ocorreu nos últimos anos, foi causada por doenças cardiovasculares com elevada letalidade, tais como, o enfarte do miocárdio e o AVC, que são na sua maioria evitáveis através de um estilo de vida saudável e do controlo dos fatores de risco".

A FPC quer, desta forma, "tornar visível o que não se vê nem se sente: o ‘mau’ colesterol (LDL), que só se vê que está elevado quando fazemos análises para a sua medição", e ainda chamar a atenção para o facto de "estarmos medicados para o colesterol não significa que este esteja garantidamente normalizado".

Aliás, de acordo com Manuel Carrageta, um estudo realizado recentemente em Portugal, mostrou que "mais de 90% dos doentes com risco cardiovascular elevado e muito elevado não tinham o seu colesterol LDL devidamente reduzido para os valores recomendados (inferior a 70 mg/dL para quem tem risco elevado e 55 mg/dL para quem tem o risco muito elevado)". Além disso, "cerca de 20% dos doentes com muito alto risco não estavam sequer a fazer qualquer medicação para o colesterol".

Mortes aumentam 2,8%

Em Portugal, em 2020, morreu-se principalmente devido a doenças do aparelho circulatório, com 34 593 óbitos, ou seja, 28,0% do total, mais 2,8% em relação ao ano anterior. Destacaram-se 11 439 mortes por doenças cerebrovasculares  e 6 838 por doença isquémica do coração, segundo as Estatísticas da Saúde 2023, do INE.



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