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Diz-se que comprar casa é, em regra, um processo emocional. Contudo, para quem se aventura nestas lides, os últimos tempos podem parecer mais difíceis.
"Há um desajuste entre a oferta e a procura actual", diz Ricardo Sousa, CEO da Century 21 para Portugal e Espanha em pleno "Observatório: o imobiliário em Portugal", realizado a 14 de Setembro. Fazia-se então um "raio-X" do sector imobiliário em Portugal quando se identificou a sua principal maleita: a falta de oferta a preços comportáveis pela maioria das famílias nacionais. "Há uma necessidade de oferta", confirmou.
É uma pressão que se faz sentir sobretudo em Lisboa e no Porto, onde os projectos de habitação que surgem nas periferias estão a deixar de ser suficientes. Onde está a solução? "É fundamental que a construção, que as obras novas regressem", aponta Ricardo Sousa. E que grandes investidores constituam carteiras de imóveis para arrendamento, porque a escala permite minimizar riscos e assegurar rentabilidade, mesmo com rendas mais baixas.
Os dados da avaliação bancária divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística em Junho mostram que cada metro quadrado em Lisboa custa mais de dois mil euros: 2.115 euros. O valor quase duplica a média nacional, que é de 1.111 euros, e representa uma subida superior a 300 euros em três anos.
Em Lisboa, também o turismo tem contribuído para esta realidade, com a reabilitação e a conversão de casas em alojamento local, destinado aos turistas. Com a absorção do centro pelo turismo e um perfil de compradores mais "premium", as famílias vêem-se obrigadas a procurar na periferia. "Até aí já há uma clara falta de oferta disponível. A inflação dos preços também já existe fora das cidades", caracteriza o CEO da Century 21.
Mas não basta Lisboa. É preciso pensar no país como um todo para traçar medidas para o sector. "É fundamental definirmos a nossa estratégia. O que está a acontecer é o mercado a funcionar sozinho", apela Ricardo Sousa. O mesmo mercado que, nas contas da Century 21, pende 20% para os estrangeiros e 80% para os portugueses, o seu "motor".
No Teatro Thalia, durante o terceiro "Observatório: o imobiliário em Portugal", houve também tempo para falar do problema da habitação na Invicta. "Há uma camada média onde não existe oferta de habitação", reconheceu Rui Loza, vereador para o Urbanismo da Câmara Municipal do Porto.
O município é responsável por 14 mil fogos de habitação social, com rendas a rondar os 60 euros, explicou. Satisfeita esta faixa, diz, urge dar um novo passo rumo à classe média. "É necessário criar mais medidas para gerar mais oferta de custos acessíveis com escala expressiva", defende.
Uma tarefa de que a própria autarquia não se pode desligar. Como fazer então? O primeiro passo é administrativo. "Se favorecermos a criação de parcelas T2/T3, já estamos a entrar num terreno de atrair famílias", respondeu.