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"Acredito que tudo pode voltar ao normal mas não consigo colocar no papel antes da Primavera de 2022", refere José Avillez, CEO do Grupo José Avillez, que abriu ontem um dos seus restaurantes, O Cantinho do Avillez, no Chiado. Também Rodrigo Machaz, diretor-geral do Memmo Hotels, defende que para a retoma total vão ser necessários 2021 e 2022.
Na opinião de José Avillez esta crise inopinada junta uma crise de saúde pública e a crise financeira e considera que se fez "um grande esforço a nível governamental para se conseguir dar certos apoios. Sei que não é fácil responder tão rapidamente a um problema inesperado, mas de facto também nunca ninguém tinha feito um PNL com uma empresa que faturava zero e que mantinha custos".
Para Rodrigo Machaz, no confinamento "as medidas tomadas foram corretas para ajudar as pessoas que ficaram sem trabalho, as empresas sem negócio. Às empresas foi dado o lay-off simplificado, mas as empresas tinham zero receitas e um custo de um terço da remuneração do pessoal, o que é pesadíssimo".
Além disso para o gestor da Memmo Hotels, na hotelaria os custos de pessoal, vão aumentar na área F&B porque não são permitidos bufês e outras simplificações nas áreas de bebida e restauração. Ao mesmo tempo, a redução na taxa de ocupação de 90% para 20% liberta mão-de-obra, "mas eu não posso passar pessoas de housekeeping para F&B. Estas linhas de apoio impedem qualquer despedimento, portanto são linhas de apoio às pessoas e não às empresas".
Apoio ao turismo
José Avillez sublinhou os dados de um inquérito da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal que preveem que cerca de 30% dos hotéis e restaurantes pondera abrir falência. "Nas linhas de crédito há uma visão de liquidez e tesouraria, mas pouco económica, porque quem se endivida agora para pagar a fornecedores que tem em atraso e os 30% do lay off, está só a gastar dinheiro e a sair disto tudo ainda mais endividado para enfrentar uma grande incerteza", salientou José Avillez.
"Precisamos urgentemente que o Estado dê agora ao turismo tudo o que o turismo deu à economia nacional, porque deu muito nos últimos cinco anos", salientou Rodrigo Machaz. Defende que o Estado tem de dar o dinheiro às empresas porque o turismo tem capacidade de instalada, postos de trabalho e que "tudo o que for dado em apoio ao setor do turismo vai ser restituído em dobro". Por sua vez, José Avillez acha que este apoio pode passar pela baixa da TSU, a redução do IVA, ou o lay-off que permita a possibilidade de continuar a trabalhar.
"Tenho confiança no futuro, temos outros negócios que mostram que as pessoas querem vir viver para Portugal porque teve uma boa experiência durante a pandemia", disse Chitra Stern, presidente do Elegant Family Hotels Sagres. Acrescentou que "na escola internacional foram feitas 83 inscrições durante este período. Na parte imobiliária estivemos a vender menos mas vendemos durante esta crise. São indicadores esperançosos".
Vistos Gold e NHR
O turismo residencial com as estadias de média e longa duração é uma das convicções de Chitra Stern para o futuro. "O estilo de vida em Portugal é atrativo e são pessoas de grande poder de compra que ficam mais tempo, atraem familiares para visitas". Refere ainda a importância dos vistos gold para Lisboa e Porto, que deveriam ser repostos, e do regime dos NHR (Non-Habitual Residency). Sublinhou que há muitas abordagens de Hong Kong e da África do Sul atraídos pelo facto de Portugal ser um país seguro e amigável.
Na sua opinião, "o Verão vai ser bom, provavelmente dentro de um ano os estrangeiros regressarão a Portugal mas temos de ter um runway de tesouraria de três anos para enfrentar a contração global das economias". Defende que o governo tem de reagir com rapidez, flexibilidade e inteligência "porque temos de ter novas rotas para países em que a crise não afete tanto como a Índia, o Algarve tem de ter outras rotas também que não podem ser só a Europa. Também é necessária flexibilidade laboral para mudar as pessoas entre áreas e hotéis".
Rodrigo Machaz não deixou de referir a importância da acessibilidade aérea, com 90% dos turistas a entrarem pelos aeroportos, frisando que "a TAP é fundamental para o turismo em Portugal nomeadamente pelas apostas chave que fez nos mercados brasileiro e norte-americano", e que são hoje mercados valiosos para o turismo.