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Internamentos sociais no SNS subiram 60%

Em março deste ano, estavam internadas de forma inapropriada nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) 1.675 pessoas, um aumento de 60% face ao mesmo mês do ano passado.

Negócios 29 de Junho de 2023 às 11:27
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São cada vez mais os pacientes, sobretudo idosos, que permanecem nos hospitais mesmo após alta clínica e sem razão válida de saúde, apenas porque não têm para onde ir. Os internamentos sociais, que eram 1.048 em março de 2022, subiram 60% para 1.675 pessoas. Números preocupantes que escondem dramas humanos e foram revelados na 7.ª edição do Barómetro de Internamentos Sociais, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH).

Os resultados desta 7ª edição demonstram que voltámos a recuar nas respostas aos internamentos inapropriados Xavier Barreto, presidente da APAH

À data da recolha dos dados (20 de março de 2023), os casos de internamento representavam 9,4% do total de internamentos nos hospitais nacionais (excluindo unidades psiquiátricas), e um custo estimado de quase 52 milhões de euros para o Estado, por comparação com os 19,5 milhões gastos em março de 2022. Extrapolando este cenário para o total do ano de 2023, os internamentos inapropriados podem ter um impacto financeiro de mais de 226 milhões de euros, destaca a 7.ª edição do Barómetro de Internamentos Sociais da APAH, realizado em parceria com a EY e o apoio institucional da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e da Associação dos Profissionais de Serviço Social (APSS).

O estudo, que foi apresentado no início de junho, em Lisboa, contou com a participação de 39 unidades hospitalares do SNS, num total de 19.462 camas hospitalares (88% do total, a nível nacional).

A análise regista 102.807 dias de internamentos inapropriados (mais 228% face à 6.ª edição deste Barómetro), o que espelha o elevado impacto deste fenómeno no prolongamento da ocupação das camas em ambiente hospitalar, assim como no aumento dos tempos de espera para internamentos programados, resultando na degradação dos cuidados de saúde.
Segundo os autores do trabalho, este enorme aumento resulta particularmente da subida da demora média dos internamentos inapropriados (61,4 dias em 2023 vs. 29,9 dias em 2022), tendo como sua principal causa o atraso na obtenção de vaga para ERPI – Estrutura Residencial Para Pessoas Idosas.

A falta de resposta da RNCCI – Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados foi apontada como responsável por metade dos casos de internamentos.

No entanto, quando se analisa o aumento dos dias de internamento inapropriados, a principal causa passa a ser a não obtenção de vaga atempada em ERPI. Dito de outra forma: existem mais doentes a aguardar vaga na rede de cuidados continuados, mas aqueles que esperam por um lugar nas residências seniores (ERPI) aguardam mais tempo.

 

Mais casos em Lisboa e Norte

 

Lisboa e Vale do Tejo (34%) e o Norte (45%) do país são as regiões com maiores taxas de internamentos inapropriados, sendo responsáveis, em conjunto, por mais de oito em cada 10 casos de doentes internados sem sintomatologia clínica que o justifique.

O número de episódios de internamentos inapropriados foi caracterizado neste estudo por 68% de internamentos médicos (e os restantes cirúrgicos), sendo que 81% destes doentes tinham mais de 65 anos, e mais de metade era do sexo feminino (54%).

Para Xavier Barreto, presidente da APAH, "os resultados desta 7.ª edição demonstram que voltámos a recuar nas respostas aos internamentos inapropriados". "Verifica-se um aumento do número de internamentos, mas mais ainda do número de dias que esses doentes aguardam por vaga em RNCCI ou ERPI, por isso, por uma questão de eficiência e boa gestão dos recursos públicos, e pela qualidade dos cuidados prestados, é urgente recuperar soluções concertadas entre os setores da saúde e da Segurança Social, encontrando respostas adequadas para estes doentes", defende o responsável, acrescentando que "importa ainda revisitar os investimentos previstos no Plano de Recuperação e Resiliência no sentido de perceber em que medida contribuem para responder a este desafio de saúde pública e social".

A capacidade de resposta deste setor é limitada face às necessidades de um país que regista uma das maiores taxas de envelhecimento da Europa e do mundo Júlia Cardoso, presidente da APSS

Segundo Lélita Santos, presidente da SPMI, "as causas principais do problema foram já repetidamente identificadas e, sem dúvida, as respostas estão muito dependentes do setor social, sendo que todos – e não apenas os hospitais – temos interesse em melhorar a qualidade de vida destes doentes, com alternativas de apoio que os retirem dos hospitais quando estes já não precisem".

Já Júlia Cardoso, presidente da APSS, destaca que, "apesar da tentativa de aumentar a capacidade de resposta em ERPI através da contratualização de mais lugares em estruturas geridas pelo setor solidário, se constata o fraco impacto desta medida, até pelo facto de sabermos que a capacidade de resposta deste setor é limitada face às necessidades de um país que regista uma das maiores taxas de envelhecimento da Europa e do mundo". E os dados deste Barómetro comprovam-no: são os mais velhos os que mais permanecem indevidamente nos hospitais.

"Todos reconhecemos que é urgente agir, que é necessário criar um modelo que se preocupe com o seu bem-estar e traduza a devida articulação entre o sistema de saúde e o sistema da Segurança Social. Sendo que uma parte dos encargos com a resposta, quer em ERPI, quer na RNCCI, pode e deve ser assegurada pelos milhões de euros que são atualmente gastos nos hospitais com o prolongamento dos internamentos, como se verifica pelos dados em análise", conclui a responsável.

Números

  • 675 internamentos inapropriados (+627 face à 6.ª edição);
  • 9,4% índole de inapropriação do internamento (+3,1%);
  • 807 dias inapropriados de internamentos (+377%);
  • 61,4 dias de demora média por internamento inapropriado (+196);
  • 79% LVT e Norte com 79% do total de internamentos inapropriados (II);
  • 68% dos episódios e 82% dos dias de II correspondem a internamentos médicos;
  • 50% dos episódios e 59% dos dias de II têm origem no Serviço de Medicina Interna;
  • 54% dos episódios e 55% dos dias de II registaram-se no sexo feminino;
  • 81% dos episódios e 70% dos dias de II dizem respeito a pessoas com mais de 65 anos.




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