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Têxteis, vestuário e calçado: Marca precisa-se para ter mais peso na cadeia de valor

O sector dos têxteis, vestuário e calçado deu a volta. Mas ainda tem um caminho a percorrer. Marca própria é um objectivo que deve ser equacionado para ter uma parcela maior na cadeia de valor.

10 de Novembro de 2015 às 14:00
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Chegou a ser feito o obituário do sector dos têxteis, vestuário e calçado. A entrada da China e da Índia na Organização Mundial do Comércio (OMC) teria o efeito final, primeiro no calçado (em 2001) e depois nos têxteis e vestuário (a partir de 2003, mas em pleno em 2005), agravado pela valorização do euro face ao dólar. E por isso o final da década de 1990 e o início dos anos 2000 foram difíceis. Mas hoje o sector acena com um nível a bater os recordes nas exportações. O calçado tem o maior saldo positivo no comércio de bens e o segundo maior preço médio de exportação a nível mundial. As empresas tiveram de dar a volta: conseguir escalar no mercado, para produtos de maior valor, e responder com maior celeridade aos pedidos. "Temos hoje produções mais sofisticadas, criativas e inovadoras". Além disso, já não é apenas uma subcontratação sem valor. "Apresentamos e fornecemos soluções às empresas, como desenvolvimento de colecções ou investigação para cada produto." Produtos de menor valor acrescentado haverá menos, mas, ainda assim, o volume continua a ser importante e continua a existir em Portugal. Até porque os produtores asiáticos viraram-se mais para o mercado interno, em crescimento, e os "gaps" salariais - ainda que continuem grandes - diminuíram.

Se até agora o caminho foi de sucesso, não se pode acreditar que está tudo feito. Há que continuar neste caminho, advertem as associações representativas e até os próprios empresários. Que detectam um caminho a seguir. Há que participar mais na cadeia de valor. Actualmente a participação é de 20-25%, mas tem de ocupar mais espaço. E como é que isso se faz? Com marca própria e caminhando para mais próximo do consumidor, dominando mais as cadeias de distribuição.

"O sector fez um trabalho, a montante, espectacular, com grande apetrechamento tecnológico", agora é preciso "galgar e fazer a jusante o que se fez na produção". Mas em paralelo com a estratégia de "private label" (produzir marcas de terceiros).

Marca, marca, marca. É esse o desígnio que o sector deve ter. Mesmo no calçado acredita-se ser possível ultrapassar o "made in Italy". E só depois pensar num controlo da distribuição. É um sector, recorde-se, que alberga uma das maiores fortunas a nível mundial: Amancio Ortega, dono da Inditex. Fortuna construída por um homem que está a 300 quilómetros do Porto...

Mas essas abordagens custam dinheiro e precisam de capital, que nem há disponível nos empresários nem na banca para estes novos projectos. Não há capital de risco nem um mercado de capitais que funcione para este tipo de financiamento. A criação de fundos de investimento poderia ser uma alternativa, sugere-se no "think tank" Negócios/Popular sobre os têxteis, vestuário e calçado.

AICEP precisa de mudanças?
O papel da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) foi abordado neste "think tank". Apesar de haver quem defenda que houve uma evolução grande na sua actuação, nomeadamente ao nível da relação e interligação entre agentes diplomáticos e delegados económicos, há ainda quem se queixe de fragilidades. Há oportunidades, assume um dos responsáveis sectoriais, "que deviam ser criadas pela AICEP. Devia trabalhar em prol do país exportador". Nem sempre o faz, acrescenta. Não há, ainda assim, uma consistência global. Há actuação "pontualmente muito boa, pontualmente razoável, há muita variabilidade". Há quem sugira, por outro lado, que a AICEP devia melhorar, nomeadamente, a sua rede interna, conforme actuou ao nível da externa. É preciso estar nos países de destino das exportações, mas também onde estão as empresas no território português, e uma actuação com as associações sectoriais.
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