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"Professores" da SJ Têxteis ensinam a sobreviver no século XXI

A empresa de Viana, com 25 anos de vida, só vende para o estrangeiro. Os administradores dizem que a chave está na mais-valia do produto em vez da quantidade.

29 de Março de 2016 às 00:01
Paulo Duarte
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Jaime Pereira e Manuel Sousa não estão habituados a dar entrevistas. Mas sabem tudo o que há para saber sobre têxteis, com décadas de experiência acumulada. A conversa com o Negócios acabou por ser uma aula, sobre os desafios e vantagens do sector nos dias de hoje.

Os empresários eram donos de  duas unidades que uniram, há 25 anos, para criar a SJ Têxteis, em Barroselas, Viana do Castelo. E o gosto pelo têxtil é evidente em tudo o que dizem, até na análise que fazem sobre as razões que levaram à célebre crise do sector. "As empresas enormes que fazem um produto têm que vender o produto que fazem. São estanques. E isso foi a morte do mercado da têxtil nacional. Estas sociedades tinham todas as fases [de produção] e só podiam vender aquilo que produziam. Mas se um cliente chegasse lá a pedir outras coisas já não havia teares", detalhou Manuel Sousa.  

Empresas como a SJ Têxteis  aprenderam com isso. "O mercado especializou-se  e se  precisa de malhas eu forneço-lhe todas as que quiser. Vou comprar esse produto a indivíduos que só produzem malhas e têm toda a gama de máquinas", explicou o administrador da sociedade. E garantiu que "as empresas bem dimensionadas, que estão bem de vida, normalmente estão especializadas".

A SJ Têxteis vende sobretudo para o Norte da Europa, com especial preponderância para o mercado inglês, 60 ou 70% das vendas. A empresa, que exporta 100% do que faz, está agora na corrida ao mercado alemão. "Eles fugiram muito para o Oriente, o  que não era muito comum. Os ingleses já foram há mais tempo e voltaram. E hoje em dia a etiqueta ‘made in’ Portugal já tem uma mais-valia", garantiu Manuel Sousa.

Estar preparado para o "passado"

Na fábrica , com cerca de 80 trabalhadores, na sua maioria mulheres, nota-se que a SJ Têxteis tem vindo a investir na produção. Jaime Pereira mostra as máquinas novas e também as antigas, que são necessárias, porque, por vezes, os tecidos usados em outras décadas voltam a estar na moda e nem sempre as empresas estão equipadas para lidar com isso.

Entre os novos projectos, a SJ Têxteis está a apostar  agora numa colecção própria. Mas não numa marca própria. "O que nós abrangemos é 10% do que uma loja tem lá dentro. Por isso é que os sapatos quase todos têm marcas. Com uma fábrica de sapatos, pode montar-se uma loja para vender sapatos", explicou Manuel Sousa. No caso da têxtil, é mais complicado e a SJ tenta colocar uns toques na colecção própria, mas indo sempre ao encontro do que os clientes querem. "A aposta em fazer isto tem como objectivo ter ainda mais peças nossas. Envolve custos e gastos grandes em milhares de peças por ano. Fazemos 600 e tal mil peças por ano", contou Manuel Sousa. Jaime Pereira acrescentou que a SJ Têxteis até já produziu mais peças, mas que a facturação agora está a crescer.

A chave está no valor acrescentado das peças, vendidas em lojas e armazéns britânicos.  Além da Alemanha, a SJ Têxteis está a tentar posicionar-se no mercado americano. Mas não é fácil, dadas as condições actuais. "Tem que se ter uma dimensão consideravelmente grande para estar exposto ao mercado dos EUA. Há uns anos sobrevivia-se com uma pessoa só  para um cliente. Hoje é preciso muitas. E o próprio indivíduo que está a meter a mercadoria dentro dos cartões para expedir tem que ter muita especialização. Mas é bom que seja assim", explicou Manuel Sousa.   

A SJ Têxteis facturou 7,5 milhões de euros em 2015, "tudo para exportação", detalhou Jaime Pereira. As vendas desceram cerca de 5%, mas nada que desanime os empresários, habituados às flutuações do sector.  

"A mercadoria já estava feita. Normalmente o fim do ano para nós é no início de Dezembro. Muitas vezes pedem-nos depois para mandar as coisas só no início de Janeiro" contou Manuel Sousa. Para este ano, as previsões são boas, "contamos crescer ligeiramente", salientou o mesmo empresário. A SJ Têxteis tem agora a meta da atingir 10 milhões de euros num futuro próximo.

Os empresários não estão disponíveis para baixar muito os preços, nem para entrar num segmento mais baixo. "Pode fazer-se muito bons negócios, baixando um bocado [o preço]. Mas vai criar uma falsa expectativa a uma marca que vai querer começar a baixar mais", referiu Manuel Sousa. O futuro está, pelo contrário, em vender mais caro.

cotacao As empresas enormes, que fazem um produto, têm que vender o produto que fazem. São estanques. E isso foi a morte do mercado da têxtil nacional. Manuel Sousa Administrador da SJ Têxteis
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