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O responsável da APDC defendeu ainda que não é perceptível como é que "os vários 'players' se vão combinar e que indústrias é que vão, ou não, ser objecto de disrupção". "No entanto, sabemos que as indústrias que têm algumas características vão ter essa disrupção mais depressa". Entre esses elementos diferenciadores está a desmaterialização. Quanto ao futuro, o responsável salientou que as "as grandes guerras" vão ser entre plataformas. "Os ecossistemas vão se digladiar porque quando nos habituamos a um ecossistema é muito difícil mudar", acrescentou.
O nosso ecossistema de inovação tem várias coisas importantes: tem boas universidades, um bom sistema científico e tecnológico, temos boas pessoas, mas poucas - porque são à nossa escala -, [embora] tenhamos capacidade de atrair mais". Rogério Carapuça
Presidente APDC
Olhando para a evolução desta transformação ao nível nacional, o responsável lembrou que Portugal está inserido dentro do contexto europeu que, no âmbito do "mundo digital, não está muito bem colocado". "Quantas novas plataformas, quantos novos 'players', que estabelecem novos ecossistemas, são europeus? Muito poucos", referiu. Perante este cenário, Rogério Carapuça apontou que Portugal devia apostar no fortalecimento do ecossistema nacional de inovação. "O nosso ecossistema de inovação tem várias coisas importantes: tem boas universidades, um bom sistema científico e tecnológico, temos boas pessoas, mas poucas - porque são à nossa escala -, [embora] tenhamos capacidade de atrair mais. Mas faltam-nos algumas coisas". Investidores internacionais de "smart money" (que trazem também conhecimento profundos em determinada área), captar mais companhias internacionais para Portugal e qualificação das pessoas, são algumas das áreas, defendeu, onde Portugal tem de apostar.
Numa evidência de como esta evolução é célere, a Vodafone assumiu que não consegue prever qual vai ser o posicionamento que terá daqui a cinco anos, algo descrito como "muito longo prazo". Mafalda Alves Dias, Head of Large Business anda Public Sector da operadora, salientou que a empresa tem actualmente projectos em áreas como realidade aumentada, robôs e carros autónomos, algo que há 12 meses não era claro se seria possível.
Pedro Afonso, CEO da Axians Portugal, defendeu, por sua vez, que há uma necessidade cada vez maior de aprender "uns com os outros" até porque "o que interessa é a forma como se liga as pessoas". "O nosso desafio como gestores é tentarmos encontrar o espaço para que as pessoas possam trazer valor diferenciado" porque "só assim conseguimos mudar o mundo onde vivemos".
Informação enquanto activo
Fernando Bação, professor associado da NOVA IMS, defendeu que há três possibilidades de a informação ser monetizada nomeadamente pelas empresas que se encontram já no mercado. "A primeira é utilizar a informação enquanto vantagem competitiva. A informação que a empresa tem é uma vantagem competitiva no sentido em que só se perde se a empresa abdicar dela ou tiver algum problema de segurança. É um activo e é, ao mesmo tempo, um risco. Mas permite às empresas que têm muitos clientes, se forem inteligentes, servi-los de forma mais eficiente, adequada e relevante", disse.
Professor da NOVA IMS
Além disso, uma segunda possibilidade para a monetização da informação passa pela venda de informação, não a de base, mas os conhecimentos de que dispõem, a parceiros de negócio. E, por último, as plataformas. "As plataformas que conhecemos são basicamente negócios de informação. A informação enquanto forma de promover negócios, o encontro entre a oferta e a procura, tem um enorme potencial", rematou.
O que marca a revolução digital
A transformação digital está em curso. Há quem lhe chame revolução. Mas ao contrário de outras, esta revolução é célere e pode até ser caótica.
A revolução e as empresas
A transformação digital está em curso. A velocidade a que as empresas estão a absorver estas mudanças não é igual. Rogério Carapuça, líder da APDC, defendeu mesmo que a neste processo de transformação "a aceleração é contínua". "A velocidade da transformação vai ser cada vez maior. O que aconteceu nos últimos 20 anos não se compara com aquilo que aconteceu desde que o computador foi inventado. Aquilo que vai acontecer nos próximos dez anos será seguramente mais do que aconteceu nos últimos 20", prevê.
O que é que vai acontecer a seguir
Parece não haver muitas dúvidas que esta revolução, como lhe chama o líder da APDC, é rápida. Mas nem tudo é conhecido. Entre as incógnitas deste processo está, por exemplo, a forma como os vários actores vão combinar-se e que áreas industriais vão ser abrangidas pela inovação que a transformação digital gera.
Talento precisa-se
Como lembra o líder da APDC, Portugal está inserido na realidade europeia. E na Europa, o nível de desenvolvimento desta mudança não está tão acelerado como em outros pontos do globo. Contudo, é possível assinalar que em Portugal, referiu o responsável, existem boas instituições de ensino superior, talento qualificado sendo que existem condições para captar mais talento.
Start-ups e empresas devem estar ligadas
As empresas que não apliquem medidas de modernização nos seus processos produtivos correm o risco de "ficar para trás" na quarta revolução industrial, como apontou Ana Lehmann, secretária de Estado da Indústria. Neste sentido, a governante lembrou que o Executivo está a implementar a estratégia Indústria 4.0, para que os sectores produtivos possam aplicar estratégias de modernização dos processos. "A iniciativa inclui dezenas de medidas, tanto públicas como privadas" e prevê-se que sejam injectados "4,5 mil milhões de euros na economia, com impacto em milhares de empresas", afirmou.
Ana Lehmann aproveitou a oportunidade para contrariar "uma certa crença de que há dois mundos bastante distintos" - o universo das start-ups, tipicamente inovadoras, e o das empresas "mais estabelecidas".
"Uma das áreas centrais da estratégia que tenho em mente, e que vamos lançar em breve, terá a ver com a promoção das ligações entre estes dois mundos no sentido de assegurar a sua complementaridade", salientou. A ideia é que as empresas mais maduras possam "arrastar" as mais pequenas e que possam ser "mercados importantes" para estas firmas. "Da mesma forma, as empresas mais emergentes e de menor dimensão também podem ter um contributo fundamental para as entidades de maior experiência e dimensão porque podem também desafiá-las a encontrar novas soluções; podem contribuir com novas tecnologias e negócios concretos de bens e serviços", acrescentou.
Por isso, concluiu a governante, "não há nenhuma razão para estes mundos serem vistos de forma separada".