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A inovação é a única arma para o crescimento e o emprego

Para Carlos Moedas, o crescimento na Europa só se atinge com a inovação. Por isso devia ser uma prioridade dos governos. Defende a diversificação das fontes e os montantes de financiamento privado às empresas europeias

Filipe S. Fernandes 17 de Abril de 2018 às 11:32
Subir na cadeia de valor é a única solução defendeu Carlos Moedas. José Gageiro
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"Os políticos dizem que vão criar emprego, mas não são eles que criam emprego, são as empresas. Dizem que vão conseguir mudar leis e criar mais empresas e isso não acontece", referiu Carlos Moedas, comissário europeu. Acrescentou que "a importância da inovação radica no facto de ser a única arma que temos para o crescimento e para a criação de emprego".

Na sua opinião um país só cresce se aumentar a produtividade e só há três caminhos. "Dois dos caminhos não os queremos porque ou se trabalha mais pelo mesmo preço, ou ainda pior, trabalha-se o mesmo e recebe-se menos. O terceiro caminho é subir na cadeia de valor". Deu o exemplo da Alemanha que, durante anos, foi o maior exportador do mundo. Conseguiu atingir este objectivo porque vendia produtos exclusivos com mercado, "que eram mais caros e permitiam criar emprego e pagar melhores salários".

Defendeu que "o crescimento na Europa só pode ser feito através da inovação". Sugeriu que os governos deviam ter ministérios da Inovação para dar dimensão política e fazer da inovação uma prioridade.

Falta capital de risco

O comissário referiu que o financiamento às empresas é um dos problemas da União Europeia . Nos Estados Unidos, 20% do financiamento das empresas é bancário, dívida bilateral, e 80% é proveniente de venture capital, business angels e outro capital privado. Na Europa é o inverso, com 80% de dívidas bilaterais no financiamento às empresas e só 20% com origem em outras fontes de financiamento.

Este gap de financiamento é elevado. Uma empresa europeia que precise de dez milhões de euros de capital de risco arranja dinheiro. Se precisar de 60 ou 80 milhões de euros já não se consegue financiar na Europa. "O fundo médio de capital de risco europeu não chega a 60 milhões de euros. Nos Estados Unidos, o fundo médio é o dobro. Já para não dizer que há dois anos, os Estados Unidos levantaram 36 mil milhões de euros em capital de risco e a Europa apenas cerca de 5 mil milhões de euros. O que é extraordinário é que Israel conseguiu levantar quase tanto dinheiro como a Europa".

"Estamos a criar um fundo de fundos de 2 mil milhões de capital de risco, mas em que a Europa só coloca 400 milhões, sendo o restante privado". Adianta que tem de haver dinheiro para as empresas europeias crescerem. "Se não fizermos isso as nossas empresas e as nossas ideias vão para os Estados Unidos ou para a China, como aconteceu com o booking.com, que era uma empresa holandesa que foi para os Estados Unidos, tal como a Spotify ou o Skype".

A terceira onda do digital tem de ser europeia

"A Europa era a melhor na primeira fase da internet, porque quem criou a internet foi o Tim Berners-Lee no CERN. Quem dominava o mundo eram as empresas europeias como a Nokia, a Siemens. Quando veio o mundo digital, o universo das aplicações, das plataformas, das Ubers, da facebook, da Google, a Europa perdeu o barco. Temos de aproveitar a nova onda de inovação, que vai ser diferente das anteriores", resumiu Carlos Moedas.

A nova onda da internet vai necessitar de empreendedores e empresários muito diferentes do passado porque vão entrar em áreas em que existe muita regulação como a saúde, a educação, a energia, a alimentação. "São indústrias por definição reguladas, portanto estes empreendedores do futuro vão ter de ser capazes de trabalhar e co-legislar com os políticos. "São indústrias por definição reguladas, portanto estes empreendedores do futuro vão ter de trabalhar e ser capazes de co-legislar com os políticos. Os empresários do futuro não podem ter perfis como Mark Zuckerberg ou Sheryl Sandberg do facebook, que não precisaram de trabalhar com áreas reguladas".

Investigação pura

A inovação disruptiva nas áreas reguladas implica uma adaptação entre a velocidade da tecnologia e a velocidade dos políticos. "Temos de fazer legislação mais inteligente para que cinco anos depois não esteja desactualizada, porque a tecnologia evoluiu, os produtos são outros e a legislação fixada prejudica o desenvolvimento e o nosso futuro", diz Carlos Moedas. O comissário europeu sugere legislação com cláusulas de experimentação para se poder fazer novos produtos e serviços sem preocupações com a legislação.

           Nas áreas de futuro, como a educação e a saúde, existe regulação.

Um grande trunfo da Europa é que esta tem o maior programa de ciência do Mundo, com uma dotação de 77 mil milhões de euros, e lidera na investigação pura e fundamental. As novas tecnologias como a inteligência artificial, machine learning, blockchain são baseadas em ciência fundamental. "Estas tecnologias são profundas, vão mudar a nossa vida e precisam de engenheiros. São boas notícias para a Europa, porque temos os melhores engenheiros, precisamos de pessoas que saibam de tecnologia", resume Carlos Moedas. 



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